O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, está a preparar-se para remodelar os principais cargos das lideranças política e militar do país porque "é necessário descanso". Porém, continua a especulação sobre a permanência ou a demissão do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valerii Zaluzhnyi.
Em entrevista ao canal italiano Rai News 24, o presidente ucraniano confirmou que está a considerar uma abrangente remodelação dos cargos de topo do país.
“É uma questão das pessoas que vão liderar a Ucrânia. É necessária uma redefinição, estou a falar de uma substituição de uma série de líderes estatais, não apenas no setor militar”, anunciou Zelensky.
Questionado sobre o destino do comandante das Forças Armadas da Ucrânia, Valerii Zaluzhnyi , o presidente argumentou, sem mencionar nomes ou pastas específicas: “Estou a refletir sobre esta substituição, é verdade, mas não se pode dizer que iremos substituir uma única pessoa e depois poderemos continuar (…) É uma questão que diz respeito a todo o grupo dirigente do país, que é grande e complexo”.
“Quando falo em rotatividade, tenho em mente algo sério que não diz respeito a uma única pessoa, mas à direção da liderança do país”, acrescentou.
Para vencer a guerra, que começou há quase dois anos após a invasão do território ucraniano pela Rússia, Zelensky vinca : “Devemos todos avançar na mesma direção, não podemos desanimar, devemos ter a energia certa e positiva, a negatividade deve ser deixada em casa”.
O líder ucraniano referiu sobretudo que as forças navais conseguiram obter "resultados positivos”, ao fazer a Rússia perder o domínio no Mar Negro e destruir “muitos” dos seus navios e garantindo um corredor para os cereais. No entanto, Zelensky admitiu que no terreno “há uma estagnação”.
“Em terra há um impasse, é um facto, porque faltou alguma coisa, houve atrasos nos equipamentos e atrasos significam erros. Lutamos contra terroristas que têm um dos maiores exércitos do mundo, são necessários meios técnicos modernos ", sublinhou o presidente ucraniano.A popularidade de Zaluzhnyi
Valerii Zaluzhnyi tornou-se popular entre os ucranianos por supervisionar as operações que travaram o avanço das forças russas sobre Kiev, no início da guerra. Também protagonizou os avanços militares ucranianos que recuperaram ao russos grandes áreas de território no sul e no nordeste.
Porém, o comandante das Forças Armadas tem acumulado divergências com o chefe de Estado sobre a forma como está a ser conduzida a guerra.
No ano passado, a tão anunciada contraofensiva de Kiev concretizou ganhos limitados contra as forças russas que foram posicionadas ao longo da linha de frente de mil quilómetros no sul e no leste da Ucrânia.
Em novembro, num artigo na revista The Economist, Zaluzhnyi comentou que a guerra tinha entrado numa “nova fase de desgaste”. Tal opinião colocada a circular foi mal recebida pelo presidente Zelensky.
No fim de janeiro deste ano, o comandante Zaluzhnyi expôs na CNN que algumas instituições ucranianas estavam a impedir o país de alcançar os objetivos, nomeadamente por não querem implementar “medidas impopulares” como a mobilização em massa, para garantir uma força de combate eficaz para igualar a superioridade numérica russa.
Valerii Zaluzhnyi | Viacheslav Ratynskyi - Reuters
Ainda sobre o apoio internacional
Para além de ter agradecido a mais recente ajuda da União Europeia, Zelensky espera também manter o apoio dos Estados Unidos, mesmo que o ex-presidente Donald Trump e o Partido Republicano regressem à Casa Branca após as eleições de novembro.
"Vivemos numa realidade em que algo muda todos os dias. Queremos acreditar que se houver mudanças nos Estados Unidos a linha [da política externa] será a mesma. No Partido Republicano há vozes radicais, mas também há muitas pessoas que apoiam a Ucrânia", afirmou durante a entrevista à televisão estatal italiana.
“Se tentarem reduzir o apoio à Ucrânia, haverá outro sistema geopolítico. Putin quebrará a nossa defesa, avançará e não irá parar facilmente”, alertou novamente Zelensky.
c/ agências