Paulo Pereira: «Adorava ver um dia o aeroporto entupido à nossa chegada»

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Paulo Pereira leva mais do que um desejo para o Torneio Pré-Olímpico que se vai realizar de quinta-feira a domingo, na Hungria. O selecionador nacional quer naturalmente carimbar o passaporte para os Jogos Olímpicos de Paris, o que a confirmar-se seria a segunda vez consecutiva, depois da presença em Tóquio, em 2021, mas deixou escapar algo que já anda "a visualizar há muitos anos" e quer ter uma daquelas receções apoteóticas no regresso da seleção a Portugal. 

De resto, fazer novamente história é o que move a Seleção que se prepara em Matosinhos para o que Paulo Pereira chama da "luta das lutas".

Sente a equipa preparada para mais uma batalha?
"Como já disse esta será a última luta das lutas, algo que já começou em dezembro quando iniciámos a preparação do Europeu. Foi isso que disse aos jogadores na mensagem que mandei agora nesta última convocatória para este Pré-Olímpico. É a luta das lutas e até acho que pouca gente tem consciência do que é para Portugal estar em dois Torneios Olímpicos consecutivos, algo que nunca aconteceu em desportos coletivos. São dois ciclos em que foi preciso primeiro fazer um excelente Mundial e agora outro grande Europeu, algo que é bem mais difícil. É preciso ter essa noção de valorizar o andebol e sobretudo o que esta equipa tem feito."

Que expectativas tem para este Torneio Pré-Olímpico?
"Levo sempre as melhores, claro, mas nós sabemos que não será a mesma coisa do que jogar em Matosinhos, no Rosa Mota ou em Lisboa com os nossos apoiantes. Lá vamos encontrar uns 16 mil húngaros a puxar pela sua seleção e aí uns cinco ou seis mil noruegueses, que acompanham muito a sua seleção. É mais uma vez uma questão de nos adaptarmos ao contexto que nos obriga a lutar contra o pré-estabelecido, mas assumimos que queremos ganhar e já esse princípio creio que é ótimo, pois podemos abordar a competição com a esperança que de que é possível conseguir o objetivo. Vamos ter uma sequência de jogos difícil, começando já com a Noruega, mas não nos podemos esquecer que nos últimos quatro jogos com a Noruega ganhámos um e foi isso que também transmiti aos jogadores na mensagem que lhes enviei. E pensarmos que por termos ganho o último vamos ganhar este pode ser o grande erro. Eles vêm com tudo e nós temos de ir com mais que tudo. Estamos a planificar muito bem este jogo e não pensamos nos jogos com a Tunísia e com a Hungria. Claro que eu já pensei nisso, mas a informação que é dada aos atletas é só da Noruega, que é o próximo."

Mas é difícil não preparar os três jogos num todo, uma vez que estamos a falar de três jogos de grande intensidade em todos os capítulos em apenas quatro dias…
"Certo e eu tenho os três jogos preparados, embora para os atletas isso não se passe, até porque temos um dia de intervalo e depois podemos pensar na Tunísia. Vamos preparar mais no plano teórico, muitas vezes o jogo fica preparado na sala do hotel. Felizmente já tenho e conto com o nível altíssimo de jogadores e às vezes são eles que sugerem o que fazer e se vir que a ideia é boa aceito de imediato, porque sei que o contrário seria um prejuízo para a seleção nós não aproveitarmos o talento e aquilo que os nossos atletas já sabem sobre o jogo. Antes não fazia isso, eu dizia e eles faziam, mas muitas vezes mal só porque eu disse… Agora também recolho informação deles e tem sido esta troca de informações que tem melhorado muito o nosso rendimento competição após competição. Já andámos aqui há muito tempo, já cá estou há oito anos e provavelmente vamos para dez e este grupo tem sido muito parecido, com algumas exceções porque temos que ir renovando e vão entrando mais jovens nesta dinâmica. Para mim tem sido um orgulho e um prazer trabalhar com este grupo de atletas que pode uma vez mais fazer história."

Esta seleção tem derrubado barreiras e é preciso não esquecer que chegou a estar 14 anos para voltar a uma grande competição, mas agora luta para voltar a estar nuns Jogos Olímpicos pela segunda vez consecutiva. Isto é um salto gigantesco…
"Sim e sobretudo na mentalidade. Também tem a ver com o facto de termos cada vez jogadores com melhor qualidade, com um talento enorme. A forma como nós estamos a tratar de melhorar esse talento é melhorar os fatores emocionais. A própria experiência faz com que eles melhorem porque já viram aquilo e vão voltar a ver. Tudo isso são formas de melhorar esses talentos. Não me esqueço que esta mentalidade já está a ser trabalhada muito atrás. Por exemplo, quando jogamos com a Alemanha em 2017 em Gondomar e estivemos a lutar até ao fim, quando tínhamos perdido por onze na Alemanha, lembro-me que que metemos uma música a tocar repetidamente do Leonard Cohen que era 'First We take Manhattan, then we take Berlim' e eles ouviram essa música 500 vezes durante a ativação para o jogo. Estes atletas ajudam-me imenso porque já têm esta mentalidade e eu quase já não preciso de fazer nada, porque foi algo que fomos adquirindo ao longo dos últimos anos. Agora é ir para a luta das lutas e oxalá eu possa viver aquele sonho que ainda não vivi em oito anos e que é ter uma receção no aeroporto extraordinária."

É isso que está a pedir ao público português?
"É isso, só isso e mais nada! É entupir o aeroporto, é isso que adorava ver um dia e é aquilo que eu imagino. Visualizarmos aquilo que queremos que aconteça dá-nos também aquela força para levantar de manhã cedo. Era chegar ao aeroporto e ter uma receção histórica, espetacular, ainda não tivemos nenhuma vez, excetuando a presença dos familiares e já fizemos muita coisa, mas nunca tivemos uma receção extraordinária. Visualizo isso quase todos os dias e oxalá que seja desta vez."

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