Os desafios da “Cimeira de Paz” na Ucrânia

1 semana atrás 36

No próximo mês de junho, entre os dias 15 e 16, o mundo vai acompanhar a cimeira de paz para a Ucrânia que vai realizar-se na Suíça. A ideia surgiu em janeiro, após a bem-sucedida visita de Estado de Zelensky à Suíça.

Para a iniciativa helvética foram convidados 160 países, com nações de todos os continentes, incluindo a EU, G7, G20 e BRIC (com a exceção da Rússia). Aparentemente, e infelizmente, poderão existir várias faltas de comparência. Todavia, a cimeira em Lucerna poderá ganhar peso diplomático, uma vez que os líderes do G7, incluindo o Presidente dos EUA, Joe Biden, já deram sinais de poder vir a estar presentes.

O objetivo é muito virtuoso: delinear um roteiro para futuros esforços de paz na Ucrânia. É um primeiro passo, mas parece-me óbvio que qualquer esforço de paz só tem uma consequência efetiva se as duas partes, a Rússia e a Ucrânia, tiverem a disponibilidade para esse esforço.

Infelizmente, e sem nenhuma surpresa, assim que foi anunciada a intenção do governo suíço em promover esta cimeira da paz, as autoridades de Moscovo fizeram saber da sua indisponibilidade para participar, o que deixa muito evidente que esta guerra está para durar. Ainda assim, eu entendo que os promotores da cimeira de paz deviam ter endereçado oficialmente um convite a Putin.

O que defendem a Rússia e a Ucrânia para terminarem a guerra?

A Ucrânia defende a retirada de todas as tropas russas do seu território, a restauração da integridade territorial ucraniana, a libertação de todos os prisioneiros de guerra e deportados, bem como a punição dos responsáveis por crimes de guerra.

Do lado russo, é exigido a desmilitarização e o estatuto de neutralidade da Ucrânia, bem como a concessão de território ucraniano à Rússia.

É evidente que qualquer acordo de cessar-fogo ou tratado de paz tem de envolver a Rússia. Mas terá de existir o cuidado por parte da comunidade internacional para que não se dê a repetição dos acordos de Minsk, negociados em 2014, sob os auspícios da França, da Alemanha e da OSCE para pôr fim ao conflito na região de Donbass, e que há muito se tornaram sinónimo de fracasso.

Esta cimeira de paz ocorre quando a Rússia acredita que está a caminho de uma vitória militar. Nas últimas semanas, as tropas de Moscovo têm conseguido pequenos avanços na linha da frente militar no leste da Ucrânia e por isso a Rússia não acredita que tenha de negociar.

Nos últimos meses temos assistido a diferentes impasses no apoio militar à Ucrânia. Prova disso foram os longos meses de bloqueio do Congresso dos EUA ao pacote de 61 mil milhões de dólares de ajuda à Ucrânia. O problema é que esses impasses têm uma relação direta com o sucesso da operação militar no terreno, o que explica os recentes avanços russos em território ucraniano.

A China já avisou que não participará se a Rússia não estiver representada na cimeira de paz.

Esta semana Xi Jinping regressou à Europa, a um mês da cimeira de paz e cinco anos depois da última visita. Um dos temas que estará na agenda será a guerra da Rússia na Ucrânia. É certo que os responsáveis da UE estão cada vez mais céticos quanto ao papel que Pequim – o aliado mais importante de Moscovo – pode desempenhar em qualquer processo de paz futuro, mas Macron não deixará de voltar a fazer um último esforço.

Quanto à cimeira de paz, penso que a verdadeira finalidade dos seus promotores passa por tentar alargar o apoio ao maior número possível de países não ocidentais à Ucrânia. Espero que, pelo menos, esse objetivo seja atingido.

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