Os ingredientes secretos da transformação da Zomato em Dig-In

8 meses atrás 69

Foi no final de novembro que a Zomato anunciou que passaria a ser Dig-In. Um processo de rebranding que vem acompanhado de uma nova versão da app. Para os utilizadores, o processo de degustação permanece imutável, mas esta mudança já vinha a ser cozinhada há três anos. Em entrevista, por email, à Exame Informática, Nuno Fernandes, CEO & Founder da Dig-In, explica o passado, presente e futuro de uma empresa que tem o objetivo de melhorar as experiências gastronómicas dos amantes de comida.


Exame Informática: Esta transição de Zomato para Dig-In foi mais do que um rebranding. Pode explicar o que mudou do ponto de vista de negócio? Tinham uma ligação com a Zomato internacional que acabou? Está relacionada com as transformações que a própria Zomato internacional foi sentindo?

Nuno Fernandes: A Zomato iniciou a sua atividade enquanto plataforma de descoberta de restaurantes na Índia em 2008. Devido ao seu carácter inovador conheceu uma rápida expansão, chegando a vários mercados e iniciando a sua operação em Portugal em 2014. Portugal foi desde cedo visto como um caso de estudo devido à relação que os portugueses têm com a restauração (já estamos a falar sobre onde vamos jantar quando estamos a finalizar o almoço) e à elevada adoção de tecnologia por parte dos utilizadores. Vários serviços foram lançados de forma pioneira no nosso mercado, como as reservas, pagamentos e inclusivamente sistemas de fidelização. Em 2020, devido à pandemia, a Zomato a nível central foca-se primariamente na sua componente de logística e entregas ao domicílio, e inicia um processo de integração em bolsa, na Índia. Em resultado desse foco no mercado indiano e numa vertical única, a equipa de gestão em Portugal assume um processo de MBO [de Management Buy Out ou compra da empresa pelos próprios gestores] e inicia a Zomato Portugal, fruto do conhecimento, quota de mercado e capacidade dos membros da sua equipa, constituindo-se ao dia de hoje como uma entidade completamente independente da Zomato.

Nuno Fernandes, CEO & Founder da Dig-In

Como se processou o negócio, já que a Dig-In continua a operar em Portugal com a base de clientes que a Zomato tinha? A Dig-In teve de pagar alguma quantia? A Zomato fica impedida de funcionar em Portugal em nome próprio durante algum tempo?

A Zomato terminou a sua operação no mercado português e a equipa local uniu-se numa nova entidade, ficando com o “empréstimo tecnológico” das soluções existentes e com o direito de utilização do nome da marca. Ao longo dos últimos 2 anos foram feitas as migrações tecnológicas, adaptação de verticais e ajuste para uma nova visão, mais centrada na valorização dos dados e na digitalização do setor. Com a concretização do rebranding não existe qualquer vínculo contratual com a Zomato.

E quais as razões que levaram à aposta nesta mudança de Zomato para Dig-In?

Essencialmente três motivos. Em primeiro lugar, percebemos as diferenças entre mercados e acreditávamos que determinadas soluções e abordagens no mercado indiano não teriam o mesmo tipo de relevância em mercados europeus, nomeadamente o português. Em segundo lugar, acreditamos que o foco único na vertical de ‘delivery’, é interessante, mas limita aquilo que poderia ser a nossa proposta de valor. E por último, face à qualificação da equipa e à experiência da mesma, queríamos apostar em soluções diferentes que, nomeadamente, tirassem partido da extensa informação que recolhemos, para poder otimizar o negócio da restauração, das marcas parceiras deste setor e dos consumidores. A Dig-In surge como um facilitador de todas as experiências gastronómicas. Temos uma nova imagem, uma nova cara, uma comunicação mais disruptiva e mais próxima dos consumidores, aproximando sempre os nossos utilizadores aos nossos parceiros (restaurantes, clientes e marcas).

Como é a estrutura atual da Dig-In em termos de recursos humanos? Houve alterações a nível de cargos de chefia? E nas restantes funções: todos os funcionários se mantiveram? Contrataram, despediram?

A atual direção é composta integralmente por colaboradores da “antiga” Zomato. Depois do MBO iniciámos a nossa operação com cerca de 20 elementos, sendo que hoje somos mais de 30 colaboradores.

As mudanças na app foram feitas internamente pela vossa equipa? Ou têm alguma empresa contratada para ajudar no redesign da aplicação?

O nosso processo de migração, utilizadores e tecnologia, teve vários momentos. Numa primeira fase recorremos a equipas especializadas para recolher e estruturar a informação, feedback de utilizadores e restaurantes. Esta última migração foi realizada pela nossa equipa tecnológica e de desenvolvimento e já se traduz num salto qualitativo da experiência do utilizador, ao invés de uma réplica da solução anterior. Tanto a nível de produto como de tecnologia foi feito um incrível trabalho, e provou a capacidade desta equipa 100% nacional.

Que outras funcionalidades, ofertas e afins estão a planear para esta nova vida?

A Dig-In continua a ser a plataforma de descoberta de restaurantes mais usada em Portugal e será sempre o nosso foco que continuemos a ser a que oferece a experiência mais completa e abrangente, tanto para utilizadores como para os restaurantes que nela estão inseridos. Temos várias funcionalidades novas previstas para o segundo semestre de 2024 e para 2025, com vista em desenvolvimentos de novos produtos, adaptando e acompanhando sempre o crescimento e tendências de mercado. Continuaremos a ser a plataforma mais inclusiva, com toda a experiência gastronómica dentro de uma só app. Não podendo ainda revelar quais são, podemos dizer que vão tirar partido das diferentes integrações que temos, da nossa diversidade de dados e do recurso a Inteligência Artificial, para garantir que algumas funcionalidades mais “tradicionais” ganham uma experiência completamente diferenciadora.

Como tem sido a adesão de novos utilizadores e a reação dos utilizadores que já possuíam?

Tem sido ótima! Um processo de mudança traz sempre questões e é impossível agradar a todos os utilizadores. Lembro-me em 2014, depois de lançarmos, de as pessoas dizerem, “o que raio significa Zomato?” ou “João Matos”, ou inclusivamente dizer que devíamos mudar de nome por não ter qualquer relação com comida. Acredito que as marcas se constroem ao longo do tempo e vão ganhando novos significados. Acho que a nossa estava no momento ideal para crescer e se consubstanciar como algo diferente, e a nossa equipa de marketing fez um excelente trabalho nesta “mudança de pele”.

Quais os planos da empresa a nível de receitas e crescimento para este ano? E mais a longo prazo?

Para este ano o nosso objetivo passa por dobrar a faturação e chegar com maior capilaridade a diferentes zonas do país. Temos algumas parcerias estratégicas celebradas e com a equipa, a experiência e produto certos para o fazer. O desafio passa por equilibrar a atividade divulgação das nossas soluções, com a capacitação e educação de fundo do setor, algo que para nós é, e continuará a ser, um tema central.

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