Um desses entusiastas é Viktor Galustian, nascido há 61 anos em Baku, capital do Azerbaijão, então uma das repúblicas soviéticas, que apesar de não ter instrução musical, toca viola e compõe os seus próprios temas.
"Sou músico amador, toco viola, tenho amigos cantautores e eu próprio sou um deles. Houve uma altura que ensinei crianças a tocar viola e logo pressenti que precisava de algo mais para aumentar a sua erudição musical. Por isso, pus-me a ouvir não só canções em russo, mas também em francês, inglês e português, entre outras", contou à Lusa.
Lembrou que a sua mulher andava "apaixonada pela música flamenca e dançava flamenco num colectivo amador", o que fez despertar Viktor para o som da guitarra naquele género musical associado à província espanhola da Andaluzia.
"Comecei a distinguir novas entonações musicais, as da guitarra portuguesa, por exemplo, que não se compara a nada. A princípio, quando comecei a ouvir fado, nem dei conta do que estava a chegar aos meus ouvidos. Foi então que a minha mulher e eu decidimos viajar para Lisboa, para ouvi-lo na sua terra", referiu.
Desse encontro nasceu uma ligação ao género musical que ainda persiste e leva Viktor e outros compatriotas a juntarem-se regularmente no Centro Cultural Iberoamericano sediado na Biblioteca de Línguas Estrangeiras de Moscovo, em serões em que se contam lusos, à música, à história, num ambiente que tem sempre por pano de fundo a música portuguesa.
"Houve um tempo em que um casal amigo promovia festivais de fado em Moscovo, e acontece que através dele entrei na compreensão da música lusófona, designadamente, da brasileira. Se, em 2005, o nome de Teresa Cristina nada me dizia, em 2015, ao voltar a ouvi-la, tomei consciência do fenómeno musical que ela protoganizava. Daqui, viajei para a música caboverdiana: Césaria Évora, Nanci Vieira... E assim se fechou o círculo da música lusófona, do qual não saio há uns 10 anos", contou.
Viktor, que é formado em Engenharia de Automatização da Produção, não hesitou em passar as suas descobertas a outros compatriotas.
"Quando vinham a minha casa, punha fados no gira-discos e dizia-lhes que iam ouvir algo a que não estavam habituados. Realmente, faziam-me depois muitas perguntas: 'que é isto, quem são os cantores, que leis da música abraçam?'."
"Não sou musicólogo, mas a verdade é que contagiei muitos amigos com a minha paixão. Convidava-os também para os concertos do tal casal amigo para ouvirem fado ao vivo. Acho que posso dizer que arrastei para o amor ao fado umas 50 pessoas", congratulou-se.
Depois de ouvir cantar o fado em Lisboa, Viktor e a mulher sentiram que ficaram "a conhecer a música, o povo, o país".
"Gostamos imenso de tudo em Portugal. A minha mulher costuma dizer que estivemos em várias cidades europeias, mas foi em Lisboa que deixámos parte do nosso coração. Conhecemos amigos dos nossos amigos em Lisboa que conheciam a simpaticíssima Nancy Vieira. Pediu-nos ela que trouxéssemos um seu disco recém-editado para o promover na rádio russa. Senti-me um embaixador da música lusófona", lembrou.
Viktor tem mais projetos para divulgar a música portuguesa: "As conversas com os amigos transformaram-se num ciclo de três palestras-concertos, que estou a apresentar em várias bibliotecas de Moscovo".
"Já concluí essas sessões em três bibliotecas, estou agora em conversações com mais uma, que está disposta a disponibilizar um espaço para o efeito. Claro que é melhor ouvir a música do que ouvir o que eu conto sobre ela. Espero que um dia seja possível aos cantores lusófonos apresentarem-se na Rússia, e nós ouvi-los", afirmou à Lusa.
O cantautor afirma querer conhecer melhor Portugal, destacando que Lisboa é magnética: "Sentimo-nos tão bem em Lisboa, que não conseguimos sair para mais lado algum. Depois, a língua é bonita, apetece-nos aprendê-la", admitiu.
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