Petróleo: Estados Unidos estão a vencer a ‘guerra não declarada’ com a OPEP

8 meses atrás 77

A OPEP não está interessada em preços baixos e os Estados Unidos não estão interessados em preços altos. Para já, esta ‘guerra’ mundial está a ser ganha pelos EUA. O resto do mundo (não produtor) agradece.

Os cortes da OPEP, a guerra na Ucrânia e os conflitos no Médio Oriente – uma geografia onde todas as semanas aparece um novo foco de tensão – deixaram apenas uma previsão possível: o petróleo tem de subir. Mas não é isso que está a acontecer. A lógica do mercado apontava para que o barril de crude deveria estar nos 100 dólares, mas ele mantém-se teimosamente nos 80. A resposta para esse ‘mistério’ não é única, adianta um analista no jornal espanhol ‘El Economista’, mas à medida que os dados se tornam conhecidos, o impacto de poços perfurados mas não concluídos nos Estados Unidos está a ganhar força. O comissionamento rápido e maciço desses poços gerou uma resposta rápida que impediu que o preço do petróleo bruto disparasse.

Os Estados Unidos há muito que tentam persuadir os países da OPEP de que é preciso que a organização alinhe no combate ao aumento dos preços do petróleo, que, se subir muito, pode dizimar a recuperação da economia e colocar em causa o combate à inflação. Os motivos apontados pelos Estados Unidos não ‘comoveram’ a OPEP. Pelos vistos, o país (que é o maior produtor de petróleo do mundo) encontrou uma alternativa: inundar o mercado com o seu próprio petróleo e promover a diminuição do impacto das decisões da OPEP mercados internacionais. A saída de Angola daquela organização parece ser uma das vias de diminuição da sua importância.

A crise do Covid e seu impacto nos preços do petróleo criaram a convicção de que a indústria petrolífera norte-americana não voltaria aos níveis de produção pré-pandemia. No entanto, a indústria de tinha uma espécie de ‘arma secreta’: os poços perfurados mas não concluídos.

A indústria define este tipo de poços (DUCs) como uma fonte de fornecimento parcialmente concluída que pode ser ativada e colocada no mercado mais rapidamente e a um custo mais baixo do que um poço recém-perfurado ou prestes a ser perfurado. Os DUCs são comuns entre a indústria dos Estados Unidos, onde o custo de extração de petróleo é mais alto do que na maioria dos países da OPEP. Embora seja quase sempre lucrativo para a Arábia Saudita extrair petróleo bruto (não depende tanto do preço, sucedendo precisamente o contrário por exemplo na Rússia), as empresas norte-americanas têm mais problemas para tornar cada barril de petróleo rentável.

Estes DUC’s são contabilizados quando os poços são perfurados com sucesso, mas nenhum gás ou óleo é extraído porque os líquidos e componentes que causam a fratura hidráulica e permitem que o hidrocarboneto seja extraído ainda não foram injetados. As empresas de petróleo e gás veem esses poços como recursos valiosos que podem entrar em produção com menos esforço quando o petróleo bruto sobe nos mercados internacionais.

A BCA Research, citada pelo El Economista”, admite em relatório recente que “subestimamos muito o crescimento da oferta de petróleo bruto dos EUA no ano passado ao não apreciar o impacto de colocar rapidamente DUCs em operação, como foi feito no segundo semestre de 2023, particularmente na Bacia do Permiano”.

A abertura destes poços permitirá que a produção norte-americana continue a fortalecer-se até 2024-25, embora o crescimento da produção seja um pouco menor que em 2023. “O aumento sustentado na produção de petróleo de xisto dos EUA surpreendeu positivamente os mercados (incluindo a nossa equipa) no ano passado”, refere a BCA.

Os dados são claros: a média mensal de plataformas nas cinco principais bacias produtoras dos EUA cresceu marginalmente 0,3% ano a ano durante os primeiros 11 meses de 2023, mas a produção média de petróleo bruto aumentou em um milhão de barris por dia. Se as sondas de perfuração mal aumentaram, de onde veio a maior parte desse novo petróleo? “Estimamos que a produção dos DUCs nas sete bacias aumentou em 577 mil barris por dia, o que representa quase 60% do crescimento da oferta de petróleo do país.” Esses poços estão totalmente operacionais no momento, então as possibilidades de os EUA produzirem mais petróleo no futuro.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE) em seu último relatório mensal, “espera-se que o crescimento da produção de petróleo leve nos EUA seja reduzido pela metade, devido à queda no stock de DUC”. No entanto, a AIE acredita que a produção pode aumentar em cerca de 400 mil barris por dia em 2024 graças ao maior uso de cada poço e à procura por mais petróleo bruto com novas perfurações.

Embora os DUCs tenham sido fundamentais para conter o petróleo, os especialistas da BCA Research admitem que Guiana, Brasil e Canadá também tiveram a sua parcela de ‘culpa’. Esses países têm bombeado petróleo em níveis quase recordes durante todo o ano. Além disso, para este ano, espera-se que continuem a apoiar o lado da oferta: “Embora o crescimento da produção dos EUA esteja a desacelerar este ano, a produção de petróleo da Guiana deve aumentar em 50% em relação ao ano passado, atingindo uma média de 550 mil barris por dia”.

No Canadá, espera-se que a produção aumente em várias centenas de milhares de barris graças à nova infraestrutura que permitirá um melhor transporte de petróleo bruto para a Costa Oeste para exportação.

A BCA acredita que a OPEP manterá os cortes de produção ao longo do ano, enquanto a geopolítica continuar a adicionar um certo prémio de risco ao preço do petróleo bruto. Além disso, o crescimento da procura continuará forte, embora perca algum fôlego em relação a 2023. A previsão é a de que o barril de brent pode estacionar por volta dos 90 dólares em pouco tempo. Recorde-se que há alguns meses atrás, a previsão (ainda da BCA) era de 115 dólares em 2024.

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