«Rejeitei o Benfica porque ia ter um salário baixo e um contrato longo»

4 meses atrás 44

Na hora do adeus aos relvados, Afonso Figueiredo volta a momentos marcantes do seu percurso. Ao verão de 2016, por exemplo, quando era o lateral da moda em Portugal, por responsabilidade de uma época de nível excelso no Boavista. Nesse mercado de transferências, Afonso rejeitou um convite para jogar no Benfica e optou pelo Rennes, na Ligue 1. As justificações estão nesta grande entrevista. A partir de agora, livre, poderá viver sem amarras o seu amor pelo Sporting. 

zerozero - Em 197 jogos oficiais no futebol profissional, o Afonso fez apenas um golo. Na formação era mais goleador ou nunca teve uma boa relação com a baliza adversária? 

Afonso Figueiredo - Eu jogava em zonas mais adiantadas e fazia mais golos. Mas sempre fui uma pessoa emotiva e em frente à baliza precisamos de tudo menos de emoções. Antes da bola eu já estava a pensar no festejo (risos). Isso tirava-me discernimento na finalização. Lembro-me de ter uma grande oportunidade em Alvalade, a bola sobrou para mim, chutei de primeira e o Rui Patrício encaixou. Não me perdoo. Ao ver em casa, depois, pensava como é que tinha falhado aquilo. 

zz - O único golo foi em Setúbal, ainda pelo Boavista. 

AF - Tive um momento de inspiração. Foi um belo golo. Mais valem poucos, mas bons (risos). O mercado ainda estava aberto e lembro-me de pensar que ainda poderia sair do Boavista nesse verão. Foi com aquela camisola que ali está [Afonso aponta para o equipamento axadrezado], até a ofereci no final do jogo ao meu pai. Hoje a camisola está comigo e é especial. Faltou-me ser mais controlado emocionalmente, para ser melhor nas minhas ações. Incluindo a rematar. 

qSempre tive o desejo de voltar ao Boavista. Infelizmente, as coisas nunca se proporcionaram. Há alguma tristeza, claro, mas consigo entender. Não guardo rancor a nada e isso permite-me estar livre na vida. Falarei sempre com carinho do Boavista

Afonso Figueiredo

zz - Desses quase 200 jogos há algum que tenha sido perfeito e outro que o tenha deixado mesmo em baixo? 

AF - É mais fácil lembrar-me dos melhores. Recordo-me de um Boavista-Vitória de Guimarães. Eu sempre adorei esses jogos, para mim sempre foram os mais fáceis. Os Boavista-FC Porto, ir a Guimarães, precisava desses jogos grandes e era neles que me sentia bem. Nesse jogo contra o Vitória entrámos a perder e virámos para 3-1. Fiz uma assistência para um golo do Zé Manuel e «expulsei» dois jogadores do Vitória. Não posso dizer que estou orgulhoso com isso (risos). Eu era muito competitivo, dentro do campo era uma pessoa muito diferente. Havia um Afonso lá dentro e outro cá fora. Numa simulação acabei por provocar o segundo amarelo a um jogador do Vitória [Bernard Mensah]. Isso acabou por desbloquear o jogo. Bom jogo, boa vitória, eu nas semanas seguintes andava com um ego... (risos)

zz - E um jogo negativo, frustrante?

AF -

Tive alguns em que as coisas não me correram bem. Escolho o último que fiz pelo Desportivo das Aves, em Portimão. Numa época cheia de problemas, com salários em atraso e sem condições, acabei por ter o prazer de receber umas palavras bonitas do Jackson Martinez no final. Esse jogo custou-me muito. Sempre idolatrei o Jackson e tivemos uma boa conversa. Eu sabia que era o meu último jogo naquele clube, sentia a tristeza daquelas pessoas. Não estive muito bem nos golos deles, reconheço. Eles marcaram de bola parada, eram jogadores altos e acho que facilitei ali um bocadinho. Não me vou esquecer desse jogo, pelos piores motivos. 

zz - A passagem pelo Boavista foi forte e havia sintonia com o clube e os adeptos. Nunca houve vontade mútua para um reencontro?

