REPORTAGEM | Banza, o congolês que nunca deu descanso: «Simon, já chega, temos família!»

6 meses atrás 48

Outrora, uma surpresa; um gigante desconhecido, com contornos prometedores, por Famalicão. Agora, uma certeza, sinónimo de golo. O zerozero mergulhou no passado de Simon Banza e foi até às recordações luxemburguesas, onde o congolês registou a primeira grande época como sénior. Os primeiros passos de um matador, contados por quem os assistiu na primeira pessoa.

Os 21 golos em 2023/24 (19 deles no campeonato) fazem de Simon Banza um nome incontornável na atualidade do futebol português e um dos melhores marcadores da prova (na corrida com Viktor Gyökeres). Antes, 2021/2022 foi também relevante: pela primeira vez em solo lusitano, ainda que por empréstimo, Banza marcou 17 golos, numa das temporadas mais prolíficas do congolês.

Banza, numa fase inicial da carreira, ao serviço do Lens

Contudo, antes do casamento bem-sucedido com Portugal, houve altos e baixos. A estadia em França não foi animadora e, depois da formação em Lens, Banza nunca conseguiu ser o «menino bonito» da equipa principal. Encontrou essa preponderância, numa fase embrionária da carreira, num país vizinho, bem mais pequeno: no Luxemburgo. 

Para conhecer melhor essa fase, que lançou Banza no futebol sénior (aos 21 anos, fez 18 golos em 25 jogos), o zerozero falou com Carlos Fangueiro. O atual treinador principal do Leixões foi, em 2017/18, coordenador técnico do Titus Pétange e assistiu de perto à evolução do congolês.

«Um miúdo com uma vontade incrível»

Bem-disposto e jovial, Fangueiro começou por recordar as negociações pelo avançado e, posteriormente, a altura em que chegou a Pétange: «Fizemos o necessário para tê-lo por empréstimo. Houve a possibilidade de o trazer para o Luxemburgo, para um projeto ideal, tendo em conta a idade que ele tinha. Foi um miúdo que observámos e que encaixava na nossa ideia de jogo. Ele chegou muito interessado, pronto para trabalhar connosco e com uma vontade incrível. Isso ajudou a que tudo corresse bem.»

O «correr bem» até parece simpático, face à qualidade da época que Banza realizou no Luxemburgo, e são os números que o afirmam: «Nessa época, em todas as competições, ele marcou 26 golos. Foi muito fácil.»

«Ele tinha uma grande vontade de trabalhar, era um menino muito interessado. Já era muito alto — para a idade que tinha — e era muito rápido no ataque à profundidade, forte no segurar a bola e no jogo de cabeça. Identificámos esse perfil e era o ideal para nós. Por isso, encaixou na perfeição», afirmou Fangueiro, desvendando a receita para o sucesso de Banza.

q«Os treinos eram à noite: começavam às 18h30 e, às vezes, às 22h ainda estava com ele a fazer trabalho específico de finalização, porque o miúdo pedia

Carlos Fangueiro

 «Era mesmo muito, muito interessado. Ele sabia que eu tinha sido profissional e pedia-me para trabalhar com ele. Como também fui avançado, acho que também lhe ajudei um bocadinho. Ainda assim, sempre se viu que era incrível, tinha uma enorme vontade de trabalhar. Eu dizia-lhe: “Simon, já chega! Mais só amanhã! Temos família, queremos ir descansar”. Isto às 22h/22h30; era incrível. Ele só podia atingir o que atingiu desta forma, era muito sério.»

O nível apresentado foi bom, mas, convenhamos, não pode ser comparado ao atual, no SC Braga, nem que seja pelas diferenças (e exigências) entre os campeonatos. Nesse sentido, Fangueiro nunca duvidou que o nível apresentado no Luxemburgo pudesse ser transportado para outros contextos.

«Muito sinceramente, sempre acreditei. Trabalhei uma época com ele, sei as características que tinha e tem - aprimorou-as ainda mais. Devido a isso tudo, tinha a certeza que ia vingar. Falei com ele, por mensagens, e disse que ia encaixar no futebol português na perfeição. Felizmente, não me enganei. Está a fazer uma época fantástica (não é a primeira) e está a marcar que se farta. Portanto, estou muito feliz com o que conseguiu», confessou

Golo da vitória contra o GD Chaves, bis no Bessa e em Vizela, hat-trick contra o Portimonense e decisivo nas reviravoltas diante de Moreirense e Chaves. A época do Braga apoia-se na capacidade de decisão do congolês, uma característica já visível pelo Luxemburgo: «Ele decidia muitos jogos, sobretudo os mais difíceis. Era ele que resolvia, sem dúvida.»

Neste sentido, há uma questão que se prendeu: cresceu no Titus Pétange e subiu de contexto; está a crescer no SC Braga... Estará pronto para um patamar ainda maior?

«Acho que sim, muito sinceramente. Por vários motivos: por ele, que tem qualidade para isso. Por estar a marcar muitos golos, o que é sempre um aliciante. Por fim, por estar numa montra fantástica, que é o SC Braga. Pela junção dessas três coisas, acredito que pode muito bem ser vendido e jogar por objetivos ainda maiores que os atuais», apontou

Sorridente e com o indicador direito, Banza aponta para o céu @Rogério Ferreira / Kapta+

Rep.Dem. do Congo

Simon Banza

NomeSimon Bokoté Banza

Nascimento/Idade1996-08-13(27 anos)

Nacionalidade

Rep.Dem. do Congo

Rep.Dem. do Congo

Dupla Nacionalidade

França

França

PosiçãoAvançado (Ponta de Lança)

 SC Braga x Estrela da Amadora

 SC Braga x Estrela da Amadora

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