Pedro Moreira: «A decisão de nos separarmos veio do Paulo Fonseca»

1 mes atrás 28

O nosso convidado já fez Portugal de Norte a Sul enquanto treinador, esteve nove anos como adjunto de Paulo Fonseca e aventurou-se, recentemente, numa carreira a solo que já conta com passagens por Torreense e, mais recentemente, Casa Pia.

Nesta segunda parte da entrevista, Pedro Moreira recorda o período em que conviveu diariamente com Paulo Fonseca, a transição de adjunto para treinador e as dificuldades sentidas enquanto esteve na Ucrânia.

PARTE I: «Noite dos 8-0 em Alvalade foi a pior da minha carreira»

zerozero: Falava há pouco da possibilidade de ser treinador principal ou de continuar como adjunto. No momento em que se dá a saída da equipa técnica de Paulo Fonseca, é por iniciativa sua?

Pedro Moreira: Desde o momento em que eu entrei na equipa técnica do Paulo Fonseca, em 2012, eu também já tinha o UEFA Pro. Curiosamente, no primeiro ano em que trabalhamos, nas fichas de jogo até estava eu inscrito como treinador principal. A questão principal ali foi o que eu achei que era importante, depois de trabalhar num nível em que nós trabalhámos, começar como treinador a solo.

A decisão de nos separarmos veio do Paulo, essa questão foi uma decisão tomada por ele. Mas sempre, já há muitos anos, que todos temos esta ambição secreta, digamos, de continuar num trabalho a solo. Às vezes a grande dificuldade é podermos manter-nos no mesmo patamar onde estamos com ele. Essa pode ser a grande dúvida. O Nuno [Campos] também saiu da equipa técnica e também estava com os mesmos objetivos…

ZZ: No fundo, todo o treinador principal sabe que na sua equipa técnica isso vai acontecer.

PM: É por aí, mas isso também tem a ver com a nossa ambição. Nós preparamo-nos para algo, como é natural, e eu sentia-me plenamente apto e preparado para este objetivo de vida e carreira. Espero que agora venham mais sucessos pela frente.

ZZ: Disse que esteve um ano a preparar-se. Que preparação foi essa? Em que se focou?

PM: Antes de mais, avaliar realmente o que pretendia fazer, como é lógico. Depois, um pouco a questão de preparar à minha volta as pessoas que queria para trabalhar segundo os meus princípios. Criámos um grupo muito interessante, um núcleo de trabalho muito giro na análise de equipas, de tendências evolutivas que o jogo ia tendo ao longo dos últimos anos. Mudámos algumas questões, preparámos um modelo de jogo específico não só com as minhas ideias, que trabalhei com o Paulo, mas outras que tinha minhas e que foram partilhadas com a minha equipa técnica a partir desse momento.

Depois há as questões das caraterísticas dos jogadores, a tipologia, em que sistema é que jogavam, de que forma é que jogavam e qual a preferência em função dos espaços que podemos trabalhar. Portanto, acho que o que se viu, em especial na forma como o Torreense jogou desde que entrámos, foi um sinal relevante do que foi o nosso trabalho nesse ano. Mérito a quem tenho à minha volta, que ajudou imenso a que conseguíssemos esses resultados.

ZZ: Pegando nessa questão do Paulo: vê muito das ideias dele na sua forma de jogar?

PM: Tenho as minhas ideias, claro, mas houve muita coisa que bebi dele, como é natural. É uma referência. Foram nove anos de uma discussão constante, de preocupação e foco no pormenor, na organização de conteúdos e na participação ativa no dia a dia. Estamos a falar de um treinador top, de um nível de excelência até naquilo que consegue ver durante as próprias situações. Recordo-me, com imenso pormenor, da capacidade que o Paulo tinha de intervir ao intervalo e durante as situações de treino. Dou essa relevância muitas vezes no que foi a minha entrada na equipa técnica. Havia um foco muito grande no centro do jogo, no que se passava à volta da bola, e o foco principal que temos enquanto treinadores é o que se passa fora do centro do jogo. A zona da bola é um pormenor da organização que temos em volta dela.

Recordo-me dessa situação muito curiosa. No início da minha carreira, quando comecei a trabalhar com ele, era uma pessoa extremamente preocupada e metódica, como ainda sou hoje, em termos organizativos, nos detalhes, no planeamento. Aprendi essas questões com ele. Em relação às ideias do jogo, à identidade da própria equipa, há algumas coisas que vêm dele. Neste momento já não é só a minha cabeça, é a minha e a de quem trabalha à minha volta. Também ajuda. Escolhi pessoas e gosto de trabalhar da mesma forma como me senti útil e integrado numa equipa técnica quando estive com o Paulo Fonseca, gosto que as pessoas que estejam à minha volta o façam da mesma forma.

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ZZ: Falou de ser ativo na discussão e o Paulo já disse várias vezes que não gosta de marionetas. Nesse sentido, que tipo de desafios é que tinha de colocar diariamente ao treinador principal?

