Portugal defende na ONU investimentos na prevenção de conflitos

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Num debate de alto nível do Conselho de Segurança para abordar o impacto das alterações climáticas e da insegurança alimentar na paz e segurança internacionais, a representante permanente de Portugal junto da ONU, Ana Paula Zacarias, considerou a prevenção a "espinha dorsal" das Nações Unidas e avaliou que essa deve ser a abordagem face aos múltiplos e cada vez mais complexos desafios que a comunidade internacional enfrenta.

"É por isso que Portugal celebrou recentemente acordos com Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, dois Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, para converter a dívida em investimento climático. Acreditamos que estes são passos concretos para promover a resiliência e fomentar a prevenção e a construção da paz", deu como exemplo a diplomata.

O debate de hoje foi convocado pela Guiana - país que preside este mês o Conselho de Segurança da ONU -, com o objetivo de promover uma maior compreensão, respostas mais coordenadas e abordagens proativas às ligações entre a insegurança alimentar e as alterações climáticas num contexto de paz e segurança. 

No seu discurso perante o Conselho de Segurança, Ana Paula Zacarias sublinhou que o conflito continua a ser o maior desafio para acabar com a fome, observando que a invasão da Ucrânia pela Rússia é um exemplo disso e que a perturbação dos mercados globais teve maior impacto nos países em desenvolvimento.

Além disso, continua-se "a testemunhar situações, em diferentes cenários de conflito, em que os alimentos são usados como armas contra civis", disse a diplomata.

"Enfrentar os impactos inter-relacionados das alterações climáticas, da insegurança alimentar e dos conflitos exige uma variedade de soluções. Por um lado, precisamos de medidas humanitárias imediatas para apoiar as populações locais, especialmente as mais vulneráveis, incluindo mulheres e crianças, como em Gaza, no Haiti e no Sudão, para citar apenas alguns", apontou.

Por outro lado, indicou a embaixadora, são necessárias soluções a longo prazo, "como a transformação dos sistemas alimentares para criar resiliência" que, por sua vez, "exigem o envolvimento das comunidades locais e o estabelecimento de parcerias, nomeadamente através de organizações regionais", para dotar "os países em desenvolvimento das competências, tecnologias e financiamento necessários".

Ao contrário dos representantes da Rússia e da China, que questionaram se o Conselho de Segurança seria o fórum onde as questões climáticas deveriam ser abordadas, Portugal encorajou o Conselho a continuar a mandatar as operações de manutenção da paz da ONU e as missões políticas especiais para avaliar os riscos de segurança relacionados com o clima e conceber respostas adequadas.

"O impacto das alterações climáticas na segurança deverá ser considerado em toda a agenda do Conselho", defendeu Ana Paula Zacarias.

O debate foi aberto pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que lembrou que em 2022 o clima e os conflitos armados foram as principais causas de insegurança alimentar aguda para 174 milhões de pessoas.

Entre os países que mais sofrem com a relação entre fome e conflito, Guterres citou os casos da Síria, Myanmar, Gaza, Haiti, Etiópia e Sudão, lugares onde milhões de pessoas se tornaram dependentes da ajuda internacional para se alimentarem.

"É angustiante ver os Governos gastarem pesadamente em armas, ao mesmo tempo que privam os orçamentos para a segurança alimentar, a ação climática e desenvolvimento sustentável mais amplo", disse.

Guterres alertou ainda que quatro em cada cinco das pessoas mais famintas do mundo estão em Gaza, onde "ninguém tem o que comer", e advertiu que provocar deliberadamente fome a civis pode constituir crime de guerra.

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