Os níveis de aprendizagem dos alunos

1 semana atrás 35

O foco principal da escola são as aprendizagens dos alunos e a sua qualidade. Este é o objecto principal da escola. Por muito que, a propósito da escola se fale dos professores, o alvo principal é a aprendizagem e mais concretamente aqueles que são os recetores desse ensino e que concretizam a aprendizagem.

A ideia generalizada de que é necessário recuperar as aprendizagens perdidas no tempo da pandemia do covid-19 torna turva a problemática que se centra na qualidade das aprendizagens, ou se quisermos nos níveis de aprendizagem. Quem está na escola todos os dias, percebe claramente que os alunos, em qualquer que seja o ciclo de ensino, estão mais atrasados nas aprendizagens e no desenvolvimento de competências básicas.

Existe a generalização de que adquirir uma competência é saber desempenhá-la a um nível satisfatório, estar, portanto e apenas, adquirida. Também está enraizado de que é "normal" ter negativas. É normal não ter positiva a tudo e, ter positiva, significa para a grande maioria ter um nível 3. Já é bom, na realidade já é bastante bom. Bastante bom não corresponde ao nível 3 mas a um outro patamar de qualidade da aprendizagem. Uma coisa é ter sucesso, outra dentro dela é, qual é a qualidade desse sucesso? E como se motivam os alunos para que desenvolvam as competências a níveis para além dos adquiridos? A escola sozinha pode fazer alguma coisa? Com certeza que sim, mas fará muito melhor e de uma forma mais duradoura se o fizer em parceria com a família. Quando a dupla família/escola rema para mesmo lado, a sustentabilidade da ação implementada tem outro impacto, ao nível da importância, do significado e da durabilidade.

O que significa qualidade? Qualidade tomará significados diferentes e valores diferentes dependendo das lentes pelas quais se olha para o objectivo traçado. Na maioria das vezes referimo-nos a alguma coisa muito boa, excelente mesmo, com um efeito magnífico e que quem a tem é considerado genericamente superior.

Os níveis de aprendizagem dos alunos dependem da sua motivação para aprender, daquilo que lhes é fomentado em casa, pela família, da abordagem que é feita pelo professor na sala de aula, do grau de envolvimento do grupo-turma, dos instrumentos e recursos utilizados e do grau de significado individual e colectivo dessas aprendizagens. E ainda mais da relação pedagógica, empática, estabelecida com o professor. As aprendizagens essenciais desdobram-se ou estendem-se por mais do que um domínio, conferindo assim, diferentes níveis de apropriação dessas mesmas aprendizagens.

A grande frase feita de que "para que é que isto serve?" proferida pelos alunos a alguns ou a quase todos os professores, é a chave para a subida de nível. O para quê faz, na realidade todo o sentido. A dificuldade está em muitas vezes conseguir fazer passar essa necessidade ao nível da sua capacidade de entendimento, quero dizer, da sua maturidade.

O contentar-se com o suficiente e aceitar como normal umas quantas negativas é banalizar a mediocridade, perpetuar os desníveis e não priorizar os estudos como futuro a médio e longo prazo. É sabido que a escola e a educação facilitam mais oportunidades e uma vida melhor. Hoje em dia, as evidências levam-nos a concluir que os alunos não entendem a educação dessa forma, mas antes como um tempo da sua vida em que tem que estar na escola à espera de poderem ter um emprego que lhes dê dinheiro para poderem ter uma vida melhor, e que essa vida melhor não passa pelos estudos. Não é preciso estudar para ter uma vida boa.

Para as escolas conseguirem apresentar níveis de aprendizagem mais do que satisfatórios, tendem, na maioria das vezes, a baixar a fasquia e a considerarem de nível Bom ou Bastante Bom aquilo que não passa apenas, na realidade, de Satisfatório, ou até inferior. A grande verdade é que o acesso das famílias a um nível de vida de "qualidade" leva a quererem para os seus filhos uma educação e escolarização com maior exigência, de "qualidade".

A recuperação das aprendizagens não se fará por decreto, mas, talvez, pelo investimento conjunto numas quantas premissas indispensáveis para que a aprendizagem de qualidade aconteça, a começar pelo comportamento adequado individual e de grupo, respeito por si e pelos outros, querer fazer "bem feito", normas básicas de civilidade, entendimento do objectivo do para quê ir à escola. O gosto pelo saber, tal como no nosso tempo, será sempre só para alguns, para muitos, a obrigação, o esforço sem qualquer prazer em troca, é uma verdade inquestionável, presente todos os dias e que norteia o início da constatação que é preciso trabalhar, com esforço, rigor e afinco, mesmo o que não se gosta, para se viver e ir fazendo caminho.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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