PM: Havia muito a preparação do jogo, do que nós fazemos e que tem várias componentes, começando na técnica, tática, estratégica, psicológica, física… Ao mesmo tempo, aquilo que a nossa equipa faz ou conseguiu fazer no último jogo e vai querer fazer no jogo seguinte, na organização e preparação do que queremos fazer nesse próprio jogo, na avaliação do adversário, no que é que as nossas ideias permitem fazer contra aquele adversário.

Só aqui, nestes pormenores, já está uma panóplia de coisas que depois temos de passar para o exercício, para que sejam criadas as realidades que nos permitam fazer em situação de jogo. Só isso já nos obriga a trabalho, horas, discussão, vídeos… uma série de coisas que nos vão ajudar a escolher o exercício certo, a correção certa e, muitas vezes, como falávamos em algumas situações, passar o máximo de informação para que o treinador principal possa tomar a melhor decisão. A partir do momento em que ele toma a decisão, a decisão é nossa. Já não é dele, é nossa.

ZZ: Eram discussões muito longas?

PM: Eram muito longas e muito interessantes. Tenho muitas saudades do que fazíamos naquele espaço de trabalho. A amizade mantém-se muito forte com todos eles, ficou essa recordação. Agora passamos essas discussões para o meu contexto com o José Borges e o Ricardo Vasconcelos.

ZZ: Agora olha para a sua equipa técnica e pensa que não há muito tempo estava nesse papel e agora está na parte final do processo, de receber a informação.

PM: É um bocadinho isso. Esta sequência de trabalho que tive, esta formação de carreira com os anos que passei na formação e no futebol profissional como adjunto, faz-nos crescer a todos os níveis. Muitas vezes, a tomada de decisão é melhor quantos mais dados tivermos para a tomar. Outra questão interessante é conseguir tomar uma decisão simples de algo que parece muito complexo. Isso é o ponto-chave de nos tornarmos melhores treinadores.

ZZ: O facto de também ter tido um passado longo como treinador-adjunto ajuda-o a perceber como a sua equipa técnica pensa e a compreender as necessidades deles?

PM: Julgo que sim. Primeiro, até pela forma como os tento integrar e que todos tenhamos voz ativa na tomada de decisão. Isso é fundamental. Claro que há sempre uma decisão final que tem de ser tomada nas escolhas, na organização. Isso acontece sempre. Depois também um bocadinho baseado nas nossas experiências, que já as temos. São 30, 40 jogos na II Liga e 11 ou 12 na I Liga, já há aqui alguma fase de organização enquanto equipa técnica nossa, mas também do que temos para trás.

Com o Paulo Fonseca foram mais de 400 jogos. Quando falamos nisso, estamos a falar não só no momento do jogo, mas no que leva até chegar ao jogo: a organização, a preparação, a gestão de conflitos, do pormenor, a organização do conteúdo para chegar a esses jogos. Tudo isso é experiência adquirida para termos uma base maior nas tomadas de decisão. 

qUm apuramento de uma equipa daquelas [Paços de Ferreira] para a Champions é uma coisa inacreditável

Pedro Moreira

ZZ: Entrando mais um pouco em pormenores: Paços de Ferreira, FC Porto, Paços novamente, SC Braga, Shakhtar e Roma. Uma montanha-russa. Destes, qual o maior desafio?

PM: Todos eles tiveram as suas caraterísticas. Primeiro, a oportunidade que foi conseguir consolidar ideias no Paços de Ferreira. A formação de um grupo, e era um grupo de excelência nas relações interpessoais e até com a envolvência que se criou no clube, na cidade. O resultado final… um apuramento de uma equipa daquelas para a Champions é uma coisa inacreditável, que no nosso país nos últimos anos nem perto se chegou.

ZZ: Já passaram vários anos e muitos recordes do Paços continuam com essa equipa técnica.

PM: Mérito a essas pessoas, a esse grupo, às pessoas do clube, à direção…

ZZ: Tinham noção do que tinham acabado de fazer?

PM: Estamos a falar num clube do nível do Paços de Ferreira… Eu tenho ideia que fizemos também meia-final da Taça e da Taça da Liga nesse ano. Só perdemos jogos com o FC Porto e com o Benfica. Foi essa a minha entrada no futebol profissional, portanto a minha bitola ficou alta (risos). Mas, essencialmente, as vivências, o modo como se vivia o dia a dia, o entusiasmo que tivemos.

Recordo-me, na altura em que as coisas correram menos bem no FC Porto, de estarmos a conversar os três, eu, o Paulo e o Nuno Campos. Foi o Paulo que tomou essa decisão [voltar a Paços de Ferreira]. Não havia uma crença, um acreditar da nossa parte nesse regresso a Paços de Ferreira. Lembro-me da forma como o Paulo o pôs em cima da mesa. ‘Eu acho que é importante nós acordarmos de manhã e conseguirmos ser felizes a fazer aquilo que mais gostamos’. Voltar a ter a paixão do treino, a paixão do que fazemos no dia a dia, é extremamente importante. Acho que o reconquistámos, muito com base no que são as pessoas de Paços de Ferreira. Ainda hoje é um clube que me diz muito, é um clube pelo qual tenho imensa estima e torço para que tenha sucesso todos os fins de semana. Um bocadinho com base no que vivemos naqueles tempos.

