"Desilusão" e "falta de ambição". O debate PS/AD aos olhos dos partidos

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O secretário-geral do Partido Socialista (PS), Pedro Nuno Santos, e o líder da coligação Aliança Democrática (AD), Luís Montenegro, encerraram, na segunda-feira, o ciclo de debates a dois para as eleições legislativas do próximo dia 10 de março.

A partir do Teatro do Capitólio, em Lisboa, os responsáveis foram os protagonistas de um debate pautado por acusações mútuas, em que nem faltaram referências aos antigos chefes de Governo Pedro Passos Coelho e José Sócrates. Entretanto, a maioria dos partidos com assento parlamentar já reagiu ao frente ao frente "mais visto de toda a série", tendo concordado, da Esquerda à Direita, que a troca de ideias foi escassa.

Quem não concordou com estas teses foram os próprios intervenientes do debate. Pedro Nuno Santos defendeu que o frente a frente "foi clarificador", tendo demonstrado que o PS "consegue garantir ao país estabilidade".

"Começa a ficar claro que o PS vai conseguir ganhar as eleições", disse o secretário-geral do PS, reforçando que os socialistas só governarão se saírem vitoriosos ou se alcançarem uma maioria. O socialista acusou, contudo, o líder do PSD de "manter um tabu", por não ter esclarecido a sua posição.

Luís Montenegro disse também estar "muito satisfeito com o resultado de todos os debates, incluindo com o de ontem", que apontou ser parte de um conjunto "muito esclarecedor".

"Fiz um esforço grande em todos eles para apresentar ideias da AD para mobilizar o país, para uma mudança que só está nas mãos das pessoas. E que só tem duas alternativa. A alternativa do PS e a da AD", acrescentou.

Ao mesmo tempo que assegurou não se ter sentido "nada intimidado" com a manifestação das forças de segurança que rumaram ao Capitólio, o líder do PSD lançou que "Pedro Nuno Santos concluiu que a AD vai vencer as eleições", o que justifica a eventual concessão de um governo minoritário.

"Concluiu também que o PS com o BE e o PCP não vão ter uma maioria parlamentar igual àquela que tinham em 2015. Como ficou de mãos atadas, quis dar uma de moderado e quis dar uma de, enfim, mais disponível para ter atitude construtiva. Mas ele pode querer enganar as pessoas - a mim não me engana", atirou.

As opiniões dos líderes foram, no entanto, uma minoria. Na ótica da líder do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, "todas as pessoas que estavam à espera de um debate que pudesse ser claro, sobre propostas e soluções, terão ficado desiludidas", disse, esta terça-feira. 

A bloquista foi mais longe, tendo argumentado que "nenhum partido sozinho terá maioria". "A única hipótese de uma maioria estável é uma maioria à Esquerda e em terceiro lugar", concretizou.

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, teceu considerações semelhantes, tendo apontando que "houve muita coisa que foi dita, muito confronto, mas soluções concretas para a vida das pessoas [não]".

Por seu turno, o porta-voz do Livre, Rui Tavares, também ecoou este sentimento, tendo considerado que o frente a frente "não esclareceu questões muito importantes do país a partir do próximo dia 11 de março".

"Neste momento, temos a política portuguesa dividida em três segmentos: um da Esquerda, que claramente já disse que falaria em conjunto, outro entre a AD e a IL, que também já demonstraram disponibilidade para negociar, e outro que é o da extrema-direita, com quem toda a gente diz que não negoceia. [...] Não é entre partidos individuais que isto se decide, é entre blocos que admitem sustentar uma solução de governo", complementou.

Mas, à Direita, os sentimentos não divergiram. É que, para o líder da Iniciativa Liberal (IL), Rui Rocha, "a solução para o país não esteve naquela mesa", onde "faltou ambição e coragem".

Já o presidente do partido de extrema-direita Chega, André Ventura, lançou que o PSD "vai preferir colar-se ao PS", uma vez que "os dois partidos são iguais". Nessa linha, o responsável criticou os dois líderes por serem "cúmplices do ambiente de degradação que se criou em Portugal" no que diz respeito à corrupção, tema que não foi abordado durante o despique.

"Tivemos um Governo que cai por força de corrupção, um governo regional que cai por força de corrupção e não temos de Luís Montenegro nem de Pedro Nuno Santos uma palavra sobre combate à corrupção. Não são em nenhum momento questionados sobre o combate à corrupção e nem sequer é confrontado o programa do PS", disse.

Recorde-se que o primeiro-ministro, António Costa, apresentou a sua demissão ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a 7 de novembro, devido a uma investigação judicial sobre a instalação de um centro de dados em Sines e negócios de lítio e hidrogénio, que levou o Ministério Público a instaurar um inquérito autónomo no Supremo Tribunal de Justiça que o visa.

O chefe de Estado aceitou de imediato a demissão do primeiro-ministro e formalizou a demissão do Governo a 7 de dezembro, com efeitos a partir de dia 8. Por seu turno, apontou a dissolução do Parlamento para 15 de janeiro, no contexto das eleições legislativas antecipadas, marcadas para 10 de março.

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