"Ao aceitarmos as democracias, aceitamos todas as vozes", diz Marcelo

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Esta conversa foi transmitida hoje à tarde, em direto, pela Rádio Observador, onde Marcelo Rebelo de Sousa e o bispo de Setúbal participaram num programa de apresentação do novo disco de João Gil, intitulado "Só se salva o amor" -- iniciativa que não constava da agenda do Presidente da República divulgada à comunicação social.

Durante perto de uma hora, entre algumas canções tocadas e cantadas por João Gil, o chefe de Estado falou sobretudo sobre o 25 de Abril de 1974 e a evolução do país desde então, tendo apontado a pobreza como "o grande problema" em que Portugal falhou nestes 50 anos.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu que a taxa de risco de pobreza após transferências sociais se tem situado "entre os 17% e os 20%" e que em 2022 abrangia "um milhão e 700 mil" pessoas, observando: "É muita gente, e não é mais por causa das prestações socais".

"As prestações sociais é que fazem a diferença entre 41,8% e 17%. Há dois milhões e tal de pessoas dependentes das prestações sociais -- idosos, pensionistas e outros -- que acabam por reduzir a expressão da pobreza líquida, porque a pobreza bruta continua muito elevada. É muito elevada", considerou.

No plano político, o Presidente da República respondeu a quem questiona se atualmente "não há vozes que, questionando instituições ou questionando aspetos ou pilares da democracia, se chocam com a mensagem de Abril e com a mensagem democrática".

"Não. Nós, ao aceitarmos as democracias, aceitamos todas as vozes", contrapôs.

Segundo o chefe de Estado, ninguém deve ser calado, sejam "as vozes que concordam com o Governo, as que discordam do Governo, as que concordam com o Presidente, as que discordam do Presidente, as que concordam com os tribunais, as que discordam dos tribunais em si mesmos ou nas suas decisões, aquelas que mesmo discordam do funcionamento do sistema de partidos".

"Aprender a não calar essas vozes é fundamental, porque no dia em que começarmos a calar as vozes, começamos a calar as vozes começamos a viver em ditadura", defendeu.

Antes, o chefe de Estado referiu que ainda existe uma "direita saudosista do pré-25 de Abril" em Portugal, "que apesar de tudo tem saudades daquilo que era a sua vida e a sua conceção do império, a sua conceção da ditadura, a sua conceção da segurança, a conceção de autoridade".

Por outro lado, mencionou que há portugueses "saudosistas do 25 de Abril", que "continuam por aí e têm direito a continuar por aí, quer dizer, lutaram por um determinado 25 de Abril, esse 25 de Abril não ocorreu".

"E uma coisa boa é o seguinte: quem decidiu em cada momento que 25 de Abril podia e devia ser foi o povo, e umas vezes decidiu é mais à esquerda, outras vezes decidiu é mais à direita, ou é mais ao centro", acrescentou.

"É uma das diferenças entre democracia e ditadura", realçou.

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