«Foi o Paulo que tomou essa decisão [voltar a Paços de Ferreira]. Não havia uma crença, um acreditar da nossa parte nesse regresso a Paços de Ferreira. Lembro-me da forma como o Paulo o pôs em cima da mesa, que foi ‘eu acho que é importante nós acordarmos de manhã e conseguirmos ser felizes a fazer aquilo que mais gostamos’»

ZZ: Dizem que não devemos voltar onde já fomos felizes, mas para vocês foi precisamente o contrário.

PM: Quando corre bem é tudo excelente. Fazer prognósticos no fim do jogo fica mais fácil, mas foi muito arriscado. Com base naquilo que falei, de conseguir realmente trabalhar de forma tranquila e com menor pressão, conseguimos os objetivos todos por completo. Perdemos o apuramento da Liga Europa na altura, se não me engano, na última jornada.

Neste regresso criámos alguns desafios até para nós. Alterámos o sistema tático, procurámos situações de jogo diferenciadas também. Mesmo para nós, internamente, criámos novos desafios até para que a comparação com o que tínhamos feito anteriormente não acontecesse de forma tão pragmática. Cada momento tem o seu desafio, o mesmo aconteceu em Braga. Passar de um patamar para outro, jogar em estádios onde ainda não tínhamos jogado naquele patamar. Tínhamos estado no FC Porto com esta preocupação, se calhar, de não ter corrido bem e poder ter o desafio de ter outro clube onde pudéssemos jogar para ganhar de novo, que é também importante.

Fomos passo a passo e cada um dos desafios foi conseguido, muito por mérito do perfil do Paulo Fonseca, da forma como agrega as pessoas à sua volta, como permite que todos trabalhem num objetivo comum. O que fizemos de crescimento durante os anos adveio disso.

ZZ: No regresso a Paços de Ferreira existem essas mudanças estruturais e na ideia de jogo. Consequência direta do que aconteceu no FC Porto?

PM: Não teve relação direta com isso. A única questão principal tem a ver com os desafios próprios entre nós. Nós saímos do FC Porto em março, portanto tivemos aquele período de paragem e preparação para o que vinha a seguir. Foi um desafio interno.

ZZ: Ainda na primeira época no Paços de Ferreira, em 2012/13: como é para uma equipa técnica manter todos os jogadores focados quando se apercebem que o terceiro lugar e a Liga dos Campeões podem acontecer?

PM: Primeiro, tem a ver com a definição de metas em crescimento. Não uma meta final, um objetivo de final de época, mas as metas construídas passo a passo. Essas metas têm de ser tangíveis, porque se não as atingirmos fica mais difícil. E depois tem a ver com uma coisa que há pouco falei, em relação ao Torreense: quando se constrói uma ideia, a ideia é trabalhada no nosso dia a dia, no treino, no exercício, na conjugação da relação entre o que a equipa técnica pede e os jogadores tentam fazer. Aquele ano foi o expoente disso.

Eu senti isso mesmo também até mais no Torreense do que no Casa Pia, como é lógico, porque para além do sentir, da transição do processo de treino para o jogo, também há essa questão de que, mais tarde ou mais cedo, a gente resolve porque estamos preparados para isso. O sofrer um golo não é o fim de um jogo. Essa equipa do Paços de Ferreira é um exemplo incrível a esse nível. Sofria-se um golo e havia uma calma de ‘mais tarde ou mais cedo a gente empata e vira o jogo para o nosso lado’.

Isso tem muito a ver com a organização do treino, com o acreditar nas ideias, descobrir espaços perante o que o adversário nos dá e potenciar esses espaços, criar mais oportunidades. Nesta forma equilibrada é o nosso trabalho enquanto treinadores, fazê-los acreditar que o nosso dia a dia nos leva a ter sucesso no fim de semana.

ZZ: Em que momento nessa época é que começam a sentir que é possível?

PM: Já estamos a falar em 2012, já lá vão uns tempos. Tenho coisas mais frescas do que esse Paços (risos). Essencialmente lembro-me das viagens de autocarro, do dia a dia que tínhamos, o entusiasmo para estarmos juntos, tudo o que fazíamos enquanto grupo. Mesmo com a parte diretiva era realmente uma família que se juntava e unia em busca de um objetivo. Uma seriedade imensa em relação a cumprimento de salários e tudo mais. Se calhar por isso é que houve esta simbiose tão grande entre todos nós. Sentíamos, ao entrar em campo, que as coisas iam acontecer.

Estamos a falar de uma equipa que ganhou em Braga, em Alvalade, com jogos muito bem conseguidos, de imensa qualidade e com pormenores do jogo que naquela altura nem todos conseguiam fazer, em especial no modo como comandávamos o jogo. Ainda hoje as equipas do Paulo Fonseca têm essas caraterísticas também, de posse e segurança. Houve outros aspetos em que mudámos desde a altura do Shakhtar, depois até um bocadinho mais na parte final da Roma, em termos defensivos e de pressão. Agora, o Paulo quer no Lille, quer no Milan também já as alterou de novo e de forma muito interessante. Havia uma confiança muito grande no que fazer.

