Renovação Política: Que não seja só idade, mas a idade também conta

2 meses atrás 52

Precisamos de líderes que compreendam as preocupações das novas gerações e que sejam capazes de adaptar-se às rápidas mudanças do mundo atual.

A política mundial está a atravessar um período complexo, não sei se é labirinto ou mesmo uma estrada de terra batida, onde a idade avançada de muitos líderes levanta questões sobre a necessidade de renovação e a introdução de novas ideias no cenário político. Não se trata de discriminar pela idade, mas sim de reconhecer que a vitalidade e a inovação são essenciais para o progresso.

Um estudo recente do instituto norte-americano Pew Research Center analisou a idade dos líderes mundiais e concluiu que a maioria é significativamente mais velha que a idade média da população do país que governa.

Joe Biden, o Presidente norte-americano mais velho de sempre, já tinha um lugar no Senado (eleito senador pela primeira vez em 1972, portanto há 52 anos) há mais de uma década antes do seu cidadão de idade mais comum (38 anos é a média atual) nascer. Se 64% da população dos Estados Unidos da América está abaixo dos 50 anos e se a média de idades dos senadores é de 64 anos, existe a preocupação de que uma grande parte da classe política não esteja a par dos assuntos que implicam diretamente as vidas dos seus eleitores mais jovens, como o regime de trabalho ou o clima, embora tenham a responsabilidade de legislar sobre eles. Curioso, não? Não será isto uma questão político-partidária a ter em conta?

É global. No Médio Oriente, a liderança política também é dominada por figuras experientes ou “jovens há mais tempo”. O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irão, tem 85 anos. O emir do Kuwait tem 86 anos e o rei da Arábia Saudita tem 88 anos. O Presidente em funções mais experiente do mundo é Paul Biya, dos Camarões, que está no cargo desde 1982 e fará 92 anos em 2025. Estes exemplos ilustram como líderes de idade avançada continuam a manter o poder durante décadas, o que pode limitar a entrada de novas ideias e abordagens na administração, gestão e forma de governação destes estados.

O envelhecimento dos líderes políticos não é apenas um fenómeno internacional.

Em Portugal, enfrentamos uma situação semelhante, onde a elite política tende a perpetuar-se no poder. Aqui, mais do que a idade no cartão de cidadão, é a longevidade com que ficam nos cargos públicos. Um (semi)jovem de 55 anos que está há 30 anos a ocupar cargos públicos representa um pensamento disruptivo e jovem na política nacional? Não. Está há três décadas a acumular vícios políticos.

A limitação de mandatos é um passo crucial para garantir que as instituições políticas não se tornem fossilizadas. Em Portugal, temos algumas limitações formais, como no caso dos Presidentes da República e dos presidentes de câmaras municipais, mas isso não se estende a todos os cargos, nomeadamente aos deputados à Assembleia da República e os Primeiros-ministros, embora neste último caso nunca tenhamos tido durabilidades “assustadoras” dado que o político que esteve no cargo mais tempo foi Aníbal Cavaco Silva com 9 anos e 356 dias, entre 6 de novembro de 1985 e 28 de outubro de 1995. Quase “nada” comparado com outros exemplos mundiais. A introdução de uma limitação de mandatos para todos os cargos públicos pode ser uma forma de assegurar que novas ideias e abordagens sejam constantemente introduzidas no debate político.

A limitação de mandatos não é apenas uma questão de idade. Nada disso. Mas sim uma forma de garantir a renovação contínua e a adaptação às novas realidades. Por exemplo, a inclusão de novas gerações na política pode trazer uma perspetiva fresca sobre questões tecnológicas e ambientais que são cruciais no mundo moderno. A juventude, aqui, não é sinónimo de inexperiência, mas sim de uma mentalidade aberta e frequentemente mais presente nas gerações mais novas.

Num cenário ideal, a limitação de mandatos permitiria uma maior rotação nos cargos políticos, trazendo um fluxo constante de novas ideias e abordagens. E não é idade só, um “novo eleito” pode já caminhar para os seus 50 anos e ser uma lufada de ar fresco político por trazer à política novas ideias. Isso não só beneficiaria a política interna, mas também a perceção externa da capacidade de adaptação e inovação do país. É crucial que se crie um ambiente onde a experiência dos mais velhos se combine com a energia e inovação dos mais novos, formando um equilíbrio saudável.

Ainda assim, é importante ressaltar que a renovação não deve ser vista como uma substituição abrupta de experiência por juventude. Ao invés disso, deve-se procurar um equilíbrio onde várias gerações possam colaborar e aprender umas com as outras. Este debate inter-geracional de ideias é fundamental para a construção de políticas que sejam tanto inovadoras quanto assentes em sabedoria e conhecimento com respeito histórico de onde estão envolvidos.

Olhando para a política internacional, vemos que muitos dos líderes mais inovadores e progressistas emergem de gerações mais novas e sem vícios de décadas anteriores. Por exemplo, a ex-primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, assumiu o cargo aos 34 anos e trouxe consigo uma abordagem fresca e uma comunicação mais próxima. Esta tendência não é exclusiva da Europa; a Nova Zelândia, sob a liderança de Jacinda Ardern até 2023, foi um exemplo brilhante de como uma abordagem jovem e dinâmica pode transformar um país e ter altíssimas taxas de aprovação popular dos seus eleitores.

Portugal nunca foi um país velho de idades e deve manter esse rumo. Desde 1974, Portugal teve como Primeiros-ministros Adelino da Palma Carlos que tomou posse aos 68 anos, enquanto Vasco Gonçalves tinha 54 anos. José Pinheiro de Azevedo tinha 59 anos quando assumiu a liderança de governo, e Mário Soares começou o primeiro dos seus mandatos aos 51 anos. Alfredo Nobre da Costa tinha 54 anos, Carlos Mota Pinto era notavelmente jovem com 42 anos, e Maria de Lourdes Pintasilgo assumiu aos 53 anos. Francisco Sá Carneiro tornou-se Primeiro-Ministro aos 45 anos, seguido por Francisco Pinto Balsemão aos 41 anos. Aníbal Cavaco Silva iniciou o seu mandato aos 46 anos, mesma idade de António Guterres quando assumiu. Pedro Santana Lopes tinha 48 anos, José Sócrates 47 anos, e Pedro Passos Coelho, tal como Guterres e Cavaco Silva, tinha 46 anos ao tomar posse. Finalmente, António Costa iniciou o seu governo aos 54 anos e agora Luís Montenegro tem 51 anos.

A média de idades dos nossos Primeiros-ministros, à data da sua eleição, é de aproximadamente 50 anos. Não é mau, como se vê.

Diria, arrisco-me, olhando para Joe Biden e Donald Trump colados aos seus perto de 80’s anos que Portugal tem uma história jovem de líderes. E ainda bem. Mas, mais que a idade, precisamos é de rejuvenescer sempre os nossos quadros políticos e nomeadamente as ideias. Precisamos de líderes que compreendam as preocupações das novas gerações e que sejam capazes de adaptar-se às rápidas mudanças do mundo atual. Ao permitir uma maior rotatividade nos cargos políticos, garantimos que as ideias disruptivas, novas e inovadoras têm a oportunidade de aparecer.

A idade também conta, mas não é todo o problema.

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