«Quem é o Aves?»: conheça mais sobre o trabalho da SAD

2 horas atrás 17

A contratação de Guillermo Ochoa colocou a Vila das Aves e o AFS nas bocas do mundo.

Uma SAD com dois anos de história, que movimentou-se 300 quilómetros para norte, subiu da 2ª Liga à Liga Portugal Betclic na primeira temporada e garantia de quem governa: «Veio para ficar».

O zerozero meteu-se à estrada e foi até à Vila das Aves falar com o vice-presidente da SAD, Miguel Socorro, e o diretor desportivo Pedro Correia, para conhecer a realidade deste novo clube. Caro leitor, fique a saber que neste estádio, agora, há um hotel para os jogadores, maior comodidade para os adeptos, um novo ginásio e áreas comuns que fomentam o espírito de equipa.

zerozero: O Aves Futebol SAD é um projeto que já faz parte desta vila, mesmo que tem vindo ocupar um espaço histórico, mas que estava sem futebol.

Miguel Socorro: Houve esta possibilidade de movimentar a SAD de localidade e a escolha por Vila das Aves foi muito acertada. Havia aqui muita sede por futebol. A vila tinha futebol, mas nos distritais, estava orfã do futebol profissional e alguns problemas na formação. A nossa vinda para cá foi muito boa para as duas partes. Ficamos com toda a modalidade de futebol, temos mais de 200 atletas na formação, o futebol profissional correu muito bem, logo no primeiro ano com a subida de divisão. Temos tido uma grande aceitação por parte de todos os adeptos e da vila em geral.

zz: Mas no início terá existido alguma desconfiança.

MS: Sim. Houve alguma desconfiança fruto da experiência que o clube tinha tido com a passagem da última SAD pela Vila das Aves. Não correu nada bem, como é de conhecimento de todos. O clube ainda está a pagar dívidas, por causa dessa má gestão.

qHavia aqui muita sede por futebol. A vila tinha futebol, mas nos distritais, estava orfã do futebol profissional e alguns problemas na formação.

Miguel Socorro, vice-presidente SAD AFS

zz: Teve uma Taça de Portugal penhorada.

MS: Felizmente o município resgatou e está novamente na posso do clube. A nossa vinda para cá colmatou essa falha de futebol profissional.

zz: Mas vocês enfrentavam esse rótulo de ser mais uma SAD. Que trabalho fizeram, para as pessoas acreditarem em vocês?

MS: Quando viemos para cá, o presidente era o Henrique Sereno, que é uma pessoa que dispensa apresentações e mora aqui perto, portanto tinha um grande conhecimento sobre a localidade. Eu pela experiência que tenho no futebol e por também ser daqui de perto, tinha alguns conhecimentos de cá, as forças vivas da cidade apoiaram-nos muito e foram importantes para a nossa adaptação e credibilização junto da sociedade. Nomeadamente, a autarquia, a junta de freguesia, os bombeiros e outras forças vivas, como antigos presidentes do clube. Depois, o trabalho que desenvolvemos ao longo do dia-a-dia, que passou pelo melhoramentos das infraestruturas e o trabalho social. Tudo isso ajudou a mudar a ideia que poderiam ter sobre as SADs.

zz: Esta diferente em que sentido?

MS: Nós temos uma proximidade muito grande à comunidade. Estamos a apoiar muito o futebol de formação e a criar infraestruturas. Nós não somos melhores, nem piores, mas estamos a fazer um trabalho diferente. Desportivamente queremos estar muito bem, mesmo sabendo que não jogamos sozinhos. Queremos ser vistos de uma forma diferente. Fazemos algumas atividades sociais, tentamos ser um clube cumpridor e não é só junto da liga e com os jogadores, é também com fornecedores. Por exemplo, tentamos que os melhoramentos que são feitos, possam ser feitos por empresas da vila, ou do concelho, para trazer alguma riqueza às empresas. O futebol é um motor muito grande da economia e o futebol cá estava um pouco parado e agora voltaram a vir as pessoas, também por causa do futebol. Outro exemplo está no emprego que criámos. A maioria das pessoas que contratamos se não são da Vila das Aves, são das proximidades. Queremos gerar riqueza e que essa riqueza fique por aqui. Este não é projeto de curto prazo.

zz: E quer-se sustentado...