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ZZ: Para fechar o ciclo faltou jogar a Champions.

PM: Fomos jogar. Jogámos no FC Porto (risos).

ZZ: Mas para fechar o ciclo em Paços de Ferreira. Dava esse gosto especial?

PM: A nossa carreira é feita de evolução e todos nós procuramos essa evolução também. Ao terminar o ano, também tínhamos a expetativa de poder melhorar a nossa vida, a nossa carreira, ir lutar por coisas diferentes e foi isso que aconteceu.

ZZ: Aparecendo um FC Porto, não se pode dizer que não.

PM: Claramente.

ZZ: É um choque muito grande quando entra pela primeira vez no balneário do FC Porto e a realidade é outra?

PM: Não acho isso, não senti. Já tínhamos sido adversários em função disso também. Atenção que neste percurso de formação eu também passei por clubes grandes enquanto treinador de formação. Claro que é sempre diferente no futebol profissional, mas ver a evolução dos jogadores, a chegar a um patamar de excelência como pensamos que vão chegar, é muito interessante e curioso.

Se calhar, muitas vezes, é mais relevante o modo como olham para nós numa fase como essa do que o contrário. Portanto, acho que possivelmente até foi o ponto-chave, porque as ideias estavam bem consolidadas. A principal vantagem que tivemos foi que no FC Porto ganhámos o nosso primeiro título enquanto equipa técnica, o que também é um fator de relevo.

ZZ: As coisas acabam por não se proporcionar e o próprio Paulo Fonseca sempre foi muito aberto em relação a isso. Sentiram que a mensagem para os jogadores ficava a meio?

PM: Não. Foi o clube que nos deu a oportunidade de chegar a um patamar ainda mais alto. Foi uma fase de crescimento para todos nós e que nos fez ser o que somos hoje. Possivelmente foi dos poucos reveses que o Paulo teve na carreira. Como é natural, o que procuramos é ser melhores amanhã do que somos hoje.

ZZ: Depois do FC Porto, o regresso a Paços de Ferreira e as coisas correm bem. Aparece aqui o SC Braga e Braga ficou marcado, tanto é que o mister hoje ainda tem ligação à cidade.

PM: Tenho, tenho. Fiquei a viver em Braga, no caso. Quando estava no Paços vivi em Guimarães, depois vivi em Gaia e fixei-me em Braga com a minha família. Ainda hoje estou por Braga. Ficaram os laços ao clube, às pessoas e à envolvência. Quanto estive na Ucrânia e em Roma mantive-me sediado em Braga. É onde estou hoje, os miúdos andam na escola. Foi um ano de paixão, é um clube que me merece enorme estima também. Juntámos um bocadinho os sucessos desportivos ao que vivemos no dia a dia.

A conquista da Taça de Portugal no SC Braga foi um momento marcante, a experiência de vida enquanto treinador de ir ao Jamor e poder levantar a Taça é um momento inolvidável para todos nós. Era um grupo muito coeso, com uma qualidade de jogo… Ainda hoje tenho muitas saudades também. Aquilo que fizemos, a envolvência que se criou com o próprio público… Tenho imensas boas recordações dos tempos passados em Braga. 

qA experiência de vida enquanto treinador de ir ao Jamor e poder levantar a Taça é um momento inolvidável para todos nós

Pedro Moreira

ZZ: É o troféu mais marcante da carreira?

PM: Pela vivência do dia a dia, julgo que sim. Também não nos podemos esquecer que os troféus conquistados na Ucrânia foram com pouco público, há estes problemas associados a não estarmos em Donetsk e tudo mais. E a experiência do Jamor... Digam o que disserem, apesar do estádio poder ter poucas condições e de ser um estádio ainda não preparado para o futebol moderno, aquela envolvência é mítica. É um dia especial para quem é jogador, para quem é treinador. A vivência de poder passar por aquela experiência é magnífica.

Acredito que sim, que seja um dos dias mais marcantes, até pelo modo como também foi conquistado. Sofrer um golo no último minuto, passar pelo prolongamento depois de um ano anterior onde o SC Braga tinha passado por uma experiência muito similar, mas não tinha conseguido ganhar o troféu. Tudo isso são experiências acumuladas, lá está a tal questão que temos enquanto adjuntos que nos faz estar mais aptos depois quando assumimos o papel de treinadores principais. Se calhar foi daqueles dias mais memoráveis na minha carreira enquanto treinador.

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ZZ: Já fomos falando do que são as equipas de Paulo Fonseca, que gostam de jogar bom futebol e controlar. Isto também são as equipas do treinador Pedro Moreira?

PM: Claramente. Um futebol positivo, essencialmente com ideias organizadas. Se conseguirmos que todos os jogadores pensem a mesma coisa ao mesmo tempo, o nosso trabalho está bem conseguido. Isso tem a ver com a rotina de trabalho, não lhes tirando a criatividade, não lhes tirando a adaptação das caraterísticas individuais ao que pedimos no nosso modelo de jogo.

