Presidente do Irão promete vingança por atentado que fez mais de 100 mortos

8 meses atrás 56

Os números foram confirmados aos media estatais iranianos por Mohammad Saberi, chefe dos serviços de emergência da cidade de Kerman, admitindo que o número de mortos possa ainda subir.

Mostafa Khoshcheshm, um analista político iraniano, afirmou à televisão al Jazeera, do Qatar, que há várias crianças entre as vítimas mortais.

O governo designou entretanto esta quinta-feira como dia para "o país, a nível nacional, fazer o luto" , "após o incidente terrorista em Kerman", referiu a televisão estatal.

Várias horas após o atentado, a responsabilidade deste ainda não tinha sido reivindicada. 

O Governo iraniano apontou o dedo a um "inimigo", sem especificar. A palavra pode designar quer os Estados Unidos da América, quer Israel, que os ayatollah juraram destruir, quer ainda o grupo sunita Estado Islâmico ou ISIS.

Irão promete vingança
O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, publicou um comunicado a condenar o "acto cobarde" e "odioso" que fez 103 mortos, garantindo "castigo" para os responsáveis.

"Sem qualquer dúvida, os autores deste acto cobarde serão em breve identificados e castigados pelo seu acto odioso pelas capazes forças de manutenção da lei e da segurança", declarou.

"Os inimigos da nação deverão saber que tais ações não poderão nunca abalar a sólida determinação da nação iraniana", acrescentou Raisi.

O ministro da Administração interna e comandante dos Guardas da Revolução, Ahmad Vahidi, pediu por seu lado aos iranianos para não acreditarem em especulações nem espalharem rumores.

"O inimigo está a lançar operações psicológicas", afirmou à televisão estatal, revelando que os serviços de informação já dispõem de informação sobre as explosões, mas que esta só será revelada após ser revista e verificada.
O que sucedeu
A agência Tasnim reportou que os dois engenhos foram colocados em malas de viagem e aparentemente detonados remotamente. A versão contraria relatos anteriores que apontavam para dois bombistas suicidas. Nenhuma das versões foi confirmada oficialmente até à data.

Uma mulher disse à televisão estatal iraniana que uma das bombas foi colocada num contentor de lixo. "Não fiquei ferida, mas as minhas roupas ficaram cobertas de sangue. Tinha acabado de atravessar a rua quando a bomba explodiu", afirmou.


Ao site de notícias da agência semi-oficial ISNA, o representante de Kerman no Parlamento, Mohammad Reza Pour Ebrahim, afirmou por seu lado que a segunda explosão foi mais forte do que primeira, citando fontes anónimas no terreno.

"Estou neste momento no Hospital de Shahid Bahonar, em Kerman, para onde os feridos ofram transportados", referiu. "Todo o pessoal médico está mobilizado para ajudar os feridos".

O cemitério onde se deram as explosões foi entretanto evacuado e a área ficou sob controlo das forças de segurança, com as pessoas a serem alertadas para contactarem o Ministério da Informação se testemunharem alguma ocorrência suspeita.

A Tasnim referiu ainda que estão a ser negados rumores, atribuídos a "contas ligadas a Israel", quanto à morte de um alto responsável do Corpo de Guardas da Revolução Iraniana.
"Nuvens de guerra negras"
O general Qassem Soleimani, morto em Bagdade em 2020, era um homem-chave do regime iraniano e uma das personalidades mais populares do país. Foi morto num ataque levado a cabo por um drone norte-americano durante a guerra no Iraque.

A ocorrência de um atentado precisamente durante cerimónias em sua honra, quando o Médio Oriente vive dias de alta tensão devido ao conflito entre Israel e o grupo palestiniano Hamas, na Faixa de Gaza, não deverá ser simples coincidência.

"Tudo pode acontecer agora nesta região", opinou Marwan Bishara, analista político, entrevistado pela al Jazeera. Há "nuvens de guerra negras" a juntar-se sobre o Médio Oriente, acrescentou, depois de vários dias de escalada das tensões regionais.

"Há tanta violência contida, tanta tensão acumulada, tantos conflitos e tantas partes em movimento. Do Mar Vermelho à fronteira irano-iraquiana, ao Iémen, ao Golfo, basicamente em todo o lado na região há um candidato a um agravamento", referiu.

A questão na mente de todos os analistas e responsáveis é agora "quem foi o responsável" pelo atentado em solo iraniano
, como referiu Hassan Ahmadian.

"O presidente Raisi irá obviamente falar em vingança contra os que o realizaram, mas a questão permanece - quem foi?", afirmou à televisão qatari.

"O ISIS demonstrou que está disposto a fazê-lo para matar muitos civis. Ou Israel pode ter decidido escalar a guerra contra o Irão para o forçar a fazer algo que arraste os Estados Unidos para um conflito contra o Irão. Estas são todas possibilidades", acrescentou.

Os Estados Unidos têm acusado o Irão de estar a desestabilizar os Médio Oriente contra Israel em boicote aos Acordos de Abaraão
, usando os peões que controla na área, como a guerrilha libanesa xiita do Hezbollah, o grupo palestiniano Hamas ou os rebeldes Houthi do Iémen, que há anos financia e a quem fornece armamento.

As forças norte-americanas estacionadas no Iraque têm sido igualmente alvo de ataques por grupos armados pró-iranianos, com a complacência de Bagdade, abalando as relações americo-iraquianas.

Apesar de Teerão negar envolvimento nas recentes ofensivas do Hamas, do Hezbollah e dos Houthi, contra Israel, são poucos os que lhe dão crédito.
Condenação internacional
Um dos principais aliados do Irão, a Rússia, já veio condenar o ataque e o presidente Vladmiri Putin enviou condolências.

"O assassínio de pessoas pacíficas de visita a um cemitério é chocante na sua crueldade e no seu cinismo", escreveu Putin numa carta enviada a Raisi e ao supremo líder, o ayatollah Ali Khamenei.

Bagdade condenou em comunicado "o ataque terrorista em Kerman" e ofereceu assistência "para aliviar o impacto deste acto cobarde e criminoso". 

"Numa demonstração de solidariedade, o nosso governo está ao lado do Irão, expressando apoio tanto ao governo iraniano como aos seu povo nesta hora difícil", referiu o texto publicado pelo executivo iraquiano.


Também o braço político do grupo rebelde iemenita Houthi emitiu uma note de condenação do que apelidou "bombardeamentos cruminosos" no aniversário do "martírio" de Soleimani.

A União Europeia condenou igualmente "um acto terrorista", "nos termos mais fortes". 

"Este acto de terror teve um custo chocante em mortes e feridos civis. Os nossos pensamentos estão agora com as vítimas e as suas famílias. Os autores devem serresponsabilizados", referiu o comunicado emitido por Bruxelas.

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