Palancas Negras em busca da história: «Fazer o que nunca foi feito»

8 meses atrás 68

Em 2015, Pedro Soares Gonçalves partiu para uma nova aventura em termos profissionais. Após múltiplos anos a treinar os escalões de formação do Sporting, o técnico lusitano seguiu para Angola, onde abraçou o projeto do 1º de Agosto. 

O bom trabalho realizado nos sub-15 e sub-17 valeu-lhe uma oportunidade nas Camadas Jovens da seleção angolana e, posteriormente, na equipa principal. Depois de seis anos no comando, em antevisão ao CAN, o técnico de 47 anos mostrou-se ao zerozero orgulhoso pelo trabalho desenvolvido.

«O objetivo a que nos tínhamos proposto, que passava por colocar Angola nas grandes competições continentais, está a concretizar-se, desde a chegada à fase final do CHAN [Campeonato Africano das Nações] e do CAN. Estamos a ser cada vez mais competitivos. Quando olhamos para trás percebemos que as coisas mudaram para melhor», referiu ao nosso portal.

@ATTA KENARE/GETTY

Contudo, nem tudo é um conto de fadas: «Em termos de progresso, não está a ocorrer ao ritmo que nós pretendíamos. No entanto, a retrospetiva é positiva. Basta analisar a quantidade de jogadores que promovemos e que no futuro trarão retorno à seleção, bem como a quantidade de jovens angolanos que agora atuam na Europa, ao mais alto nível.»

Meta: acabar com o enguiço histórico

Apesar das claras melhorias, os Palancas Negras, historicamente, não têm obtido os melhores resultados na CAN. Nos 26 embates que já realizaram na prova ao longo dos anos, apenas venceram quatro, nunca tendo somado um triunfo na fase eliminar. Para além disso, a fase de grupos foi apenas superada em duas ocasiões - 2008 e 2010

@DANIEL BELOUMOU OLOMO/Getty

Segundo o técnico de 47 anos, o registo será então a base para a definição dos objetivos: «Vamos procurar fazer aquilo que nunca foi feito. Angola nunca conseguiu ganhar dois encontros numa fase final do CAN. Não vamos pensar nas diferentes fases da prova, mas sim no nosso histórico como meta

«Somos um país que ama o futebol, recheado de atletas talentosos. A verdade é que com a consistência que temos vindo a evidenciar podemo-nos propor a que, no mínimo, cada jogo seja para ganhar», acrescentou ainda.

Questionado sobre a filosofia da sua equipa, Pedro Soares Gonçalves admitiu que o modelo adotado vai «de encontro com as características dos jogadores»: Pelo perfil tecnicista e fantasista que eles têm, pretendemos implementar um estilo alegre. Gostamos de ter a bola e somos resilientes nas nossas missões defensivas.»

Uma estreia exigente: «A Argélia é fortíssima»

Estes fundamentos deverão ser implementados na estreia do seu conjunto na prova, agendada para o dia 15 de janeiro. O futuro adversário irá exigir uma exibição exímia por parte da seleção angolana, fruto do respetivo poderio.

«A Argélia historicamente é fortíssima, com jogadores de top-mundial. Para além disso, agregou um conjunto de jovens muito talentosos. Agora, é uma equipa muito consistente no paradigma defensivo e muito rápida nas suas transições ofensivas», realçou o mister.

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Porém, a receita para travar as dinâmicas contrárias já está a ser formulada: «Teremos que ser impermeáveis no nosso bloco defensivo, não permitindo que nos destabilizem com o seu jogo interior e exterior. É fundamental estarmos ativos, tanto numa filosofia posicional como de explosão, de forma a criar indecisão na defensiva contrária.»

Recorde-se que os Palancas Negras estão inseridos no grupo D, que contem, ainda, o Burquina Fasso e a Mauritânia. 

Os escolhidos: a ausência de Hélder Costa e os nomes familiares

No anúncio dos convocados de Angola para o torneio na Costa do Marfim, o principal destaque passou pela ausência de Hélder Costa. O avançado estreou-se em 2021 pela seleção, somando 12 internacionalizações, desde que foi convencido por Pedro Soares Gonçalves a integrar os trabalhos coletivos do país.

@AMA/Getty

«Ele estava determinado em representar Angola e fê-lo com muita convicção. Passou a ser uma referência da nossa equipa, pelo aporte histórico e momentâneo. É um jogador distinto, não só pela execução técnica, como também pela interpretação do jogo», realçou.

Existiram, então, razões extraordinárias para o atleta de 29 anos não fazer parte do lote: o experiente extremo está sem clube e, como tal, preferiu dar prioridade em procurar outro projeto para a presente temporada.

De realçar que quatro nomes presentes na convocatória jogam, atualmente, em território português. O selecionador de 47 anos deixou um curto parecer sobre a influência de cada um dos jogadores.

Convocado Comentário 
Kadú (FC Oliveira do Hospital) «O Kadú não é propriamente o guarda-redes que tem jogado mais connosco, mas é de uma dedicação inacreditável. Para além disso, possui um grande espírito de missão.»
Kialonda Gaspar (Estrela da Amadora) «O Kialonda Gaspar é já uma referência da nossa seleção. Quando foi para o Estrela era o capitão no Sagrada Esperança, já campeão no campeonato angolano. Desportivamente, cresceu muito e, neste momento, é um esteio da nossa equipa.»
Manuel Keliano (Estrela da Amadora) «O Manuel Keliano é um menino que eu apanhei com 13 anos, no Primeiro de Agosto. Apesar de ter agora 20, tem um potencial tremendo. Conta com uma grande facilidade de adaptação tática, mostrando-se sempre muito compenetrado.»
Beni Mukendi (Casa Pia AC) «O Beni Mukendi tem um longo percurso comigo, porque fizemos juntos a campanha no Mundial sub-17. Ele tem demonstrado todas as suas valências no primeiro escalão do futebol português, desde a sua interpretação tática, a sua execução técnica e eficácia. Está cada vez mais confiante.»

«O maior problema passa pelas condições de trabalho»

Apesar do compromisso, as dificuldades financeiras são assumidas pelos próprios dirigentes da Federação Angolana de Futebol. Em novembro, José Carlos Miguel, vice-presidente do organismo, assegurou que a participação na fase de qualificação para o Mundial 2026 estava em risco, sendo bastante explícito nas suas palavras: «A Federação está a gatinhar, está completamente coxa, estamos a fazer das tripas coração para podermos participar dessa dupla jornada.» 

qA minha expectativa é que os mínimos para uma equipa de alto rendimento desportivo sejam garantidos

Pedro Soares Gonçalves, selecionador de Angola

Questionado sobre as palavras proferidas, Pedro Soares Gonçalves foi perentório: «Temos vivenciado estes fatores na pele. A minha expectativa é que os mínimos para uma equipa de alto rendimento desportivo sejam garantidos. O maior problema passa pelas condições de trabalho. Estes jogadores têm sido excecionais, ultrapassando estas dificuldades sempre com boa disposição. A nossa ambição não para por estas complicações

Nota: O zerozero tentou chegar à conversa com os três selecionadores portugueses em prova. Infelizmente, Rui Vitória não quis prestar declarações.

Angola

Hélder Costa

NomeHélder Wander Sousa Azevedo Costa

Nascimento/Idade1994-01-12(29 anos)

Nacionalidade

Angola

Angola

Dupla Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Avançado (Extremo Esquerdo)

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