Penso que, mesmo nalguns destes jogos que correram menos bem no Casa Pia, essa identidade estava lá também. Tentámos sempre por esse cunho de forma organizada e era notório que eram as nossas equipas que estavam a jogar. No Torreense isso foi um expoente do modo como circulava, como se procurava espaços e como jogadores diferenciados apareciam nesses espaços. Esta equiparação de ser uma equipa reconhecida por jogar bem, mas ao mesmo tempo os números também comprovarem essa forma de jogar, que é importante.

ZZ: Voltando ao tema Casa Pia: já disse que quer jogar um futebol positivo, atrativo e que no Casa Pia encontrou a tal questão de que um treinador entra a meio da época e encontra um plantel feito para outra coisa. Se hoje a oportunidade aparecesse, teria aceite na mesma?

PM: Sim, sim, claramente. Mérito ao clube, às pessoas que estão à volta do clube também e agradecer-lhes outra vez a oportunidade que me deram de poder mostrar aquilo que a nossa equipa técnica pensa. Claro que adaptaria situações específicas do que aconteceu, sem fugir nunca àquilo que são as nossas ideias, mas sendo mais efetivo e adaptando possivelmente de forma mais pragmática para cada um dos jogos. É isso que nos faz enriquecer e ser melhores no futuro do que somos hoje.

Mas não, nunca deixaria de aproveitar uma oportunidade num patamar onde todos trabalhamos para poder estar. Se calhar não pensava que em dois anos ia chegar rapidamente à I Liga como aconteceu, apesar do percurso enquanto treinador-adjunto ter sido rico. Só a consistência da nossa forma de jogar nos últimos dois anos é que nos permitiu estar neste momento a ambicionar isso. Possivelmente uma das grandes ambições que tenho agora é realmente iniciar uma época, ter a possibilidade de escolher alguns jogadores, ter tempo de trabalho para por a nossa equipa a pensar as ideias que temos numa fase mais inicial da época. Infelizmente, não está a acontecer. 

qNão pensava que em dois anos ia chegar rapidamente à I Liga

Pedro Moreira

ZZ: Fechando o capítulo treinador-adjunto: o contexto ucraniano é muito particular. Vocês chegam a um clube cuja região está em guerra civil e nunca pisaram a Donbass Arena. O clube sediado em Kiev, a jogar em Kharkiv, a ter de viajar de avião para jogar em casa, a treinar num centro de treinos que não estava tão preparado assim inicialmente... Quais são os primeiros impactos desta realidade?

PM: Tudo para nós foi novo. Primeiro, antes de falar das questões associadas ao Shakhtar, falar da felicidade que foi viver durante três anos na Ucrânia, no caso em Kiev, e o que me faz pensar, olhando para o país neste momento, a envolvência social que tem nesta altura...

ZZ: Sim, porque na altura era uma guerra civil no Donbass e hoje está tudo muito diferente.

PM: A maior parte das pessoas que estão à nossa volta já tinham passado por estas questões de ter de sair de casa e de se deslocar todas para outro local. Agora tiveram de repetir e aconteceu a mesma situação. É importante e isto tem de ser resolvido, como é natural. Eu vivi na Ucrânia, fui muito feliz lá, tenho imensos amigos no país. Gostava que este conflito se resolvesse rapidamente.

ZZ: Voltou lá alguma vez depois de ter saído do Shakhtar?

PM: Não, não voltei, mas acompanho. As imagens dantescas que a gente vê na televisão... Há muitas fotos, muitas imagens de zonas onde estivemos, onde passávamos de forma sistemática. Foi difícil. Se foi difícil para nós, imagino para aquelas pessoas. Para além disto tudo, tem a ver também com o que não se pode viver enquanto criança. Ainda há pouco tempo vi um conjunto de ucranianos que vieram visitar o estádio, em Braga, numa ação social em que o SC Braga recebeu 15, 20 meninos vindo da Ucrânia. Só ver a alegria durante pouco tempo daquelas crianças... É de pensar que isto tem de ser uma coisa social e resolvida rapidamente. Estamos num século onde não é admissível a que andemos tanto tempo com este tipo de questões.

O futebol, apesar de continuar e o Shakhtar continua, o campeonato está em atividade apesar destes contextos todos, não é comparativo com o que vivemos naquela altura. Apesar do que o Shakhtar nos deu, onde nos permitiu chegar, a oportunidade que nos deu de jogar em grandes níveis e com jogadores de uma qualidade tremenda, eu se calhar olho mais para o que se passa hoje em dia do que para o que se passou naquela altura.

ZZ: A vida na Ucrânia mudou, já não é a mesma que encontrou. Gostou de lá viver?

PM: Muito, muito. Gostei muito do país, de viver lá, do dia a dia. Só a vida com a neve é que foi mais complicada de adaptar, mas depois entramos naquele processo de adaptação ao dia a dia. A neve depois transforma-se em lama, são questões que não são normais para nós no contexto social onde vivemos. Mas gostei muito. Tenho saudades dos anos em que lá vivemos, para lá das memórias desportivas, que são incríveis. Nós passámos imenso tempo em hotéis, a viver e experienciar situações...