AF - O Boavista vai estar sempre presente na minha vida. Casei com uma boavisteira, mas não é só por isso. Não nasci boavisteiro, mas sou boavisteiro. Agora percebo como é possível os jogadores ficarem a gostar tanto de um clube. Vou levar o Boavista no coração a vida toda. Entristece-me um bocadinho [nunca ter voltado]. Saí do Boavista para um clube melhor no estrangeiro, não dei retorno financeiro, mas não dei porque nunca tive propostas de renovação nos tempos certos. O clube não tem culpa, mas a forma como me trataram... ainda assim, sempre senti que deixei a porta aberta. Não fui para nenhum rival, não continuei em Portugal e sempre tive a esperança de voltar ao Bessa. Voltei, mas com outras cores. Sempre tive o desejo de voltar ao Boavista. Infelizmente, as coisas nunca se proporcionaram. Há alguma tristeza, claro, mas consigo entender. Não guardo rancor a nada e isso permite-me estar livre na vida. Falarei sempre com carinho do Boavista. 

zz - Essa época de 15/16, com a mudança para a Ligue 1 e a chegada à seleção, foi a melhor do Afonso ou escolheria outra? 

AF -

Foi a melhor, sem dúvida, e foi aquela onde senti mais prazer. Ia para os jogos com muita confiança, tive um público sempre a ajudar. Os meus colegas até brincavam comigo (risos). 'Ah, és o menino novo, podes fazer tudo e eles aplaudem'. O clube, os colegas, os adeptos, até as dificuldades que sentíamos me deram gosto. Nós tínhamos subido da 3ª divisão e tivemos uma época fantástica. Cumpri o sonho de ir à seleção [sub21] no último ano em que isso era possível acontecer, porque na formação isso nunca tinha acontecido. Só tinha ido a treinos, mas só aí me tornei internacional. 

zz - Em 2016 era o lateral da moda em Portugal. O que o levou a optar pelo Rennes em detrimento do Benfica, por exemplo, outro clube que o pretendia? 

AF - É muito fácil de explicar. Eu não tinha empresário, quando já estava muito bem no Boavista. De repente tive uns 12 empresários a quererem falar comigo. Sempre lhes disse o mesmo: 'Quero jogar futebol, desfrutar e deixo essas coisas para os meus pais'. Fui jogador porque tive um suporte familiar enorme e foram eles a ajudar-me sempre a tomar as decisões. Em janeiro de 2016 passei a poder assinar por qualquer clube, porque o meu contrato acabava em junho. O Boavista sabia disso e nunca me chegou nenhuma proposta de renovação. A mim e ao Zé Manuel. Isso acaba por magoar um bocadinho. Tenho a certeza de que se o Boavista tivesse sugerido a renovação até janeiro, eu teria assinado. Foi o Boavista que me permitiu jogar na I Liga e queria retribuir isso. 

Tudo saiu bem a Afonso no Bessa @Catarina Morais

zz - Mas a proposta de renovação não apareceu. 

AF - Havia coisas que eu não dominava e apareceu o interesse do Benfica. Sugeriram um contrato longo, com um salário baixo. Isso deixou-me a pensar: 'Será que vou ser só mais um a assinar, para depois andar emprestado?'. O Rui Vitória apostava nos jovens, as coisas até podiam resultar, mas tive outros clubes de Portugal a oferecerem-me salários bastante mais altos do que o Benfica. O Rennes apareceu e eu não tinha a noção do poderio económico do clube e da Ligue 1. 

zz - Esse poderio económico foi decisivo. 

AF - Gosto sempre de lembrar que nesse verão de 2016 saíram três laterais esquerdos de Portugal para França: eu, o Marçal (Benfica) e o Lucas Lima (Arouca). Eu fui para o melhor clube, o Rennes era bem superior ao Nantes e ao Guingamp. Para mim não foi o melhor dar esse passo tão grande, mas a nível financeiro... ainda bem que hoje há a Arábia Saudita, porque a carreira é curta e os jogadores dependem muito desse lado. Sempre tive o cuidado de olhar mais para a frente. Por muito jovem que fosse, senti que tinha de aceitar. Foi por isso que optei pela Ligue 1. 

zz - A abordagem do Benfica não detalhava os planos desportivos do clube para si? 

