Quase 150 empresários raptados em Moçambique e uma centena deixaram o país

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"Já vão a caminho de 150. Abandonaram o país mais de uma centena. Não estamos a falar daqueles que exerciam cargos da administração ou direção, se contarmos com esses são muitos mais. Estamos a falar daqueles que detinham o capital, eram os acionistas das empresas", avançou, em conferência de imprensa, em Maputo, o presidente do pelouro de segurança e proteção privada da CTA, Pedro Baltazar.

Os últimos destes raptos de empresários aconteceram em Maputo, no sábado e na segunda-feira, um dos quais terminou com a morte de uma agente da polícia, numa troca de tiros com os raptores, armados, na via pública.

"Passados cerca de 12 anos desde a ocorrência do primeiro rapto, achamos que é tempo suficiente para que o Governo se pressione de forma mais pragmática a dar um basta a este mal. Por isso, reiteramos a necessidade de o Governo acolher as medidas propostas pelo setor privado", afirmou o dirigente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), reconhecendo o impacto de "biliões de dólares" na economia e no emprego no país.

"O fenómeno dos raptos está a trazer atrás de si um rasto de criação de um exército de desempregados. A cada rapto, a cada vez que sai o empresário de Moçambique, deixa atrás de si trabalhadores", enfatizou Baltazar.

Acrescentou que a CTA tem mantido encontros e comunicações com o Governo, a última das quais uma carta enviada em 17 de julho ao primeiro-ministro, Adriano Maleiane, e ao ministro do Interior, Pascoal Ronda, com recomendações, após auscultação dos empresários.

"A comunidade empresarial no seu todo tem estado a exercer pressão para que possamos tomar medidas radicais para pressionar o Governo. Vocês próprios já ouviram que os empresários, por exemplo, ameaçaram paralisar a atividade comercial. Como líderes temos estado a gerir estas pressões, o Governo é nosso parceiro e é por isso que optamos pelo diálogo. Mas em algum momento podemos não conseguir suster esta pressão e as medidas que os empresários têm estado a propor entrarão em marcha", advertiu.

Em concreto, os empresários insistem em "medidas estratégicas", nomeadamente ao nível a revisão das molduras penais que envolvem estes crimes, porque "alguma coisa tem que ser alterada".

Querem também o "reforço do sistema de segurança nacional", com mais investimentos nas forças de segurança.

"O fenómeno dos raptos não se vai resolver com outras medidas que não passem por um investimento sério sobre as Forças de Defesa e Segurança, não vamos ficar à espera que ocorram milagres. Por exemplo, há um sistema que já foi implantado, que se calhar precisa de reparação, precisa de ser revisto, que é o sistema de vigilância nas cidades de Maputo e Matola, para já, como projeto-piloto e que a determinada altura foi abandonado", disse ainda Pedro Baltazar.

A terceira medida reclamada pela CTA é pela "criação e operacionalização da brigada especializada anti-raptos", há alguns anos em cima da mesa por parte do Governo: "Ouvimos uma vez o primeiro-ministro dizer que estava já em formação esta brigada. Entre esse discurso e a entrada em funcionamento dessa brigada parece que a distância é maior que daqui para Pemba [norte] e nós continuamos a insistir que é extremamente importante que essa brigada entre em funcionamento".

Para o responsável, se alguns dos empresários deixaram Moçambique devido à onda de raptos, gerindo os negócios do exterior, outros nem sequer arriscam entrar no mercado nacional.

"Os raptos têm vindo a desinibir a intenção dos investidores estrangeiros em Moçambique. Se até 2012 existia uma apetência muito grande em realizarem investimentos, neste momento, os que ainda esperam investir, retraem-se e não investem porque são informados pelos que cá estão. Os que cá estão, estão a equacionar seriamente a possibilidade de saírem de Moçambique", lamentou.

A polícia moçambicana registou até março um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime desde 2011, disse anteriormente o ministro do Interior.

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