ZZ: O próprio clube estava sediado num hotel.

PM: Precisamente. A base do nosso trabalho era um hotel. Quando cheguei, fui viver num hotel em Kiev antes de ter casa. Até isso são boas memórias, essencialmente o facto de podermos, enquanto equipa técnica, para lá dos títulos que ganhámos, podermos experienciar a Champions e a Europa League em patamares onde já tínhamos estado, mas naquele contexto e com aqueles jogadores foi muito bom.

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ZZ: Foi fácil entrar nessa rotina com todas as condicionantes que o Shakhtar tinha?

PM: Julgo que o problema maior não veio daí. O problema maior veio em convencê-los daquilo que estava a ser feito de diferente. O clube veio de um treinador que esteve lá muitos anos, um treinador ganhador como é o Mircea Lucescu. Alterámos um paradigma do que o clube tinha naquela altura, até em termos organizacionais, não só na forma de jogar, mas também na parte logística. Quando se muda, há sempre alguma dificuldade.

O Dínamo Kiev é que tinha ganho nos últimos anos e isso levou à própria mudança. Foi a parte mais complicada, levar os jogadores a uma ideia de jogo diferenciada. Quando o conseguimos fazer, foram três anos ótimos. O mais difícil foi o primeiro, na questão de alterar, mas a partir do momento em que os jogadores se identificaram com as ideias, foram três anos muito bons.

ZZ: Tem um passado muito ligado à formação. É também este tipo de treinador que pretende ser, com um olhar atento aos jovens?

PM: Sim, até é curioso o número de jogadores que estão agora num patamar mais alto e que passaram...

ZZ: Dois cruzaram-se consigo há pouco tempo.

PM: O Tiago Dias e o Nuno Moreira foram meus jogadores ainda em processo de formação. O Tiago é de 98 e o Nuno é de 99. É engraçado. Eu no Sporting fiz uma ligação entre o futebol de 7 e o futebol de 11, estive ali nos sub-11/sub-12. Apanhei na altura esses meninos. Havia alguns que realmente tinham esse potencial e já se previa que pudessem iniciar um percurso de sucesso. O Rafael Leão, o Daniel Bragança, o Félix Correia, o Gonçalo Inácio, o Tomás Silva... uma série deles que, neste momento, estão em patamares elevadíssimos não só na sua qualidade, mas também no que se previa que fossem chegar. Nem todos eles se previa que fossem chegar a este ponto, mas há algumas surpresas.

Mesmo no tempo em que estivemos na Roma, recordo-me na altura em que o Tiago Pinto, o diretor, entrou. Criou-se ali um grupo de elite de jogadores, com alguns miúdos que estavam na fase de transição entre equipa primavera e equipa A. Fui integrado nesse grupo de desenvolvimento, lembro-me que estavam o Bove e o Zalewski, que neste momento estão na equipa A.

Era uma preparação em que eu me revia um bocadinho no que tinha feito e ainda hoje me revejo na capacidade que temos de dar uma preparação a jogadores jovens para poder chegar a um patamar mais elevado em todas as dimensões do trabalho, não só físicas, mas também táticas, organizativas, logísticas, de redes sociais, como se comportar perante a imprensa... Todo um trabalho de base para que estejam aptos e, se calhar, para evitar alguns erros que num passado recente tinham sido cometidos nalguns destes clubes e que depois se perdem ativos que podem valer milhões por erros individuais em coisas que não são muito importantes, mas que se vão tornar importantes no seu futuro.

Enquanto treinador principal, essa é uma das ideias. Nós somos avaliados por ganhar, por ter resultados, mas também podemos ser avaliados pela valorização dos ativos que o clube tem e no desenvolvimento do seu potencial. Claramente que me revejo nesse ponto.

ZZ: Se um jogador está pronto, está pronto. Não importa a idade.

PM: Eu considero isso, em especial se estiver de acordo com o que são as nossas ideias no jogo. Normalmente também se junta a irreverência, a capacidade de ser criativo e fazer coisas que os outros não querem arriscar por uma questão de segurança. Revejo-me nisso. O que sinto, essencialmente, é que se é um jogador que está na linha de poder ajudar a equipa, não é pela idade que não se vai pensar nele para poder ser utilizado.

ZZ: Há essa questão de criatividade, da liberdade. Hoje em dia, gera-se a discussão de que os jogadores estão muito presos à questão tática e perde-se um pouco essa irreverência, quando alguns desses jogadores precisam dessa liberdade. Não só na formação, mas também como treinador principal, parte desse ponto? Percebe que há jogadores que precisam disso?

PM: É um bocadinho. É preparar a ideia de jogo para que seja possível utilizar esses jogadores nesses contextos. Acho que, muitas vezes, a ideia e noção do espaço ajuda-nos a perceber de que modo podemos desequilibrar o adversário. O que fazemos em treino, o que vemos em vídeo do que é o adversário, do que podemos fazer na nossa conceção do jogo pode-nos ajudar. As caraterísticas deles são fundamentais para que isso aconteça. Muitas vezes, o tal sacar do coelho da cartola pode vir daí, de uma opção, uma decisão ou uma substituição. Eu revejo claramente. O Rafael Leão é um bom exemplo disso.