AF - Não, porque essa proposta surgiu-me através de um empresário mais próximo ao Benfica e não do meu empresário. Reunimos no Edifício Transparente, na praia de Matosinhos, e o meu pai veio de Lisboa para estar presente. O meu pai é muito sportinguista, mas eu disse-lhe que ia para o Benfica, não queria pensar duas vezes. Os meus olhos brilharam, disse que queria ir, tinha o sonho de jogar num grande de Portugal. Mas, depois, começaram a dizer-me os valores, a duração de contrato e eu tinha ofertas superiores de outros clubes portugueses. Quem sabe se eu tivesse assinado, mesmo com um salário baixo, não teria jogado e tido sucesso no Benfica? Quando tomamos as decisões, nunca sabemos o que vai acontecer. A parte financeira ajudou-me muito a optar pelo Rennes. 

«Nunca deixaria de ir para o Benfica por ser sportinguista»

zz - Aproveitamos esta menção ao Benfica para mudar de tema e falar do sportinguismo do Afonso, publicamente assumido nas redes sociais e vivido nos estádios. Apesar dessa paixão, seria normal vestir a camisola do maior rival? 

AF - Seria normal, sim. Eu assumi esse sportinguismo publicamente quando fui para França. Acho que não tem mal nenhum, nunca confundi as coisas, todos os meus colegas sabiam dessa paixão. Rejeitei o Benfica pelo salário baixo, senti que não ia ser fácil ser opção lá.

zz - E defrontou muitas vezes o Sporting. 

AF - Era o jogo em que eu queria jogar melhor, porque estaria assim mais perto de ir para lá. Lembro-me de um 0-0 no Bessa e de ouvir o meu irmão fanático pelo Sporting, logo no jantar a seguir ao jogo: 'Estavas a perder tempo, pá...'. Sabia que custava mais aos meus familiares do que a mim. Teria muito mais prazer a jogar no meu clube, sentimos outras coisas, mas nunca deixaria de ir para o Benfica por ser sportinguista. Para mim isso não faz sentido nenhum, eu quero é o melhor para mim. Ir para o Benfica ia dar-me coisas muito boas. 

zz - O Rúben Amorim é a prova dessa compatibilidade entre paixão e profissionalismo. 

AF - É um dos melhores exemplos que podiam dar. O Rúben é das pessoas que mais admiro e eu também já tenho curso de treinador. A estrada que eu gostaria de seguir é essa do Rúben. A forma como ele comunica... identifico-me em tudo com ele. O que ele faz, o que ele é, é um grande exemplo. Toda a gente sabe que ele é benfiquista e isso não tem problema nenhum, ele nunca o escondeu. Por isso é que não entendo os problemas que criam quando alguém assume o clube. Já aconteceu comigo, depois de assumir o meu sportinguismo. Gosto muito que as pessoas sejam verdadeiras, desde que nunca deixem de ser profissionais. Não temos de misturar as coisas. 

zz - Esta época temos visto o Afonso a viver o seu Sporting em vários estádios. 

AF - Sem dúvida, tenho mais tempo e faço-me acompanhar do meu filho. Isso faz-me lembrar os velhos tempos em Alvalade com o meu pai, a partir dos três/quatro anos. Estou a continuar o legado familiar. Tenho um menino que vai comigo para todo o lado e é apaixonado pelo Sporting. Ele já nem me deixa ir sozinho (risos). Até estaria mais vontade, mas é um dos maiores prazeres que tenho na vida, ir ao futebol com o meu filho e passar-lhe um bocadinho do que eu recebi do meu pai. 

zz - Este é mesmo um dos melhores Sportings dos últimos largos anos?

AF - Ofensivamente é uma máquina, acho que o zerozero não me vai deixar mentir (risos). Tem sido uma máquina a fazer golos e é o Rúben mais equilibrado que temos. É verdade que ele já foi campeão, mas quem olha para este Sporting vê uma equipa mais controladora e que sabe o que tem a fazer em todos os momentos do jogo. No ano do título acho que não era tanto assim. 

