PERFIL | Ian Cathro, a aposta surpresa do Estoril: conheça o escocês «de boa conversa»

2 meses atrás 56

O Estoril Praia começou a época a surpreender. A Ian Cathro, um perfeito desconhecido para a maioria dos adeptos portugueses, deram as lides da equipa sénior masculina. Decisão ousada? Arriscada? Um tiro no escuro, no pé ou na muche? Enquanto as opiniões se dividem, o zerozero foi à procura dos factos.

Quem é este escocês? Por onde passou e que imagem deixou? O que tem a dizer quem trabalhou com ele? Várias questões; mãos à obra.

Escócia, terra do começo e do encontro que mudou uma vida

Apesar da tenra idade - 38 anos, um «pré-adolescente» na vida dos treinadores de futebol -, o escocês já tem vários anos de futebol. Começou a treinar os escalões de formação do Dundee - na sua terra berço - quando ainda tinha o ensino secundário por finalizar. 

Os primeiros passos, ao serviço do Dundee United @Getty /

Como o próprio técnico confessou, em entrevista ao The Athletic - uma das raras concedidas -, as aulas eram passadas a pensar em táticas e as professoras «só aceitavam». Um fascínio que passou a obsessão, como confirmou.

Daí em diante, a paixão ganhou proporções maiores, mais sérias e reais; chegou ao ponto certo para arriscar e tentar fazer vida do treino. Nesse sentido, surgiu a oportunidade de ingressar num curso de treinadores UEFA, em Ayrshire, na Escócia; quis o destino que um dos colegas fosse Nuno Espírito Santo e assim surgiu uma ligação que durou anos a fio.

Uma ligação que começou na Escócia, mas que ganhou força em Vila do Conde: a primeira experiência de um enquanto treinador principal, a primeira experiência no futebol sénior do outro. Para nos falar do começo desta relação, o zerozero esteve à conversa com Tarantini, capitão da turma vilacondense, extensão da equipa técnica em campo.

Um cheirinho a Portugal

«Foram duas temporadas de referência. Houve uma mudança de paradigma; uma entrada também, se calhar, de outro porte em termos de treino. Foram dois anos que culminaram com duas finais [Taça da Liga e Taça de Portugal]... Portanto, foram duas épocas muito boas para nós, marcantes», recordou Tarantini, sobre os tempos em que Nuno Espíritio Santo esteve à frente da equipa.

Com o «modo memória» ativado, o médio - que, agora, é treinador do USC Paredes - continou a desvendar-nos detalhes de outrora: «Na altura, ele tinha umas funções relativamente limitadas na estrutura do Nuno. Por isso, nesse sentido, não tenho grandes opiniões. Depois, em termos pessoais, ficámos com uma ligação q.b.. Falei com ele uma ou outra vez. Quando estava no FC Famalicão, estivemos lá nuns estágios, que ele foi visitar o Rui Pedro Silva».

Cathro ao serviço do Rio Ave

«Eu lembro-me que ele era uma pessoa importante na construção de alguns exercícios de passe e afins - questões mais técnicas. Em relação a outras funções, posso estar enganado, mas não me recordo de ter assim tanta relevância.Como pessoa, apesar da condicionante da língua, que é normal, era muito afável e de boa conversa», continuou.

Para terminar a conversa, falou-nos da adaptação do treinador ao novo país, sem problemas à vista do capitão: «Não me recordo de grandes dificuldades de adaptação. Esteve connosco dois anos e diria que a adaptação foi boa. A partir daí, seguiu o trajeto fora do país.»

Após a experiência Rio Ave, Cathro seguiu com Nuno Espírito Santo para o Valencia. Contudo, a saúde do pai puxou-o para perto de casa; primeiro, a equipa técnica do Newcastle e, depois, a cadeira de sonho do Hearts.

Escócia 2.0 - um duro regresso

Um sonho que depressa virou pesadelo. Assumir um clube centenário não é para todos. Assumir um clube centenário com 30 anos de idade... Cathro foi, natural e inevitavelmente, muito contestado. Os vídeos - criticado em direto na televisão escocesa - e as crónicas - «Assumir o Hearts? Provavelmente, ele não estava tão excitado com algo desde que saiu o FIFA 17 para a PlayStation. Ele está prestes a conhecer o mundo real» - refletem uma fase complicada e ficam para a eternidade.

O resultado, como seria de esperar, não foi positivo: 27 jogos, seis vitórias. 

Cathro regressou, por isso, ao sítio onde começou «a sério». Voltou a trabalhar com Nuno Espírito Santo: Wolverhampton, Tottenham e Al-Ittihad. Três passos até ao novo salto de cabeça para o cargo principal de uma equipa técnica; desta vez, mais experiente.

Próxima estação: Estoril!

A apresentação, pelo menos e para já, surpreendeu. Cathro mostrou-se aos adeptos canarinhos com um português tão surpreendente quão imaculado - pode assistir ao vídeo aqui.

A estadia pelo Estoril, independentemente da forma como correr, promete dar que falar. O público quer ver este escocês misterioso em ação: jovem, apaixonado pelo desporto-rei, com percalços e provas dadas pelo caminho. Uma coisa é certa: Cathro vai estar pelos bancos do país igual a si próprio, em busca da desejada autenticidade.

«Não podes separar as coisas. Eu não acredito que haja um «tu» enquanto treinador e um «tu» enquanto pessoa: isso cheira-me a esturro. Aqueles que são os melhores naquilo que fazem são sempre os mais autênticos», Ian Cathro ao The Athletic, em maio de 2024.

O agora: uma vez mais, por Portugal @GD Estoril Praia

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