ZZ: A pergunta também vem precisamente por isso.

PM: O Rafael Leão com 12 anos era um bocadinho o esperar que vai ter sucesso... Para o Rafael, jogar num contexto de estádio cheio ou num torneio de pouca importância era igual. Já acontecia naquela idade. 

ZZ: Não queremos chamar desprezo, mas se calhar não ter noção da realidade e tudo sair com naturalidade.

PM: É verdade. Mas o contrário também acontece. A responsabilidade, a capacidade de assumir riscos que os outros não assumem também acontece. Há um bocadinho de tudo. O perfil de jogador não é igual para todos eles. Muitas vezes, olhando para eles, aquilo que se prevê no futuro é que pode ser mais fácil pelo talento individual. Nisso é que eu acredito, o talento individual que eles têm ou que se vê mais nuns do que noutros, aí é que vejo que pode ser potenciado mais facilmente.

Não há idade que valha. A capacidade de fazer, de tomar decisões que às vezes nem nós, que estamos a ver, sabemos que pode tomar... É incrível. Sei lá, o modo como um médio olha para um espaço entre linhas, como varia o corredor, como faz um drible quando tem um colega livre. São situações em que a tomada de decisão e essa liberdade tem de ser deles, desde que tenha a eficácia que nós, enquanto treinadores, pretendemos. 

qPara o Rafael [Leão], jogar num contexto de estádio cheio ou num torneio de pouca importância era igual. Já acontecia naquela idade

Pedro Moreira

ZZ: É importante fazer esta gestão e não castrar, por vezes, o que um jogador tem que o diferencia? Não robotizar o jogador, no fundo.

PM: Lá está o tal crescimento que temos de ter. Muitas vezes estamos tão preocupados em que os comportamentos vão ao encontro do que pretendemos que até nós, enquanto treinadores, cortamos essas questões. Vou abrindo um bocadinho e estou cada vez mais aberto a que essas coisas aconteçam.

Em determinadas posições e zonas do campo, o risco está associado ao que pretendemos que o jogo nos dê. Esta conjugação entre as zonas do campo onde podemos arriscar ou não são tudo questões que se nós os fizermos ver, repetindo em processo de treino ou até em jogo, que aquilo nos pode dar mais sucesso, é uma grande vantagem. Prepará-los para que, no momento em que acontecer, eles consigam desenvolver.

ZZ: Disse que, na formação, alguns jogadores já se previa que chegassem a um grande patamar e outros até superaram o previsto. O Rafael Leão é um desses?

PM: Claramente. Estávamos todos à espera.

ZZ: O Rafael, o Gonçalo Inácio...

PM: O Gonçalo não. O Gonçalo é um caso diferenciado. Muito mérito pelo que foi o seu trabalho em termos de crescimento e desenvolvimento individual. Não esperava claramente que chegasse a este patamar na altura em que trabalhámos com ele na formação. Claro que agora é sempre fácil dizer que todos esperávamos, mas não é verdade. Mérito ao trabalho dele, às pessoas que estiveram à volta dele para o ajudar a chegar a este patamar.

Agora, olhando para ele, aquilo que faz, do modo como faz, o equilíbrio com que faz... É claramente um trabalho individual inserido num clube e nas pessoas que o fizeram chegar a este ponto. Está ali um bom exemplo de alguém que na base não era um jogador-chave para chegar a este patamar e conseguiu este mérito. Nessa geração de 2001, possivelmente o Félix Correia era o jogador que se evidenciava mais.

ZZ: O próprio Rafael era muito diferente do que temos hoje em termos de génese?

PM: Não, não. Há aqui questões interessantes. Por exemplo, estamos a falar nesta questão e num ponto em que trabalhávamos futebol de 7 e, por vezes, futebol de 11. É engraçado e até incrível pensar nisso: eu trabalhei com a geração de 1998 e, por incrível que pareça, os nossos avançados eram o Pedro Amador e o Luís Esteves. Eram os dois avançados naquela idade. O modo como se desenvolvem a partir daí vai ser diferente.

ZZ: Hoje olhámos e vemos que as coisas mudaram.

PM: É um lateral esquerdo e um 8/10. É curioso. Mais uma vez, o número de jogadores que evoluíram e estão no patamar de excelência. Em relação à geração de 1999, do Rafael Leão, era uma equipa com um potencial tremendo e muitos deles se previa que chegassem longe. Olhando até para o próprio jogador neste momento, o potencial físico que ele desenvolveu... Há coisas que são inatas, mas há outras que não é o inato que lhe dá. Tem a ver com trabalho, através de um clube que o ajudou a chegar a este patamar e depois por todas as pessoas que estiveram à volta dele para o fazer crescer e ser o que é neste momento.

ZZ: Curiosamente agora vai ser treinado por Paulo Fonseca.

