Promessa de metro no ramal da Lousã atraiu centenas de moradores há cerca de 20 anos

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Nos finais do século passado e início do novo milénio, o anúncio de que a velhinha automotora a diesel do ramal da Lousã, inaugurado em 1906, ia ser substituída por um moderno metropolitano ligeiro de superfície, despertou o mercado da construção em Lousã e Miranda do Corvo, e a procura de habitações por pessoas da cidade e arredores de Coimbra.

"Há cerca de 20 anos assistimos a um `boom` de vendas, com a deslocalização de pessoas da cidade de Coimbra para Miranda do Corvo, Lousã e Serpins (Lousã)", recordou à agência Lusa o consultor imobiliário Carlos Mingachos, diretor da Century 21 Investement da Lousã.

De promessas em promessas, os sucessivos Governos foram adiando a chegada de um novo, moderno e confortável meio de transporte de ligação à cidade de Coimbra e as esperanças de quem comprou casa nestes concelhos foram-se esfumando com o passar dos anos. Uns acabaram por ficar, mas outros venderam as casas e regressaram à sede de distrito.

"Como trabalho em Coimbra há 45 anos, há cerca de 20 decidi comprar habitação em Miranda do Corvo, próximo da estação ferroviária, com a perspetiva de ser servido por um moderno sistema de transporte, que seria uma forma fácil, cómoda e económica de me deslocar, mas isso nunca aconteceu", lamentou à agência Lusa António Barbosa, de 65 anos, natural de Penafiel.

Com o passar dos anos, a desilusão deste técnico superior da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) acentuou-se e, em determinado momento, também sentiu vontade de voltar a Coimbra com a família, mas "já não deu para mudar, porque nessa altura o apartamento valia menos do que o preço de compra".

"Fiquei muito desiludido por nunca ter vindo o metropolitano e não consegui mudar-me, porque houve uma grande desvalorização na altura em que toda a gente estava a vender para sair de Miranda do Corvo", disse António Barbosa, lembrando que, só no seu prédio, três condóminos regressaram a Coimbra.

Em finais de 2009 e início de 2010, "quando os carris da centenária linha ferroviária começaram a ser arrancados, assistiu-se a um fenómeno inverso, com as pessoas a venderem as casas e a mudarem-se para a periferia de Coimbra", recordou Carlos Mingachos, de 59 anos, que opera há 26 anos no mercado imobiliário nos concelhos da Lousã e Miranda do Corvo.

Com a interrupção das obras em finais de 2010, por razões financeiras, os utentes do serviço público ferroviário do ramal da Lousã começaram a ser transportados de autocarro, o que se mantém até à atualidade, gerando mais desconfianças sobre o projeto, que acabou por ser reformulado para a instalação de um metrobus (autocarro elétrico).

Os pais da psicóloga Sara França, de 37 anos, mudaram-se de Coimbra para Miranda do Corvo no ano 2000 atraídos pelo mercado de habitação mais aliciante e o comboio que garantia uma ligação rápida à cidade onde ambos ainda trabalham.

"Viemos para Miranda do Corvo, onde não tínhamos qualquer ligação, e por cá ficámos. Quando se falou mais num novo sistema de transporte para o ramal da Lousã, o meu pai dizia que ainda ia trabalhar de metro, mas passaram-se 24 anos e vai aposentar-se em julho sem concretizar esse desejo", enfatizou.

Sara França constituiu família em Miranda do Corvo e a falta de um sistema de mobilidade eficiente para Coimbra levou-a a ter de adquirir mais uma viatura para a família, já que trabalha por turnos, em Coimbra, e não consegue articular as viagens com o marido.

Com a iminente entrada em funcionamento do Metrobus entre Serpins e Coimbra, prevista para o final deste ano, o diretor da imobiliária Century 21 Investement da Lousã diz que se começa a perceber o regresso de pessoas, mas que "os promotores ainda não acreditam e não estão a apostar na construção".

O antigo construtor lousanense Osvaldo Lopes, que há 14 anos se dedica à mediação imobiliária, lembrou também que muitas famílias que compraram casa em Lousã e Miranda do Corvo regressaram novamente a Coimbra quando perceberam que o metropolitano de superfície não vinha.

"E agora, não basta as pessoas verem as obras quase concluídas e o modelo experimental do futuro metrobus, porque gato escaldado de água fria tem medo", reconhece o consultor imobiliário, que perspetiva uma "grande procura" de habitação nos dois concelhos atravessados pelo antigo canal ferroviário quando o novo sistema de transporte estiver a funcionar.

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