PP levou Catalunha para campanha e pode perder Xunta para nacionalistas

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A Galiza, região espanhola na fronteira com o norte de Portugal com perto de 2,7 milhões de habitantes, deu sempre a vitória ao PP nas eleições autonómicas e isso voltará a acontecer no domingo, segundo todas as sondagens.

No entanto, desta vez as sondagens não dão a certeza de uma nova maioria absoluta (a quinta consecutiva) para o PP.

As últimas sondagens publicadas são de segunda-feira (a lei em Espanha não permite divulgação de estudos na última semana de campanha) e davam ao PP entre 36 e 40 deputados. Para a maioria absoluta são necessários, pelo menos, 38.

No único parlamento em Espanha em que não há extrema-direita, o da Galiza, só há mais dois partidos representados atualmente além do PP, ambos de esquerda: o BNG e o socialista (PSdeG-PSOE).

Neste cenário, se o PP perder a maioria absoluta, abre-se pela primeira vez a porta a um governo regional galego (conhecido como Xunta) liderado pelos nacionalistas do BNG, a segunda maior força na Galiza, numa 'geringonça' com os socialistas.

Algumas sondagens admitiam, na segunda-feira, a possibilidade de ser eleita também uma deputada do Somar (esquerda) e um do Democracia Ourensana, que tem acordos de governo com o PP na província e município de Ourense.

As últimas sondagens revelavam, por outro lado, uma perda de terreno do PP em relação aos primeiros estudos, publicados ainda em pré-campanha.

Nunca uma campanha do PP na Galiza, mas também do partido socialista, "foi tão nacionalizada", com temas como a amnistia dos independentistas catalães a serem colocados no debate, numa "hipernacionalização" dos discursos, disse à Lusa a professora e investigadora de Ciência Política Nieves Lagares, da Universidade de Santiago de Compostela.

Já depois de publicadas as últimas sondagens, o líder nacional do PP, Alberto Núñez Feijóo, envolveu-se numa polémica em torno, precisamente, da amnistia e dos indultos dos independentistas catalães.

Depois de ter sido sempre contundentemente, e por princípio, contra os indultos e a amnistia que o PSOE acordou com partidos separatistas, fazendo disso o foco do seu 'combate' político e mobilizando em torno dessa posição centenas de milhares de pessoas em manifestações nos últimos meses em Espanha, Feijóo fez agora declarações que são vistas como contraditórias e que desataram críticas dentro e fora do PP.

Num comício da campanha galega disse que, afinal, chegou a estudar a possibilidade da amnistia "durante 24 horas" e, num almoço com um grupo de jornalistas, admitiu dar um indulto, sob algumas condições, ao ex-presidente do governo regional catalão Carles Puigdemont, que vive na Bélgica para fugir à justiça espanhola.

Perante a polémica e as acusações de hipocrisia, Feijóo e a direção do PP tentaram amenizar estas posições, desviar a campanha para outros temas e defender-se acusando de manipulação jornalistas e oposição.

Sem sondagens desde segunda-feira, os analistas dividem-se sobre o impacto que esta polémica poderá ter no voto dos galegos no próximo domingo. Aquilo em que coincidem é que Feijóo, o homem que conquistou as quatro maiorias absolutas anteriores do PP na Galiza, antes de saltar para a política nacional em 2022, e que decidiu ser quase omnipresente na campanha regional, pode estar a arriscar nestas eleições o cargo que ocupa.

As eleições galegas são as primeiras desde as legislativas nacionais de julho de 2023, que Feijóo ganhou, mas sem conseguir chegar a primeiro-ministro, por causa de uma aliança de partidos de esquerda, nacionalistas e independentistas que manteve o socialista Pedro Sánchez no poder.

Feijóo "precisa de encarar estas eleições como uma revalidação da sua liderança na direção nacional" do PP e "a perda do governo da Xunta deixaria a sua liderança numa situação delicada devido ao seu envolvimento na campanha galega e à imposição das suas abordagens políticas nacionais nos temas da campanha", defendeu a investigadora Nieves Lagares.

O PP candidata nestas eleições Alfonso Rueda, que assumiu a presidência da Xunta em 2022, quando Feijóo passou a líder nacional do partido.

A sua principal adversária é Ana Pontón, do BNG, "um partido nacionalista de esquerda que nunca teve uma nítida expressão independentista" e que, com a atual líder, foi assumindo posições mais ao centro, desde 2016, tendo acabado por ultrapassar os socialistas, explicou Nieves Lagares.

Na reta final da campanha, Rueda pediu aos apoiantes do PP para não darem a vitória por garantida e irem votar, ao mesmo tempo que, na linha de Feijóo, tentou fazer um paralelismo entre o BNG e os separatistas catalães e bascos.

"Faço um apelo a todos os votantes do PSOE que não querem o separatismo, a todos os que querem um governo que una os galegos e aos que rejeitam uma Xunta dividida pelo separatismo", disse Alfonso Rueda num comício na quinta-feira.

Já Ana Pontón fechou a campanha a apelar ao voto útil para tirar a direita do poder.

"Estamos muito perto da mudança", disse na quinta-feira, acrescentando: "É o momento de todas as pessoas que querem abrir um tempo novo na Galiza, independentemente de quem votaram noutras eleições, apostarem tudo no BNG".

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