PM: Estou muito curioso. Estou muito curioso em relação a este ponto da liberdade que lhe vai ser dada inserida num contexto de organização que o Paulo exige.

ZZ: A tal questão de ter organização, mas há certos jogadores para os quais é preciso ter uma paciência especial.

PM: Acredito que ele vai melhorar ainda mais.

ZZ: Estamos a chegar ao fim. Casa Pia já lá vai, Torreense foi um trabalho bem mais positivo e uma nova época está a arrancar. Sente-se pronto para voltar?

PM: Claramente e até ansioso, quase. Estamos preparados. Utilizámos este período que estivemos sem trabalho para nos organizarmos e pensarmos em novas ideias.

ZZ: No fundo, nunca está sem trabalho.

PM: Nunca estamos. Estamos sempre a catalisar novas ideias, novas formas de organizar o nosso pensamento de jogo, a criar exercícios, criar alguma coisa que nos faça ser melhor. É fundamental. Havia uma ambição clara que seria iniciar a época para poder ter um grupo escolhido e, possivelmente, algum tempo de trabalho para consolidar ideias. Não acontecendo, vamos preparar-nos sabendo que estamos muito mais aptos a estar prontos a entrar num clube em função do que aconteceu nas últimas duas épocas.

ZZ: Ainda não teve essa experiência de ter dedo num plantel, poder planear uma pré-temporada.

PM: Sinto que nos dois últimos clubes onde estivemos, trabalhámos com pessoas que, até pela nossa forma de ser e estar, nos ouviram. Trabalhámos de forma comum, até na elaboração do plantel nunca fomos postos de parte, quer no Torreense quer no Casa Pia. O mercado de janeiro é um mercado difícil, de adaptabilidade, mas permite criar alguns equilíbrios.

ZZ: Mas sobretudo a parte da pré-temporada é o que lhe faria mais falta.

PM: E muitas vezes lá vem a minha experiência enquanto treinador-adjunto: é um espaço muito importante. São três, quatro semanas onde estamos a trabalhar de forma comum em várias componentes da nossa forma de jogo e que são importantes para a consolidação do que queremos durante a época.

Até para que, no momento em que temos dificuldades, de que modo as podemos superar. Às vezes, a falta de tempo leva-nos a que estejamos tão preocupados com uma forma de pensar que não conseguimos criar uma rotina alternativa ou então fazemo-la sem treinar e isso é um bocadinho deixar as coisas acontecer em vez de as preparar. É isso que julgo que pode faltar, mas estamos prontos para iniciar algum projeto.

@Rogério Ferreira / Kapta+

ZZ: Criar rotinas com a época a decorrer torna-se mais difícil.

PM: Temos de nos adaptar. É importante adaptarmo-nos à realidade, ao que temos à nossa frente e às vezes até ao conforto dos próprios jogadores, para estarem mais confortáveis na execução dos comportamentos. Isto depende um bocadinho da adaptabilidade das suas caraterísticas.

ZZ: Às vezes é preciso o treinador adaptar-se mais aos jogadores e ao que foi feito antes por outro treinador do que forçar uma adaptação mais rápida dos jogadores ao novo treinador?

PM: Acho que tem que haver um mix disso. Tem que haver um misto dessas situações, nem tudo para um lado nem tudo para o outro, em especial para que haja conforto dos jogadores na execução dos comportamentos. Acho isso fundamental.

ZZ: Para fechar, a pergunta que se impõe: já tem alguma oferta na mesa?

PM: Tem havido algumas oportunidades não concretizadas. Têm acontecido algumas questões interessantes, de mercados alternativos, que podem ser possibilidades. O que mais gostava, até em discussão com a nossa equipa técnica, era de poder trabalhar na Europa em algum contexto onde possamos mostrar ideias diferenciadas do que esses países e clubes têm. Mas nunca deixando de fora que estas oportunidades que tivemos no nosso país, quer na II Liga quer na I Liga, foram de um valor enorme e nos fizeram melhorar imenso.

Temos um futebol com imensa qualidade, os treinadores são muito competentes no que fazem. Já nos tinha acontecido em Itália, também passei por essa realidade enquanto adjunto. A capacidade que têm de enganar o adversário com o que se faz em termos estratégicos é muito interessante. E eu senti também que, na I e II Liga, os treinadores portugueses têm essa capacidade. Muitas vezes não damos grande importância ao que fazemos aqui no país, mas eu nunca deixo de fora cada uma dessas oportunidades. Se elas aparecerem, vamos olhar para todos os projetos de forma séria e ambiciosa.

ZZ: Quando fala em projetos na Europa onde possa ter ideias diferenciadas em relação ao que por lá se faz, seria algo do estilo Shakhtar?

PM: O mercado é global. Os portugueses estão a ter um peso enorme no futebol brasileiro neste momento, em África apareceu um ou dois treinadores portugueses num patamar elevadíssimo no último ano. O que acontece agora é que vamos estar sempre abertos a todas as propostas que aparecerem. O gosto é que poderia ser algo com essas caraterísticas, até porque muitas vezes o nível europeu a gente olha para ele sem dar grande valor ao que temos dentro da nossa casa.

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