O crescimento do PIB pode ser dividido em crescimento da produtividade e emprego. Podemos encarar a primeira componente como representando a qualidade e a segunda a quantidade.
Desde 2000, o problema tem estado no fraquíssimo aumento da produtividade e não tanto do emprego, que tem evoluído de forma muito aceitável, estando a taxa de desemprego próximo dos mínimos das últimas duas décadas. Dito de outro modo, temos tido um crescimento em quantidade e quase nada em qualidade.
O cenário macroeconómico do PS baseia-se no Programa de Estabilidade, apresentado em Abril de 2023, que assume um forte recuo no potencial de crescimento, para o valor mais baixo desde 2016 (1,8%), um surpreendente reconhecimento de fracasso. Implicitamente, o que este programa diz é que o PRR e todos os outros fundos europeus não serviram e não vão servir para melhorar a nossa capacidade produtiva. Em vez de corrigir o passo, este partido insiste neste caminho, sem tentar melhorar nada de forma significativa.
A AD apresentou um conjunto significativo de reformas de liberalização da economia, com menor intervenção do Estado e menos impostos, que deverão permitir aumentar o crescimento da produtividade e do PIB potencial.
No entanto, no ano final do programa, a produtividade deverá crescer apenas 2,0%, pouco acima do valor de 1,7% projectado pelo PS (ainda que para 2027). Assim, uma parte excessiva do crescimento previsto para 2028 (3,4%) provém do aumento do emprego (1,4%), que é estimado expandir-se a taxas próximas desta.
Isto constitui um problema significativo porque: i) era preferível que o crescimento do PIB potencial fosse muito mais dependente do aumento da produtividade do que da subida do emprego; ii) o crescimento previsto do emprego parece excessivo, dada a fraca natalidade das últimas décadas; o nível muito elevado actual de emigração, que deverá ser difícil de reverter de forma significativa no curto prazo; os limites à atracção de imigrantes, sobretudo pelas graves carências de habitação, que também demorarão bastante tempo a corrigir.
De qualquer forma, um tão forte aumento do emprego não parece um objectivo muito razoável e reduzir a taxa de desemprego para 5,0% parece excessivamente optimista.
Finalmente, estranha-se a ausência de previsões da AD sobre as contas externas e as contas públicas, esperando-se que essa lacuna venha a ser corrigida em breve.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.