MS: Claramente.

zz: Fizeram uma espécie de revolução neste estádio: quanto é que já investiu no estádio?

MS: Já sabíamos que a vila tinha esta lacuna e queríamos trazer as pessoas de volta ao estádio. Somos um clube para os adeptos. Queremos futebol e adeptos no futebol e tínhamos de dar condições. Foi uma correria movimentar 300 quilómetros para a Vila das Aves e com tudo o que estava ali instituído. A primeira preocupação foi tratar de criar algo que tivesse um impacto direto na equipa de futebol. Acabamos com a sala de imprensa e criámos um ginásio, uma sala de imprensa nova, escritórios novos para a SAD e depois partimos para as condições para os adeptos. E fizemos um investimento num hotel, onde há um espaço para descansar, mas também a área de trabalho da equipa técnica com os jogadores, há espaço de lazer. A par disso, estamos a terminar o nosso centro de treinos, com dois campos relvados, que vai ser para o futebol profissional. Ao mesmo tempo, há o complexo desportivo, para a formação, onde foram feitas algumas obras de manutenção. Para este ano já tivemos de investir na iluminação, porque grande parte dos jogos são em horário noturno, assim como num placar eletrónico.

A imagem da subida na última temporada @zerozero

zz: Não quer atirar um valor?

MS: Não. Já investimos algum e vamos continuar a investir. Vamos ter que construir um novo sintético para as camadas jovens, pois cada vez temos mais atletas. Precisamos de condições e precaver o futuro.

zz: Esse é um ponto fundamental para conseguir convencer jogadores como o Guillermo Ochoa, ou o Zé Luís...

MS: Vêm de clubes com pergaminhos e com condições. Nós sabemos que para termos os jogadores a ter rendimento, temos de dar condições de trabalho. É fundamental. Eles sentem-se confortáveis e depois quem vai embora, vai passar uma boa imagem do clube.

«Uma fatia da nova centralização dos direitos televisivos devia ser destinada para a melhoria de infraestruturas»

zz: É sempre um ponto a favor.

MS: Entendemos, por exemplo, que com a nova centralização dos direitos televisivos, uma fatia devia ser destinada para a melhoria das infraestruturas. Se não houve fair-play sobre as condições, a verba vai toda para ordenados de jogadores e uma percentagem deveria ser aplicada nas infraestruturas.

zz: Acha que os clubes deveriam ser premiados por esses projetos ou haver uma obrigatoriedade.

MS: Compreendemos as dificuldades que a Liga tem, mas a verba que nos dão para infraestruturas é muito curta. Não dá para nada.

zz: E há muita obrigatoriedade.

MS: Correto. Ainda agora vamos investir num novo sistema de som e se houvesse uma maior distribuição da centralização dos direitos permitia ter melhores condições para o adeptos que cá vem, quer também para a venda do produto do nosso futebol. A par dos outros clubes, nós temos um défice orçamental que tem de ser colmatado com receitas extraordinárias, venda de jogadores. 

zz: Como é que a SAD negociou estes direitos televisivos com a subida de divisão?

MS: É algo que já está protocolado com a operadora, quando se assina o primeiro contrato para a 2ª Liga. Mas continua a ser uma verba curta, pois a exigência é outra, tivemos de melhorar a qualidade do nosso plantel e o preço dos jogadores é outro. Queremos ser minimamente competitivos. Fizemos um trabalho excelente, neste mercado. É um plantel equilibrado e que nos dá garantia de atingirmos os nossos objetivos, mas é um plantel caro. Infelizmente os clubes têm cargas fiscais enormes, o valor dos seguros também é muito alto.

Miguel Socorro com o zerozero no Estádio da Vila das Aves @zerozero

zz: Olham para a formação como sendo algo que vai servir a curto prazo a equipa principal?