«O Gourcuff salvou-me de pagar um jantar de quatro mil euros»

zz - O que guarda dos combates que travou em França contra o Mbappé e outros avançados de elite? 

AF - Sempre fui fã de playstation e o primeiro jogo em França foi logo contra o PSG. De repente estava ali a realizar um sonho. 'Consegui, estou no mesmo sítio deles e a defrontá-los'. Nesse jogo apanhei com o Lucas Moura pela frente. Os laterais levam com jogadores rápidos e técnicos. Vi muita qualidade na Ligue 1. Estou ali a ver a fotografia do Ricardo Quaresma e ele foi um dos adversários mais difíceis que algum dia apanhei. O Mbappé nessa altura estava no Monaco, a começar e já tinha uma velocidade impressionante. Por acaso não defrontei o Neymar, tive sorte (risos). Nesse jogo fiquei no banco e dava para sentir que os meus colegas estavam com medo, nunca sabiam o que ele ia fazer. 

zz - Sabemos que há uma história cheia de humor com o Cristian Gourcuff, seu treinador no Rennes. 

AF - Por acaso é com o Yoann Gourcuff, o filho (risos). 

zz - Fomos mal informados. 

AF - O pai treinava o filho no Rennes. Acho que o Yoann foi o melhor jogador com quem joguei. Ele teve uma atitude comigo que nunca esquecerei. 

zz - Vamos lá a essa história. 

AF - Tivemos um jantar da equipa, no Natal, só com jogadores. Nesses jantares também bebemos um bocadinho de álcool (risos). A malta teve a ideia de juntar os cartões de consumo todos num saco e de tirar um a um, até só restar um. Esse pobre coitado teria de pagar a conta toda. 'Ei, quanto é que isto custará?'. Nos últimos dez eu já estava a suar, a entrar em pânico. Fiquei eu e o Mexer para o fim, e eu acabei por ser a vítima. Foi um senhor que andava a vender rosas a tirar o último cartão. Toda a gente com o telemóvel a gravar, bem, um filme. Era um jantar de quatro mil euros. Eu habituado aos meus jantares no Porto, sempre tranquilos... vi-me nesse cenário, mas lá fui pagar a conta, todo triste. Estava a subir as escadas, o Gourcuff vinha a descer, toca-me nas costas e diz-me: 'Não te preocupes, está pago'. 

zz - O salvador Gourcuff. 

AF - Bem, eu podia pagar a conta, mas gostei do gesto. Eu era um miúdo acabado de chegar e ele teve o cuidado de se preocupar comigo. Foi tudo engraçado e ele teve uma atitude incrível, até porque tinha bem mais dinheiro do que eu (risos). Fazia-lhe menos falta a ele do que a mim, mas salvou-me de pagar esse jantar. 

zz - O balneário do Rennes era bom? 

AF - Era um balneário difícil. Muitos egos, muitos jogadores com passagem por grandes clubes. O Gourcuff era um dos exemplos bons, era muito simples. Em França eram quase todos muito exuberantes, ele não. Cheguei, havia um grupo de portugueses e se calhar isso também não ajudou à minha integração. Apoiou-me, sim, mas atrasou a adaptação. No último ano só estava eu e o Mexer, moçambicano, e fiz muitas mais amizades e comecei a falar francês muito melhor. 

«Treinadores mais importantes? Rui Jorge e Romeu»

zz - Quais foram as maiores amizades que fez no futebol? 

AF - Seria injusto falar só de um. Não tenho muitos amigos, mas tenho bons. Destaco o Ricardo Pereira [Leicester], que conheço desde os dez anos. É o padrinho da minha filha, nunca deixou de ser a pessoa que conheci há 21 anos. Eu também continuo a ser o mesmo e nunca deixámos que esta amizade desaparecesse. Às vezes isso acontece, mudámos de clube, cada um vai para o seu lado, mas a amizade com o Ricardo foi muito além do futebol. 

zz - Alguma vez ficou desiludido ou zangado com um colega de equipa? 

