O SC Horta vive dias complicados. Bastante complicados. Apesar de estarem no Grupo A e atravessarem uma boa fase da temporada, o conjunto açoriano não sabe, sequer, se a equipa sénior masculina vai continuar na próxima época, independentemente do desfecho relativo a 2023/2024. O alerta chegou ao mundo de andebol pela mão dos jogadores do plantel, que emitiram um comunicado nas redes sociais onde explicaram que estavam dispostos a ouvir propostas relativamente a outros projetos em 2024/2025, depois de um ano em clara evidência na Divisão de Honra, assumindo o estatuto de «equipa sensação». Não há forma de o esconder e já vamos explicar porquê. Vamos por partes. Como é que o clube chegou a esta situação de incerteza no que toca ao futuro, apesar de todos os resultados demonstrados? «O SC Horta já tem problemas estruturais há bastante tempo. Aliás, quando eu chego como treinador, um dos meus objetivos, juntamente com a direção, passava por criar estabilização nas mais diversas vertentes, seja financeiramente ou a nível da formação. Era necessário mudar o paradigma em comparação com os últimos 15 anos», começou por referir. «No entanto, este ano existiu uma grande alteração, pois deixámos de ter uma direção no verdadeiro sentido da palavra. No início do ano não se conseguiu elaborar uma lista. Ou seja, o clube está a ser gerido por uma Comissão de Gestão até agosto. Aperceberam-se de todos os problemas que persistem do passado, alguns provenientes da altura em que participaram na Taça Challenge, em 2006. Estão preocupados, como é óbvio», acrescentou. Pedro Silva retirou-se no SC Horta @FAP «Até ao momento em que estamos a falar (dia 13 de maio), não existiu qualquer contacto de elementos superiores. Os jogadores pediram uma reunião à Comissão de Gestão (...) A solicitação surgiu posteriormente ao comunicado. Queríamos expressar as nossas preocupações e receber algum tipo de resposta mais concreta. Esse é o grande problema. Os problemas do passado já tínhamos presentes na nossa cabeça, mas, por exemplo, as últimas três épocas a nível financeiro estão concluídas. Uma coisa é termos problemas, outra é não sabermos o que será o futuro», confidenciou. Tal como já referido anteriormente, o SC Horta luta para subir ao principal escalão do andebol português e os resultados demonstram isso mesmo. 35 pontos na segunda fase (a três da liderança). Três derrotas nos últimos 14 jogos, todas elas fora de portas. Se alargarmos a contagem para o início da época, observamos que os adeptos açorianos só presenciaram três derrotas - contra Boavista, Xico Andebol e Almada AC. «É difícil. No entanto, temos um grupo muito ambicioso e profissionais de excelência. Costumo dizer que temos de trabalhar para atingir patamares que o SC Horta 'não nos pode dar' (...) Sem dúvida que é o melhor grupo de trabalho em que estive inserido durante 28 anos. Já tinha dito isto no passado: se aparecer aqui um investimento árabe com um milhão de euros, não vão conseguir criar um grupo como este. Podem ir buscar os melhores treinadores ou jogadores em termos de qualidade. Tenho a certeza absoluta que não chegam a este patamar», desabafou, antes de apelidar os atletas de «heróis». «Fui atleta profissional vários anos e 99 por cento das equipas já teriam deixado de treinar há muito tempo. Se nós fizéssemos isso, íamos sair prejudicados e somos a parte que menos merece. Desde o início do ano que nunca paramos de trabalhar. Os atletas dedicam-se imenso e era fácil dizermos que não tivemos condições para tal, sobretudo nos últimos cinco/seis meses (...) Queremos honrar o símbolo durante estas semanas que faltam. Se não vencermos, não será por falta de trabalho, dedicação ou treino. Será porque os outros foram melhores que nós», explicou. Miguel Gomes voltou à Ilha @CB Huesca «Estão a... 'cair no erro de subir'. Quando digo erro é porque não estava nos planos. Acho que seria inédito, impensável (...) Mas sejamos realistas: a subida é um cenário complicado, claramente difícil, pois estamos inseridos num campeonato equilibrado. (...) Antes da época, se colocarmos este cenário numa folha, discutirmos todos, ninguém acreditaria, em Portugal ou no mundo. Só dependemos de nós, é verdade, mas acho que a palavra heróíco encaixa perfeitamente», acrescentou. O futuro é incerto quando faltam apenas quatro jornadas para a prova chegar ao fim. No entanto, isso não afastou os adeptos açorianos do Pavilhão do SC Horta, sempre em bom número. «Lembro-me da bancada estar sempre cheia nos jogos com o Benfica ou Belenenses, por exemplo. Não havia espaço para mais ninguém. Só que nos últimos anos, fruto do distanciamento das equipas, principalmente da equipa sénior com a comunidade local, isso deixou de acontecer. O meu objetivo era aproximar a equipa dos miúdos, da comunidade. Temos tido um apoio bastante bom. É pena porque a RTP só mostra os primeiros cinco/dez minutos e, aí, as bancadas ainda estão algo vazias porque as pessoas estão a entrar [risos]. Não digo casa cheia, mas bem composta, um cenário que não tenho visto em muitos sítios», referiu. Quem se pode afastar, no entanto, são alguns jovens atletas, ainda sem propostas para ingressar noutro tipo de projetos... «Sem abrir muito o jogo, posso confidenciar que existem jogadores com abordagens para sair. O facto de estar a correr bem dá-nos alguma visibilidade», disse. SC Horta já viveu momentos de glória @Federação de Andebol de Portugal «Possivelmente vão deixar de jogar. Lá está, temos jogadores de outros países que se não aparecer nada... O que me preocupa são os timmings. Se toda a gente soubesse mais cedo que o projeto não ia continuar, provavelmente já tinham arranjado soluções. Sabemos como funciona o mercado das modalidades, não só no andebol, mas no desporto em geral. A maior parte dos clubes já tem plantéis fechados e alvos definidos. As únicas exceções são soluções de recurso devido a possíveis lesões», confidenciou. Faltam algumas semanas para o fim oficial relativo a 2023/2024. O SC Horta viveu uma autêntica montanha-russa de emoções numa altura em que comemora 100 anos de existência. «Tenho esperança que tudo se resolva. Lá no fundo tenho. Só quero que chegue o dia 16 de julho porque é preciso parar e refletir muito. Ser no ano do Centenário magoa muito. Sim, sem sombra de dúvidas. Obviamente que ninguém quer fazer 100 anos e estar nesta situação. Estamos a falar de um clube histórico, com um peso significativo nos Açores e que é o maior representante da Ilha há vários anos. Seria muito triste se o projeto terminasse ou mudasse para um paradigma que não honrasse a história do clube nesta modalidade», explicou. SC Horta Divisão Honra Andebol Fase Final Grupo A 23/24 O SC Horta espera. Os jogadores esperam. Não sabem quando vão ter uma resposta oficial relativamente a uma situação insólita no andebol nacional. Deslocam-se, no próximo sábado, até ao terreno do Xico Andebol, cujo objetivo passa por tentar conquistar mais três pontos. A subida ali tão perto. *O zerozero tentou obter uma reação por parte da Comissão de Gestão, no entanto, não teve resposta à data da publicação desta notíciaOs «heróis» da história
E agora?
100 anos!