Republicanos contra-atacam e questionam legitimidade de nova candidatura democrata

2 meses atrás 72

Durante as primárias no início do ano, o presidente conseguiu uma impressionante maioria de 3.896 delegados obrigados a votar nele, quando precisava de somente 1.968 para garantir a nomeação. Esta foi a primeira vez que alguém desistiu da corrida à Casa Branca com a nomeação garantida nas primárias do seu partido e a meros 100 dias da eleição presidencial. "Não tem precedentes", sublinharam diversos historiadores norte-americanos.

Apesar da vice-presidente Kamala Harris ter sido nomeada pelo próprio Biden como sua candidata preferencial, nada contudo obriga os seus quase 4.000 delegados a votar nela.

Como vão alocar os seus votos é a grande questão.

O processo de seleção de um ou uma nova candidata será "transparente e disciplinado", garantiu em comunicado o líder do Partido Democrata, Jaime Harrison.

Mas, se os democratas se livraram em poucas semanas de um candidato potencialmente desastroso, depois de meses a promove-lo, a emenda pode ser pior do que o soneto.

Ilegalidades

Em mais uma reviravolta no que muitos já chamam o 'pior reality show de tv do mundo', o presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, o republicano Mike Johnson admitiu que, substituir Joe Biden como candidato dos democratas pode violar a lei eleitoral em alguns estados, e ser por isso ilegal mudar de candidato nos boletins.

"Seria errado, e creio que ilegal, de acordo com as regras em alguns destes estados, para um punhado de pessoas irem para um quartinho nas traseiras e mudarem-no porque já não gostam do candidato. Não é assim que as coisas devem funcionar", afirmou Johnson aos microfones da CNN e da ABC.

O republicano admitiu que podem surgir processos legais. "Vamos ver o que vai suceder", afirmou, "mas creio ser problemático, penso que milhões de pessoas consideram isto problemático".

"Há uma razão para isto não ter precedentes. Não se faz tábua rasa das regras e dos processos porque alguém decide que o candidato já não é adequado", frisou ainda.

Os boletins de voto só são contudo finalizados depois dos candidatos serem nomeados, pelo que o argumento de Johnson quanto à ilegalidade parece morrer à partida.

Ao Huffington Post, o especialista em leis eleitoral e professor da UCLA, Rick Hasen, considerou não ver qualquer razão legal para os democratas escolherem outra pessoa que não Biden.

Desrespeito e conspiração

Mas a ideia de eventual ilegalidade já foi posta a circular. E, depois das críticas de Donald Trump, os republicanos não perderam tempo a semear mais dúvidas entre os eleitores democratas. A nova retórica acusa os responsáveis partidários de terem escamoteado aos americanos durante meses o verdadeiro estado mental e de saúde do presidente, entre outros mimos.

"Os líderes do Partido Democrata acabaram de provar que não têm qualquer respeito pelos seus próprios eleitores. Depois de darem sermões aos outros sobre democracia, acabaram de forçar Joe Biden a desistir, mandando para o lixo a escolha primária de 14 milhões dos seus próprios eleitores", escreveu na rede X o líder da maioria da Câmara Baixa do Congresso, Steve Scalise.

Mitch McConnell, líder da minoria republicana no Senado, apontou o dedo aos democratas "de Washington".

"O Partido Democrata afadigou-se nas últimas semanas em tentar reverter a vontade expressa do povo americano nas eleições primárias em todo o país", acusou.

"Os democratas de Washington não se mostraram mais capazes do que o presidente, em garantir fronteiras capazes, ruas seguras e os preços estáveis que as famílias trabalhadoras merecem. Não podemos aguentar mais quatro anos de fracassos", acrescentou, no que deverá ser outro dos motes de campanha.

Elise Stefanik, presidente da Conferência Republicana do Congresso, falou em conspiração. "Doadores de bastidores, elites democratas e os seus estenógrafos na mídia generalista conspiraram neste ataque direto à democracia ao conseguir forçar a desistência do candidato que garantiu os votos necessários para servir como candidato", escreveu na rede X.

Mike Johnson também apresentou a decisão de Biden se afastar como um golpe organizado pelo Partido Democrata. "Temos de ser claros quanto ao que acabou de suceder. O Partido Democrata forçou a retirada do nomeado democrata a apenas pouco mais de 100 dias da eleição", lembrou.

O senador do Missouri, Josh Hawley, acusou os democratas de "manipularem a sua própria eleição". 

"Demita-se" Sr Presidente

O senador apelou também Joe Biden a abandonar desde já igualmente a presidência. "Demita-se do seu cargo. Se não consegue fazer uma mera campanha política, não pode ser presidente", defendeu Hawley.

Richard Hudson, presidente do Comité Congressista Nacional Republicano (NRCC) deixou o mesmo apelo, depois de considerar a retirada de Biden "um escândalo de proporções históricas".

"Se o presidente está mentalmente incapaz de fazer campanha, está mentalmente incapaz de possuir códigos nucleares", afirmou na rede X. "O julgamento virá em novembro".

Opiniões igualmente endossadas por Mike Johnson, apelando à demissão de Joe Biden da presidência. 

Uma tal eventualidade tornaria Kamala Harris de imediato líder da Casa Branca, um palco em princípio mais favorável para a sua campanha, garantindo praticamente a sua nomeação como candidata democrata às eleições presidenciais.

Para já, a maioria dos eventuais concorrentes de Harris têm preferido anunciar o seu apoio à vice-presidência, deixando-lhe o caminho livre.

O Partido Democrata deverá reunir-se de forma virtual no início de agosto para uma votação nominal, semanas antes da convenção marcada para a cidade de Chicago a 19 de agosto.

Além dos 3.896 delegados afetos a Biden e cuja tendência se tornou uma incógnita, foram ainda eleitos 739 superdelegados, ou delegados automáticos, que podem votar em qualquer candidato.
Ler artigo completo