"Cerca de 9 milhões de pessoas foram desenraizadas pela violência"

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"Cerca de nove milhões de pessoas foram desenraizadas pela violência, pelo total desrespeito pelo direito humanitário internacional, pela devastadora procura de uma solução militar pelas partes", declarou Grandi.

"Se não houver um cessar-fogo, se não houver tentativas sérias de paz pelas partes e os seus apoiantes, se não houver um financiamento significativo para a resposta, se não houver melhorias no acesso humanitário seguro - incluindo através das fronteiras e das linhas da frente -, por muito persistente e corajoso que continue a ser o trabalho das agências humanitárias, o enorme número de pessoas que necessitam de ajuda aumentará, e os deslocados no interior do Sudão serão os refugiados de amanhã", referiu Grandi. 

Segundo Grandi, os países fronteiriços do Sudão "abriram as suas fronteiras, mas estão a debater-se com números, logística, ameaças à segurança, comunidades de acolhimento pobres e, ao mesmo tempo, têm de enfrentar os seus próprios desafios. Sendo que o fazem quase sozinhos, com pouca ajuda internacional", referiu.

"A generosidade dos vizinhos do Sudão não deve ser tomada como garantida" e "os compromissos internacionais estão a ficar aquém", alertou. 

Grandi indicou ainda que a negligência internacional "agrava o sofrimento das pessoas - traumatizadas por bombas, violações, fome e falta de serviços".

"No último ano, assistimos a um aumento de 500% no número de sudaneses que chegam à Europa. E isto pode ser apenas o começo", declarou.

Deu ainda o seu testemunho, recordando que foi no Sudão, há 36 anos, que iniciou a sua carreira nas Nações Unidas.

"Vivi lá quando era jovem, no meio de pessoas comuns, aprendendo a apreciar a sua decência, hospitalidade e moderação", disse.

Esta guerra está a destruir também a classe média urbana que manteve o Sudão unido durante décadas, apesar da turbulência política e da má governação, afirmou.

"Tive uma experiência muito viva desta situação durante a minha visita em fevereiro", recordou, salientando que a paz tem de prevalecer antes que seja demasiado tarde.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou hoje que o mundo tem-se concentrado na escalada das tensões no Médio Oriente e esquecido do povo sudanês, defendendo uma solução política para travar o "horror" no país africano.

De acordo com o líder das Nações Unidas, por mais preocupantes que sejam os desenvolvimentos no Médio Oriente, "outras emergências dramáticas de vida ou morte estão a ser empurradas para as sombras".

"O mundo está a esquecer-se do povo do Sudão", sublinhou Guterres, assinalando um ano de guerra no país, que eclodiu em 15 de abril de 2023 na sequência de tensões sobre a reforma do exército e a integração de paramilitares nas forças armadas. 

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