Projeto editorial dedicado ao arquiteto Fernando Távora publica hoje primeiras unidades

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Em declarações à Lusa, a presidente da fundação, Fátima Vieira, explicou que se trata de um projeto que tem oito unidades, distribuídas por quatro volumes, que "dá a oportunidade de termos acesso a fontes primárias, a fragmentos, a pensamentos, a múltiplos escritos completamente inéditos de Távora".

Segundo Fátima Vieira, o primeiro volume é dividido em três tomos, que cobrem o período de 1937-1947.

"Os dois [de três] primeiros tomos do primeiro capítulo já foram publicados e são acompanhados por uma especie de `adenda`, que se chama `Dos meus livros` e que consiste na publicação de alguns excertos de livros da biblioteca de Távora", disse.

Fátima Vieira explicou que "para percebermos o pensamento de Távora, temos também de perceber o que ele leu. Nos dois livros hoje apresentados encontramos uma espécie de diálogo entre o tomo 1.2, intitulado `O meu Caso. Arquitetura, Imperativo Ético de Ser` [1937-1947] e a obra, `Dos Meus Livros`, mais pequeno, com 300 páginas".

"Conseguimos compreender que quando Távora fala sobre a função da arquitetura, sobre a relação entre a arte e a ciência, sobre a função social da arquitetura, tudo isso é fruto também das suas leituras. São dois livros que estão em perfeita sintonia, em perfeito diálogo", sustentou.

Todo o acervo do arquiteto Fernando Távora está à guarda da Fundação Marques da Silva.

É "um acervo vastíssimo, que inclui desde a documentação pessoal, com centena de fotografias de viagens, por exemplo, documentação curricular, enquanto professor de arquitetura, sobre a orientação de teses, toda a documentação profissional escrita e desenhada e um núcleo muito significativo da sua biblioteca, que integra poesia pessoana e literatura modernista portuguesa", considerou.

Neste período, 1937-1947, "encontramos já a semente das preocupações de Fernando Távora, que muito claramente diz: `A minha preocupação é uma preocupação social`".

É uma investigação que se "alonga no tempo", desde este primeiro volume, que começa em 1937, até ao quarto volume, que termina em 2021.

Trata-se de "um projeto editorial vastíssimo que estamos a desenvolver desde 2013 e sempre com a ajuda do professor Manuel Mendes, que não apenas edita estes milhares de documentos, com os quais lida, como também os organiza e os apresenta, com múltiplas notas".

"É um verdadeiro projeto de investigação, mas é um projeto de investigação que realmente nos dá acesso ao pensamento de Fernando Távora de forma direta. Não nos é descrito o pensamento, é dada voz a Fernando Távora. Eu diria que esta é a grande originalidade deste projeto. Nós lemos Fernando Távora como se estivéssemos a dialogar diretamente com ele", frisou Fátima Viera.

São quatro volumes, que se vão desdobrando em oito tomos, devido "ao número excessivo, diria eu, de páginas para cada volume. Houve uma necessidade de os desdobrar. Por exemplo, este tomo 1.2 completa 1.700 páginas", explicou.

A tal "adenda" ao projeto, a obra "Dos meus livros", reúne cerca de 300 páginas.

A obra está a ser publicada em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e a U.Porto Press, e o segundo título do primeiro volume contou também com o apoio à edição da Câmara Municipal do Porto.

Considerada figura determinante na afirmação do Porto, enquanto escola de referência no ensino da Arquitetura em Portugal, Fernando Távora (1923-2005) notabilizou-se como estudante da Escola de Belas-Artes do Porto -- escola fundadora das atuais faculdades de Arquitetura e Belas Artes da U.Porto --, pela qual se diplomou em 1952, com 19 valores.

Desenvolveu uma obra arquitetónica da qual o Mercado Municipal de Santa Maria da Feira (1953-59), a Casa de Férias no Pinhal de Ofir, em Fão (1957-1958), a reabilitação do Centro Histórico de Guimarães (1985-1992), a ampliação das instalações da Assembleia da República, em Lisboa (1994-1999), e o restauro do Palácio do Freixo, no Porto (1996-2003) são alguns exemplos paradigmáticos.

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