MS: Entendemos que a formação é muito importante para a prática desportiva das crianças da localidade, é uma excelente via para formar homens. É um ponto de partida, a partir daí se conseguirmos fazer algum dos nossos jogadores passar para a equipa principal, melhor ainda. Mas temos a consciência que estamos numa zona onde há muita concorrência.

zz: Agora entrevistamos Pedro Correia, diretor desportivo do Aves Futebol SAD, para percebermos como foi possível trazer Ochoa, Piazón e Zé Luís para o AFS. Como foi possível isto?

Pedro Correia: Foi um desafio enorme da parte de toda a gente que fez com que a imagem da nossa equipa ficasse mudada. É uma equipa com cara de 1ª Liga, competitiva e com o claro objetivo de atingir a manutenção.

zz: Mas como se convence o Guillermo Ochoa?

PC: É uma boa pergunta. Acima de tudo, ele próprio se convenceu. Portugal é um campeonato excelente, com jogadores conhecidos mundialmente, um país muito bom para se viver e depois um conhecimento aprofundado sobre o projeto do Aves. Existiu, desde a primeira hora, uma curiosidade da parte dele e que demonstra todo o seu profissionalismo: ele quis saber quem era o Aves, qual o projeto desportivo... É um clube que está a fazer a sua história e por isso digo que foi ele que se convenceu. Felizmente, conseguimos trazer para o Aves e para o nosso futebol, um ícone do futebol mundial.

qAcima de tudo, o Ochoa convenceu-se com o projeto do Aves

Pedro Correia, diretor desportivo do AFS

zz: Tal como o Zé Luís, o Guillermo Ochoa chegou no último dia de mercado. Por vezes, estes jogadores são trunfos para conseguir contratar outro, mas com eles foi o inverso. Na história deste planeamento de época, quais foram as grandes preocupações que tiveram, na hora de escolher os jogadores?

PC: Houve várias fases. Com a equipa que subiu de divisão sentimos que devíamos manter os jogadores titulares, assim como os jogadores que são aposta de futuro. Mantivemos esses jogadores e são cerca de metade do plantel. Depois, tentamos trazer um perfil de jogadores diferentes: atletas com conhecimento de 1ª Liga, mas também atletas que chegam apostas de futuro. O caso do Tunde ficou em definitivo, o Issiaka Kamate que veio do Inter de Milão, o Rafael Rodrigues que veio emprestado pelo Benfica, o Rodrigo Ribeiro emprestado pelo Sporting, são jogadores jovens e de grande qualidade. É uma mescla de experiência e qualidade. Mas o desafio ainda é passar a credibilidade de projeto.

zz: Correto. Fazer tudo isso com um clube com pouco tempo não deve ser fácil. Falar com equipas, empresários, jogadores... Deve ser difícil.

PC: A pergunta que mais faziam era: Quem é o Aves?

zz: E o que respondia?

PC: Explicava todo o projeto e isso foi muito importante. Apresentava as pessoas, porque os jogadores gostam de saber disso, as infraestruturas e o caminho que queremos fazer. Explicava quais as nossas ideias para atingir esses objetivos e tudo isso ajuda. Depois, alguns jogadores sentem que precisam do espaço para voltar a reafirmar-se e sabem que podem ter isso no Aves. O Lucas Piazón passou um ano sem jogar, o Giorgi Aburjania esteve seis meses sem jogar, o Guillermo Ochoa queria um espaço para jogar, de forma a voltar a ser convocado para a seleção. Um Gustavo Assunção que não tinha espaço no seu anterior clube, o Jaume Grau que já esteve no Tondela e estava a passar por uma fase de alguma apatia de carreira... Por isso, há uma simbiose perfeita. Não veio para cá qualquer jogador, vieram os que queríamos. 

zz: Dos jogadores que trouxe para a Vila dos Aves quem é aquele que vai figuras nas revelações do zerozero?

PC: Temos em evolução o John Mercado, que fruto disso foi a chamada à seleção do Equador. Acredito que vamos ter uma excelente revelação, como jogador... Mas a nossa dupla de centrais também estão a ser revelações, neste início de temporada, mas acredito que teremos outros jogadores para aparecerem. Ainda não vimos o melhor da nossa equipa, nem individual, nem coletiva.

O Estádio da Vila das Aves viveu uma época histórica em 2023/24 @zerozero

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