Presidente do BAD diz que África tem de estar à mesa e não "pedir" o lugar

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"Ajuda-me enquanto estou vivo, não me ajudes quando estiver morto", disse Akinwumi Adesina, citando um provérbio africano, ao responder à Lusa durante a conferência de imprensa final dos encontros anuais do BAD, que decorreram em Nairobi.

"O mundo é desigual e, no entanto, enfrentamos os mesmos desafios. Mas uns têm mais dinheiro para lidar com os desafios e outros não têm dinheiro suficiente (...) Estamos todos no mesmo barco, juntos, e por isso precisamos de mais recursos para esses países", defendeu Adesina, abordando o tema principal destes encontros de 2024.

O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento é a principal instituição africana de financiamento do desenvolvimento e está reunido em Nairobi desde segunda-feira para debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitetura Financeira Global".

"Quando se está a distribuir o dinheiro, não me passem para trás. Os países africanos sentem que estão a ser passados para trás, quer seja em termos de clima, quer seja em termos da resolução da dívida", criticou ainda.

Algo que, assumiu, tem de mudar "rapidamente", para que os países africanos possam também ser "mais rápidos na prestação do apoio necessário, o que é particularmente importante no caso das alterações climáticas".

"Por isso, temos de simplificar os processos através dos quais as pessoas e os países podem aceder aos recursos existentes. Não deviam ter de andar a pedir", defendeu Adesina.

Sobre a necessidade de reforma da arquitetura financeira global atual, insistiu que quando foram criadas estas instituições, África "não esteve lá".

"Quando o edifício foi construído, eu não estava lá. Por isso, quando o construíram, não me levaram em conta. E estou a pedir que aquele edifício, para fazer mais hoje, me leve em consideração. E com isto quero dizer que, para os países africanos, quando foram criadas as instituições de Bretton Woods [grupos Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional], os países africanos não foram para lá. E, portanto, não foram criadas necessariamente para os seus próprios interesses", apontou.

Assim, sublinhando o "mundo coletivo em que todos devem estar envolvidos", essas "instituições de então devem ter em consideração as necessidades, os requisitos, as esperanças e as aspirações daqueles que não estavam presentes na altura".

"Em segundo lugar, quando estão a comer à mesa, deem-me um lugar. Os países africanos estão a dizer que precisam de estar à mesa. Não se pode estar a falar por eles. Eles querem fazer parte da conversa", disse.

A edição de 2024 dos encontros anuais do BAD, avançou Adesina , contou com a presença recorde de mais de 8.200 participantes, entre políticos, governantes, economistas e especialistas de várias áreas, de todo o mundo, incluindo uma dezena de chefes de Estado e de Governo de países africanos.

O Grupo BAD conta com 81 Estados-membros, entre 53 países africanos e 28 países fora do continente, incluindo Portugal e Brasil.

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