Possíveis entendimentos pós-eleitorais dominam a campanha nos Açores

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Habitação, transportes, pobreza, turismo, saúde, ensino, agricultura e pescas estiveram entre os temas das ações de campanha para as eleições de domingo, com críticas à atual governação PSD/CDS-PP/PPM, mas também à anterior gestão socialista (no poder por 24 anos, 20 dos quais com maioria absoluta), e muitos dedos a apontar a necessidade de mais apoios aos diferentes setores por parte do Governo Regional.

Os apoios políticos foram também ganhando espaço no debate público e nas respostas aos jornalistas, com o PS a insistir na mobilização dos eleitores para que o arquipélago não se torne na "primeira região do país onde a extrema-direita entra formalmente no governo".

Na base do alerta, explicou o líder regional e anterior presidente do executivo, Vasco Cordeiro, novamente candidato, está o entendimento de incidência parlamentar entre a coligação PSD/CDS-PP/PPM e o Chega assinado em 2020, quando os socialistas ganharam as legislativas açorianas, mas perderam a maioria absoluta, surgindo então a alternativa de direita. Na altura, para garantir a governação, os sociais-democratas assinaram ainda um acordo com a IL, que o rompeu em março de 2023.

Tanto o presidente do PSD/Açores e do Governo Regional, José Manuel Bolieiro (candidato pela coligação), como os líderes nacional e regional do Chega, André Ventura e José Pacheco, negaram haver já uma aliança, como afirmou Vasco Cordeiro.

Do Chega chegou a resposta de que o único acordo existente é "com o povo açoriano", mas também a afirmação de que o seu objetivo é integrar um governo de direita, desde que sejam assumidos compromissos para uma estabilidade política, económica e social.

Por seu turno, José Manuel Bolieiro pediu por várias vezes a maioria absoluta e acabou por dizer que não perspetiva a integração do Chega num futuro executivo: "Não faz parte do meu cenário", afirmou, após ter dito que se conformará "com a soberana vontade do povo" e que manterá a "humildade democrática para o diálogo".

"José Manuel Bolieiro disse que é o povo que decidirá. Ele disse só que não está na perspetiva dele, mas isso... a perspetiva dele não é a perspetiva do povo açoriano. Os açorianos decidirão se querem um governo de maioria absoluta ou não querem, se querem uma maioria de esquerda ou uma maioria de direita, e que peso relativo querem dar às coisas", reagiu André Ventura.

Pelo PS, o maior partido da oposição, as exclusões de entendimentos abrangem apenas o Chega e o ADN, coordenado na região por Rui Matos, que ambiciona entrar na Assembleia Legislativa com um ou dois deputados.

Também António Lima, do BE (atualmente com dois deputados), se empenhou no alerta de que é necessário afastar o Chega e "toda a direita que só criou pobreza a instabilidade", lamentando a falta de resposta dos socialistas ao desafio que lançou para dialogar.

Entre os partidos com representação parlamentar na legislatura que agora termina, e esperando também ter conseguido passar as suas mensagens e propostas, o deputado da IL, Nuno Barata, espera ser reeleito e ter pelo menos um colega de bancada, enquanto o deputado do PAN, Pedro Neves, disse acreditar na reeleição.

Carlos Furtado, eleito pelo Chega mas que se desvinculou do partido em menos de um ano, mantendo o seu apoio ao Governo Regional, é agora do JPP. O partido nascido na Madeira afirma-se entusiasmado com a estreia nos Açores e espera obter um dos 57 assentos parlamentares.

A CDU (coligação PCP/PEV), que em São Miguel concorre com Rui Teixeira, quer regressar ao hemiciclo depois de uma campanha em que defendeu a necessidade de haver estabilidade política, mas não "a qualquer custo", e o Livre, encabeçado por José Azevedo, prometeu que "fará a diferença" se conseguir entrar no parlamento.

A Alternativa 21 (MPT/Aliança), que viu validada apenas a lista do círculo de Santa Maria, não anunciou qualquer iniciativa de campanha.

Ao longo de duas semanas, diferentes ilhas contaram com os líderes nacionais de PS, PSD e CDS-PP, BE, PAN, PCP, Livre, Chega, IL e JPP estiveram presentes.

As eleições antecipadas dos Açores -- as primeiras na história da autonomia do arquipélago -- foram convocadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que dissolveu a assembleia após o chumbo, no final de 2023, do Plano e Orçamento deste ano.

O documento mereceu os votos contra do PS, do BE e da IL, e as abstenções do Chega e do PAN. O deputado independente votou a favor.

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