Reino Unido. Após 100 dias, Keir Starmer luta para recuperar popularidade

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Nas últimas semanas, a vantagem de 20 pontos percentuais do Partido Trabalhista nas sondagens relativamente ao Partido Conservador desapareceu, Starmer afundou em termos de consideração pelos eleitores, a maioria dos quais passaram a identificar este governo com desonestidade. 

Na origem dos problemas estão críticas sobre a quantidade de "prendas" que recebeu quando ainda estava na oposição, incluindo roupas, óculos e bilhetes para ver jogos de futebol e concertos da cantora Taylor Swift.

Durante a última legislatura, de 2019 a 2024, Starmer recebeu ofertas num valor de cerca de 100 mil libras (120 mil euros), substancialmente mais do que qualquer outro deputado. 

Embora a prática seja legal, a polémica prejudicou os índices de popularidade do executivo, que ao entrar em funções começou por avisar que teria de tomar "decisões difíceis" em termos orçamentais.

Entretanto, Starmer também foi forçado a substituir a chefe de gabinete devido às críticas de outros assessores governamentais depois de se saber que o salário de Sue Gray era maior do que o do primeiro-ministro. 

"Foi provavelmente a lua-de-mel mais curta desde a de Britney Spears", ironizou a jornalista Helen Lewis na BBC, numa referência à tumultuosa vida amorosa da cantora norte-americana.

O politólogo Tony Travers sublinha que os trabalhistas "conseguiram prejudicar-se a si próprios no espaço de dois meses e meio após terem chegado ao poder e os conservadores [na oposição] não tiveram de fazer nada".

Pouco carismático, Keir Starmer nunca foi um político popular mas conduziu o partido ao poder graças à imagem de seriedade e competência, que foi abalada por "coisas triviais de que o eleitorado realmente não gosta, como aceitar prendas e a sensação de que há uma guerra civil dentro do governo".

No entanto, Travers não acredita que estes contratempos ponham em risco os planos do Governo porque o Partido Trabalhista tem uma grande maioria absoluta no parlamento. 

"As distrações das últimas semanas são distrações, mas não prejudicam a capacidade central de governar", afirmou o professor da universidade London School of Economics à agência Lusa.

Ao tomar posse, Starmer assumiu como missões aliviar a falta de habitação, melhorar os serviços públicos, promover a transição energética e fazer a economia crescer.

Porém, o início do mandato não foi o melhor: logo na primeira semana teve de anunciar a libertação antecipada de centenas de criminosos devido à falta de capacidade das penitenciárias.

Dias depois, enfrentou uma série de motins violentos no Reino Unido, alegadamente instigados pela extrema-direita para protestar contra a imigração. 

No final de agosto, Keir Starmer avisou o país de que o orçamento de Estado, que será apresentado em 30 de outubro, será "doloroso" devido ao "buraco" de 22 mil milhões de libras (26 mil milhões de euros) deixado pelos conservadores.

Como consequência, aboliu o pagamento de uma subvenção anual de 200 a 300 libras (240 a 360 euros) aos aposentados para pagar o aquecimento durante o inverno, limitando-a àqueles com menores rendimentos.

Esta decisão "cruel" resultou na rebelião de sete deputados, entretanto suspensos pelo Partido Trabalhista, na demissão da deputada Rosie Duffield, críticas generalizadas da oposição, sindicatos e organizações cívicas. 

Todas estas polémicas ofuscaram uma série de propostas de lei submetidas nas primeiras semanas do Governo, concretizando várias das promessas feitas durante a campanha eleitoral. 

Desde julho, o executivo avançou com reformas ao planeamento do território para facilitar a construção de casas e infraestruturas, lançou a GB Energy, que vai investir nas energias limpas, levantou o embargo à instalação de torres eólicas em terra e proibiu que os deputados tenham segundos empregos.

Também foi apresentada legislação para reforçar os direitos dos trabalhadores, para proteger os arrendatários, para nacionalizar os caminhos de ferro e para acabar com os membros hereditários da Câmara dos Lordes. 

Mesmo assim, ao fim de apenas três meses no poder, 59% dos britânicos mostraram-se insatisfeitos com a atuação do governo até agora, segundo uma sondagem da YouGov publicada na sexta-feira, e só 18% aprovam. Dos inquiridos, 63% têm uma opinião desfavorável de Keir Starmer e só 27% são positivos. 

As atenções estão agora no orçamento que a ministra das Finanças, Rachel Reeves, vai apresentar no final do mês, a cuja demora alguns analistas atribuem o "vácuo" que acabou preenchido com notícias negativas. 

"O Governo espera conseguir esquecer o seu início difícil' nessa altura, escreveu o politólogo Anand Menon na página do centro de estudos UK in a Changing Europe, porque "os primeiros 100 dias do Partido Trabalhista suscitam mais perguntas do que respostas". 

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