AF - Alguns, sim. Mas prefiro ficar com as coisas boas. Houve treinadores que me desiludiram bastante, houve colegas que me desiludiram bastante, mas todos erramos e temos momentos menos bons. Sempre fui muito otimista. Não esqueço as coisas más, mas reforço tudo o que tive de bom. 

zz - Qual o treinador mais marcante, aquele que mais aproveitou o Afonso e que pode servir de ensinamento para uma eventual futura carreira? 

AF - Tive ótimos treinadores. Sempre fui bastante observador. Os mais importantes terão sido os misters Rui Jorge e o Romeu, que me apanharam no Belenenses e depois de ser dispensado do Sporting. Mudaram a «vedeta» para um miúdo mais trabalhador e focado no queria. Foram os mais marcantes, tornei-me um jogador e uma pessoa diferentes. Foram os que tiveram mais influência na minha carreira. Tive outros bons. Na parte pessoal tenho de destacar o Ricardo Chéu, que apanhei no Estrela. Acho que foi o técnico que melhor leu as minhas características e conseguiu tirar o melhor de mim. Destacaria estes, mas tenho boa relação com muitos mais.

Não fui treinado por ele, mas gostaria de seguir os passos do Rúben Amorim, pelo que vejo e pelo que sei através de jogadores que trabalharam com ele. É um exemplo do que é ser justo com um balneário, coisa que é muito difícil. Já treinei miúdos e quando temos 22 jogadores a treinar bem, alguns vão sentir-se prejudicados. Essa experiência fez-me bem. Sempre gostei de mostrar aos treinadores que eles estavam errados. 'Ah não fui convocado? Então no treino dos não convocados vou mostrar que merecia ter sido'. A minha carreira foi muito assim: não ser a primeira opção e ir atrás das oportunidades.  

zz - No Boavista foi isso que aconteceu. 

AF - Foi, foi sim. Na oportunidade derradeira no Boavista, num jogo da Taça da Liga, jogaram os 'coca-cola' para ver como corria e eu fiz um grande jogo. Agarrei mais o público do que o treinador [Petit]. O público do Bessa é um tribunal e ficou do meu lado. Obrigou o Petit a colocar-me de início, era quase impossível ele não ter apostado em mim no jogo a seguir, frente ao Arouca. Foi a minha estreia na I Liga [4 de janeiro de 2015]. Estava preparado para aquela oportunidade, nunca deixei de trabalhar e acreditar. Lembro-me que nesse Natal anterior não quis beber ou comer nada de diferente. Sorte é quando a preparação encontra a oportunidade. Iniciei aí um novo ciclo. 

A equipa perfeita de Afonso Figueiredo

zz - Vamos à equipa perfeita da carreira do Afonso Figueiredo. Foram centenas de colegas, mas quais são os 11 titulares destes mais de dez anos? 

AF - Sei que há gente que vai ficar chateada comigo (risos). Os jogadores de futebol cobram muito. Joguei com muita gente cheia de qualidade, fui um privilegiado. Escolhi só colegas que estiveram comigo em Portugal. Na baliza coloco o Léo Jardim. Estive com ele no Rio Ave e é um guarda-redes fantástico. Estava a iniciar o percurso dele na Europa e fechava completamente a baliza. Dava muita segurança. 

zz - Avancemos para o quarteto defensivo. 

