«Palavras à Sorte» é a rubrica diária dos jornalistas do zerozero durante o Euro 2024. Todos os dias, na Alemanha ou na redação, escrevemos um apontamento pessoal sobre a competição e todas as sensações que ela nos suscita.
«Portugal é o melhor país.»
Apurei os sentidos. A simplicidade da frase num elogio poderoso, escutado no autocarro entre Bochum e Gelsenkirchen.
Olhei disfarçadamente para trás. A criança, não mais do que duas mãos cheias em idade, falava para a mãe. Continuei a escutar.
«O Ronaldo é o melhor. Ele é árabe?» A pergunta inocente de quem vive num país acostumado à diversidade.
«Não, filho.»
«É de onde?»
A mãe, que segurava o carrinho de bebé da outra criança, fez-lhe o favor. No telemóvel, pesquisou.
«Madeira.» O miúdo não reagiu. Terá ouvido o nome da nossa «Pérola do Atlântico» pela primeira vez, com certeza. Mas insistiu.
«Como é que se diz ‘não’ em português?»
A mãe, pois claro, respondeu à curiosidade.
«Não», disse a voz do tradutor.
«Não», repetiu o miúdo, debatendo-se com o til. «E homem?» A mesma voz computorizada. «E carro?»
Delicie-me com a genuína curiosidade daquela criança, sentada num autocarro algures na região do Ruhr alemão. Cristiano Ronaldo: referência, ídolo, bandeira. Portugal como encanto para quem, provavelmente, nunca lá esteve.
As vitórias em campo têm ajudado a seleção nacional a afirmar-se como uma das candidatas a vencer o Euro 2024. Na Alemanha, na Europa e no mundo não há quem não conte com a equipa das «Quinas» e poucos haverá que não saberão dizer Bernardo, Bruno, Pepe, Vitinha ou... Ronaldo.
Ainda assim, num domingo pacato de junho, sentado no autocarro 302 que liga as cidades operárias de Bochum e Gelsenkirchen, escutar a curiosidade límpida de uma criança acerca de Portugal foi especial.
Sorri, disfarçado. Talvez a vitória de ontem frente à Turquia me tenha deixado mais emocional. Ou o facto de hoje ser noite de São João no meu querido Porto.
Portugal é o melhor país. Da Madeira ao Porto e num autocarro no Ruhr.