"Em Portugal os nomes na I Liga e II Liga não mudam. Vão rodando..."

9 meses atrás 67

João Prates é mais um exemplo da internacionalização do treinador português. O técnico natural de Foros do Mocho, no distrito de Portalegre, deu o 'salto' desde os clubes da região para a Arábia Saudita, Noruega e Lituânia. Países muito diferentes, com aprendizagens distintas. A experiência mais recente, no Dziugas, da I Liga lituana, acabou recentemente.

"Durante a renovação de contrato, em conversa com o presidente, senti que deviam ser melhoradas algumas coisas no clube. Este ano, senti que quase nada tinha mudado. Obtive a manutenção nos dois anos, que era o objetivo, e tive um 'extra' que foi chegar às meias-finais da Taça da Lituânia pela primeira vez na história do clube. Após dois anos, e sentindo que o clube não podia dar mais, entendi chegar ao final deste trajeto", conta João Prates, em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto.  

Depois de quatro anos no Vaulen, da Noruega, Prates chegou a um país com uma cultura desportiva bem diferente da norueguesa, e ainda mais da realidade portuguesa - é um "país de basquetebol", admite o treinador. "O Dziugas é um clube que está a dar os primeiros passos na Liga Lituana. Vai fazer a quarta época no principal escalão. Contextualizando um pouco, é o clube com o quarto orçamento mais baixo da I Liga. A nível de condições, são aceitáveis para fazer o nosso trabalho", admite. 

Mesmo assim, algumas lacunas no clube fizeram com que João Prates seguisse um caminho distinto. "A nível físico, tínhamos um relvado natural e outro artificial, onde fazíamos o nosso trabalho. A nível da estrutura do próprio clube é que faltava um pouco de organização. Não têm, por exemplo, um diretor desportivo. Muitas vezes pequenos problemas que acontecem aos jogadores ficavam a cargo dos treinadores. A nível físico estava ao nível de uma I Liga ou II Liga portuguesa. Os clubes lituanos de top-5 estão ao nível de uma I Liga", na opinião do técnico alentejano. 

8 manutenção na carreira .
A mais difícil, a mais saborosa, sensação indescritível pic.twitter.com/DBoII1Epto

— Joao Prates (@MisterJPrates) November 25, 2023

Aventura na Arábia Saudita (antes de estar 'na moda')

João Prates esteve três anos na Arábia Saudita, entre 2015 e 2018. Teve funções ligadas à formação de jovens jogadores - na equipa sub-20 do Hajer Club e coordenador de formação do Al-Batin, dois emblemas que militam na segunda divisão do país. O treinador admite que a ida de Cristiano Ronaldo "mudou o paradigma". 

"Era uma Liga que já tinha alguns nomes com passado na Europa mas ninguém como o Cristiano Ronaldo. Mudou o paradigma do campeonato saudita. Já em 2017 havia qualidade. O contexto não fácil. É difícil jogar naquelas temperaturas, o jogo não é tão intenso quanto na Europa. Mas eu no Hajer tinha cinco campos relvados para treinar. Em Portugal, a maioria das equipas não dispõe desse número. A nível de dinheiro, não é o mínimo problema", recorda João Prates.  

Antes de partir para o Médio Oriente, Prates treinava no Atlético de Reguengos, do antigo Campeonato Nacional de Seniores. A mudança drástica foi motivada pela "falta de oportunidades em Portugal". "Infelizmente, em Portugal os nomes na I Liga e II Liga não mudam, vão rodando entre os mesmos. Temos de olhar para o lado financeiro, a estabilidade da nossa vida. Falei com um agente, na altura, disse-lhe que estava a tentar sair para o estrangeiro, e felizmente apareceu a hipótese", conta.  

Temos de olhar para o lado financeiro, a estabilidade da nossa vidaJoão Prates gostava de voltar a treinar no nosso país, mas não "a qualquer preço". Só admite um projeto de I ou II Liga, sem desvalorizar a Liga 3, "dependendo do projeto". Na opinião do treinador, é difícil ter oportunidades quando se vem do futebol do interior do país. 

"É complicado. Comecei num clube muito pequeno, da distrital de Évora. depois fui para a II Divisão B no Elétrico de Ponte de Sôr, passei pelas escolinhas do Sporting e tive a primeira experiência nos seniores do União Montemor. Era uma equipa condenada à descida e aí atingi a minha primeira manutenção." Um cenário futebolístico que só mudou, necessariamente, quando decidiu emigrar. Agora, João Prates enfrenta um interregno profissional que faz parte dos 'ossos do ofício' de treinador.

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