AF - Só joguei com ele na formação do Sporting e na seleção de sub21. O Ricardo Pereira sempre me preencheu e tinha de estar nesta equipa. Sempre tive muitos confrontos com ele no Sporting. Brincamos com essas memórias. Os 16/17 anos são um bocado parvos. O Ricardo dava-me um pau, na jogada a seguir eu queria dar-lhe também e crescemos assim. Eu era extremo esquerdo e ele extremo direito a dada altura. Lembro-me de jogar contra ele num Vitória-SC Braga em juniores [2-2] e foi quentinho. Os meus centralões são o Henrique (Boavista) porque foi um pai para mim no futebol. Estou a juntar a qualidade à parte humana. Sempre me deu muitos conselhos. Ao lado dele fica o Nahuel Ferraresi (Moreirense), mais irreverente, um bom maluco. Esse balneário foi o melhor que tive na vida. O Ferraresi tinha uma qualidade monstruosa, está agora no São Paulo e pertence aos quadros do City. A lateral esquerdo fica o Nuno Santos (Sporting). Apanhei-o no Rio Ave, foi dos maiores exemplos de resiliência que vi. Assisti à segunda rotura de ligamentos dele e nunca vi ninguém tão profissional na recuperação. Passou por duas lesões gravíssima e voltou da forma que voltou. É um jogador fantástico e joga no clube que eu gosto. O Nuno assume a minha posição. Tem um feitio peculiar. Fora do campo não tem nada a ver, mas sempre foi assim, já no Rio Ave. Não mudou por ir para o Sporting. Ele é assim, detestava levar uma 'cueca' no meiinho, é uma pessoa muito nervosa. Mas é engraçado e brincalhão. Um ranhoso com um lado bom. 

zz - E no meio-campo? 

AF - Gosto de canhotos. Começo com o João Schmidt, foi dos melhores que vi no Rio Ave. Está a jogar no Santos e tem uma qualidade imensa. Mantemos a amizade. Já lhe chamam Busquets na Vila Belmiro. Ao lado joga o David Simão, uma espécie de meu irmão mais velho. Marcou a minha vida, chegou ao Moreirense e ajudou-me a passar as tristezas todas num ano em que não joguei tanto. Deu-me conselhos, fez um grande balneário, é um amigo para a vida e tem uma qualidade monstruosa naquele pé esquerdo. As bolas paradas ficam para ele, o Nuno não me vai levar a mal (risos). À frente deles, na posição '10', fica o 'Pote da Reboleira'. 

zz - O Diogo Pinto, que agora está no Olimpja Ljubljana.

AF - É muito parecido com o Pedro Gonçalves. Finaliza com facilidade, é irreverente e marcou-me bastante. O futebol dele apaixonou-me. Sempre gostei dos números '10' e ele representava bem a posição. Inteligente nos movimentos, tinha golo, batia bem na baliza, intenso. 

zz - Faltam os avançados. 

AF - O Mica esteve comigo no Penafiel. É o extremo que vai andar mais por dentro. O Madson é o oposto. Sinto que brilhei no Estrela por ter feito o triângulo das Bermudas com ele e com o Diogo. Sabia quando ele queria no espaço, quando ele queria no pé, as tabelinhas fluíam. Sei que o ajudei e fico feliz por vê-lo tão bem no Moreirense. Sempre tentei ajudá-lo, é muito imprevisível, anda por dentro e por fora. O Mica também passou a ser um grande amigo. O ponta-de-lança é o Carlos Vinícius. Foi meu colega no Rio Ave. Tem um percurso incrível: Real Massamá, Monaco, Rio Ave, Benfica... se o meu filho um dia quiser ser avançado, terá de olhar para o percurso do Carlos. O Benfica entendeu que tinha melhores opções para lugar, eu não acho. Mas deu boa continuidade à carreira. Está no Galatasaray e feliz. 

zz - Avancemos aqui para o «quiz zerozero». Sabe qual foi o jogador que mais vezes esteve ao seu lado em jogos no futebol sénior? 

AF - Vou dizer o Zé Manuel, porque esteve comigo nos três anos do Boavista. 

zz - Certíssimo, 67 jogos ao lado do Afonso em campo. A seguir aparecem Idris, Carlos Santos, Mika e Uchebo. Todos no Boavista. E o treinador que mais vezes o orientou em jogos? 

AF - Petit? 

zz - Isso mesmo, logo seguido pelo Ricardo Chéu e o Artur Jorge. E depois aparecem Manta Santos e Erwin Sanchez. Como era o Sanchez como treinador? Foi um craque. 

AF - Acima de tudo era uma pessoa muito calma, tranquila. Um tipo sereno. 

Portugal

Afonso Figueiredo

NomeAfonso Mendes Ribeiro de Figueiredo

Nascimento/Idade1993-01-06(31 anos)

Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoDefesa (Defesa Esquerdo)

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