Poesia dos golos

6 meses atrás 48

Arranque de jornada emotivo em Barcelos. Com os golos e as ocasiões desperdiçadas como momentos de maior evasão lírica dos artistas, o Famalicão levou de vencido o Gil Vicente (1-2), num jogo em crescendo dos visitantes e de uma segunda parte inundada de emoções e indefinição no resultado.

Com a aliciante de perceber as alterações promovidas na equipa famalicense, Evangelista não defraudou. Gustavo Sá, Chiquinho e Nathan renderam Enea Mihaj, Puma Rodríguez e Aranda face ao empate contra o Estrela, enquanto o desenho tático alternou entre o 3-4-3 no momento ofensivo e o 4-2-3-1 na hora de defender, à imagem da realidade vivida com João Pedro Sousa. Nos galos, realce para o regresso de Murilo no lugar de Tidjany Touré, vindo de cinco titularidades consecutivas.

Embora o equilíbrio tenha sido a nota imperativa, o Gil mostrou ser a equipa mais confortável na descoberta de desdobramentos atacantes. À procura de fazer justiça à alcunha de poeta conferida pelo speaker no pré-jogo, Maxime Domínguez não conseguiu materializar a rima por força do erro ortográfico - leia-se, fora de jogo -, no momento do passe de Alipour, incansável nos apoios aos colegas. Pouco depois, a picadinha do suíço foi flagrante, mas a  prosa fatídica foi a realidade em vez da desejada poesia helvética.

À luz das variações com bola, o Fama procurou de forma nítida ancorar as suas investidas na capacidade física de Cádiz. Sempre interventivo, o internacional venezuelano viu a vida dificultada pela marcação inteligente de Gabriel Pereira - bela capacidade de antecipação -, além da leitura de jogo superlativa que Rúben Fernandes foi emprestando nas dobras feitas.

Cádiz abriu o ativo em grande estilo @Manuel Morais / Kapta+

Do lado forasteiro passou a jogar-se mais perto da baliza de Andrew - pediu-se uma eventual mão na boa na área gilista que André Narciso, no recurso ao VAR, não vislumbrou - e Mirko Topic esboçou a oposição a Maxime. A pincelada do sérvio ainda tirou tinta ao poste, num lance em que a luva de Andrew foi a borracha neutralizadora do perigo.

Capacidade de criação

No entanto, o descanso não chegou sem que Chiquinho arranjasse a rima emparelhada com Cádiz - sofreu um ligeiro toque de Gbane em plena área - e o ponta de lança sul americano, com recurso a uma panenka irrepreensível, abriu o ativo, debaixo de um coro de assobios do público gilista pela decisão do juiz.

O regresso da ação trouxe um Gil ligado a espaços no último terço e espaço de sobra para Chiquinho fazer abanar a retaguarda anfitriã. No miolo, Zaydou teimava em bloquear sempre que possível a sala de máquinas adversária e, como se não bastasse, mostrou-se o pensador da saída a jogar famalicense.

Insatisfeito, Campelos procedeu a uma quadrupla alteração - Fujimoto, Depú, Tiba e Tidjany foram a jogo - e as melhorias foram notórias. O angolano ficou perto de assinar regresso aos golos, Gabriel Pereira também ameaçou de cabeça, mas foi o Famalicão a redigir a segunda estrofe.

Chiquinho rabiscou o verso da tarde, ultrapassou a oposição num sprint estonteante e fuzilou as redes de Andrew. O momento levou o Gil do 8 ao 80 e, num abrir e fechar de olhos, Murilo recuperou a crença gilista, após contornar Luiz Júnior e atirar para o fundo da baliza.

Ligados à corrente, os galos voltaram a estar perto da igualdade por Depú e Murilo. De resto, o extremo brasileiro esteve próximo de virar o artista maior da salvação gilista, mas, na hora da verdade, claudicou da marca dos onze metros e os três pontos seguiram mesmo para Famalicão.

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