PERFIL | Luz tem nova coqueluche: «Posso compará-lo, com as devidas distâncias, ao Cancelo»

Além de ter promovido a rotação de oito jogadores no onze inicial frente ao Moreirense (3-0), Roger Schmidt aproveitou ainda os minutos finais do jogo, quando o resultado estava definido, para promover a estreia oficial do jovem lateral direito Diogo Spencer pela equipa principal.

Ligado aos encarnados desde 2016, o jovem defesa tem vindo a queimar etapas e esta época tem dividido o seu tempo entre equipa B e Sub-23, com chamadas esporádicas aos treinos e convocatórias do Benfica. Este domingo, 14 de abril, teve direito aos aplausos e carinho da Luz, entrando à passagem do minuto 89. Por isso, fomos conhecer melhor Diogo Spencer.

«Fora de campo era um miúdo algo atrevido, no bom sentido, próprio das características daquela idade, que transpunha para dentro de campo. As qualidades dentro de campo vinham da personalidade dele. Sempre foi muito correto, trabalhador e com esta capacidade de variar muito, que lhe permitiu ter este percurso na formação», começa por dizer ao zerozero Rui Gomes, atual treinador do Mortágua, do Campeonato de Portugal.

«Ele sempre jogou um bocadinho mais à frente. Sempre foi um jogador com muita variabilidade técnica, muita capacidade de condução e drible, muito imprevisível. Jogava sempre mais à frente, mas também era mais futebol 7 na altura do Sacavenense. Quando vai para o Benfica começa a jogar mais à direita e atrás. A partir daí, faz a carreira de formação muito mais direcionado nessa posição. É muito imprevisível com bola e isso para um clube como o Benfica, que está constantemente em ataque organizado, é muito bom ter um jogador deste nível», acrescenta o técnico.

Rui Gomes foi coordenador de formação de Diogo Spencer quando ambos estavam no Sacavenense e voltaram a encontrar-se em 2016/17, a primeira época de Diogo no Benfica, já com Rui como treinador adjunto. Contudo, o encontro foi mera «coincidência»: «Não tive mão na ida do Diogo para o Benfica. Não foi cunha [risos]. Eu já estava no Benfica quando ele vai para lá, mas ele já estava mais do que identificado pelo Benfica. Foi mera coincidência.»

Estreia «saborosa» e desafio para o futuro

A noite de domingo foi especial para Diogo Spencer. De resto, o jovem lateral deixou a nota deste momento nas suas redes sociais, na sua conta oficial do Instagram, com a mensagem "Obrigado, Benfica". Rui Gomes admite que não conseguiu ver a estreia, mas não esconde que, ao saber da mesma, foi um momento «saboroso.»

«Recebi logo uma mensagem quando ele ia a entrar a dizer “olha o teu Spencerzinho a entrar”. Sei que fez um remate para a bancada, mas também nunca foi das melhores características deles. Quando nos cruzamos com jogadores que chegam ao patamar mais alto é sempre um sabor especial. O mérito é 95% dele e destes jogadores. Ele já esteve mais vezes na ficha de jogo e sabe aproveitar a oportunidade, como o facto de a equipa principal ter esse espaço ao nível de laterais direitos. É muito saboroso ver este feito», descreve Rui, de 40 anos.

E agora? Será que Diogo Spencer tem potencial para, tal como António Silva e João Neves, agarrar a oportunidade e ser opção regular num futuro próximo? Rui Gomes acredita no antigo pupilo, mas não acelera em excesso: «Vai tudo depender muito das prestações dele e da opinião do treinador. Quem se lembrar bem, vai perceber que o António Silva não começou a época a titular e, quando foi, no Bessa, no jogo seguinte voltou para o banco. Só depois de uma lesão do Morato é que começou a ser titular. Falam dele, que acabou por ir ao Mundial, mas demorou a ser primeira escolha. O João Neves igual – dois jogadores que conheço bem. Agora a aposta é a toda a velocidade. Provavelmente, nesta fase sensível em que está o Benfica, duvido que o Spencer seja aposta efetiva. Contudo, já aconteceu com outros, por isso terá que estar sempre preparado para quando a oportunidade surgir, ajudar.»

Potencial? Olhos em João Cancelo

Com esta amostra curta de Diogo Spencer frente aos cónegos, certamente a maioria dos adeptos mais distantes da realidade das equipas secundárias das águias ainda não ficaram a conhecer devidamente o jovem lateral. Por isso mesmo, desafiámos Rui Gomes a descrevê-lo e o técnico, embora com discurso prudente, foi ambicioso no futuro do antigo pupilo.

«Posso compará-lo, ainda com as devidas distâncias, ao João Cancelo, pela capacidade e imprevisibilidade com bola, provavelmente por não serem tão especialistas a defender, mas serem muito desequilibradores a atacar. Lógico que são 9/10 anos de diferença, mas tendo em conta as devidas distâncias e patamares em que cada um se encontra, julgo que é um jogador parecido. Tem uma coisa muita boa, que é não desistir dos lances. Se for batido, vai sempre atrás do adversário. É algo que lhe permite ser muito competitivo neste nível», concluiu.