REPORTAGEM | O outro lado da mão de Vata, 34 anos depois: «Sentimos que fomos roubados»

Athos, Porthos e Aramis.

Xavi, Iniesta e Sergio Busquets.

LeBron James, Dwayne Wade e Chris Bosh.

Benfica, Marseille e... mão de Vata.

Certo, talvez tenhamos exagerado um pouco na enumeração de trios inesquecíveis, mas a verdade é que falar-se do conjunto encarnado e da formação gaulesa sem que depois se faça referência ao polémico golo apontado pelo antigo internacional angolano é uma tarefa praticamente impossível.

18 de abril de 1990. Depois da derrota por 2-1 na primeira mão das meias-finais da Taça dos Campeões Europeus, o Benfica recebeu o Marseille no Estádio da Luz com o objetivo de chegar ao encontro decisivo da prova. Les Olympiens assumiam-se na altura como a melhor equipa francesa (o Marseille venceu quatro campeonatos consecutivos entre 1988/89 e 1991/92) e encontro em Lisboa avançava sem que os encarnados conseguissem fazer o golo que lhes daria a vantagem no marcador e na eliminatória.

No entanto, tudo mudou à passagem do minuto 82: após um canto cobrado pela esquerda, Magnusson desviou ao primeiro poste e Vata, que havia sido lançado na etapa complementar, surgiu no interior da área para desviar para o fundo das redes. De forma imediata surgiram protestos por parte dos jogadores do Marseille, que consideraram que o angolano desviou a bola com o braço- o ex-Benfica garante até aos dias de hoje que o golo foi limpo. A verdade é que o árbitro Marcel Van Langenhove considerou o lance legal e as águias seguiram para a final, onde viriam a perder frente ao AC Milan.

Ora, com Benfica e Marseille a terem encontrado marcado esta quinta-feira, numa partida a contar para a primeira mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, foi impossível não irmos atrás desta história. 

Revolta no balneário

O que sente um plantel quando se vê arredado da possibilidade de chegar a uma final europeia por aqui que aparenta ter sido um enorme erro de arbitragem? Foi precisamente isso que tentámos perceber com Bruno Germain, antigo internacional francês que fez parte das escolhas do treinador Gérard Gili na partida no Estádio da Luz. 

«Tínhamos noção que era uma partida extremamente importante, afinal de contas podíamos garantir a passagem a uma final europeia. O Estádio da Luz estava lotado e o ambiente era absolutamente magnífico. Em relação ao lance em concreto confesso que não vi que foi marcado com o braço, mas percebi de forma imediata pela reação dos meus colegas», começou por nos contar o antigo médio.

Com o tento de Vata a ser apontado já muito perto do minuto 90, o Marseille foi incapaz de reagir, num cenário que ditou a eliminação do conjunto francês. De forma natural, a revolta tomou conta do plantel no final do encontro: «Na chegada ao balneário havia um sentimento de raiva e de deceção presente em todos os jogadores porque, afinal de contas, sentimos que fomos roubados. Foi difícil lidar com a situação.»

«Ainda pensamos no jogo nos dias de hoje...»

Apesar de os marselheses terem conquistado o campeonato francês pouco depois do embate com o Benfica, essa mesma conquista não apagou a desilusão pela eliminação nas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus. «A verdade é que olhávamos para esse jogo com o Benfica e para a eliminatória como algo muito importante, mais importante até do que o campeonato. Claro que foi bom sermos campeões, mas não ajudou a amenizar a eliminação», vincou o pai do também jogador Valère Germain, que foi ainda mais longe: 

«Já se passaram quase 35 anos, mas ainda pensamos no jogo de vez em quando. Ainda assim, o tempo passa. O clube perdeu a possibilidade de chegar a uma final europeia, mas recuperámos bem. Tanto é que o Marseille chegou à final na época seguinte- acabámos por perder nos penáltis- e venceu mesmo a competição em 1992/93.»

34 anos depois, o Marseille tem oportunidade de se vingar, mas Bruno prefere não fazer prognósticos. «Estou a torcer pelo Marseille, mas, de forma sincera, não sei qual das equipas sairá vitoriosa. Temos de esperar para ver. Até breve, amigos portugueses!», concluiu o antigo jogador, em jeito de despedida.

Merci, Bruno!