Republicanos tentam `pintar` Kamala como radical que se tenta moderar

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Numa entrevista radiofónica em 2019, Harris queixou-se de ter sido vítima de críticas sobre a sua cor de pele e pelas suas raízes indianas e africanas - durante a campanha eleitoral de 2020, quando se candidatou a vice do agora Presidente Joe Biden.

"Fazem isso para criar divisão e incitar ao ódio às minorias", explicou Harris nessa entrevista ao programa The Breakfast Club, em que já antecipava que, se um dia se candidatasse à presidência (o que nessa altura considerou pouco provável, preferindo admitir um segundo mandato de Biden) as críticas se virariam para as suas posições políticas.

Na entrevista, Harris também se queixou de ser acusada de ter casado com um homem branco, Doug Emhoff, procurando afastar-se do debate sobre se "seria suficientemente negra" para conseguir apelar ao voto dos afro-americanos.

Na corrida para as eleições de novembro, os líderes republicanos no Congresso já pediram para que os estrategos de campanha do seu candidato, Donald Trump, não a atacassem por questões raciais, nem pessoais, centrando-se no seu pensamento político e na forma como Harris se colou à estratégia de Biden.

Os setores mais radicais do Partido Republicano parecem preferir destacar as suas posições mais radicais em matérias como o acesso ao aborto, a facilitação da entrada de imigrantes e as posições económicas pouco protecionistas.

"Os conservadores tenderão a explorar as suas posições mais liberais (no sentido norte-americano, ou seja de esquerda), lembrando frases e posições que Harris assumiu quando era procuradora-geral na Califórnia, colando-a à fação mais à esquerda do Partido Democrata e denunciando os riscos de ela ceder a movimentos extremistas", explicou à agência Lusa Elsa Bauman, investigadora de Ciência Política no Hunter College, em Nova Iorque.

Na verdade, logo após ter sido conhecido o abandono de Biden da corrida à Casa Branca, os grupos conservadores nas redes sociais começaram a multiplicar e a procurar viralizar declarações do passado de Harris sobre matérias de imigração e de política social próximas das versões defendidas pelos meios mais à esquerda do Partido Democrata.

Os republicanos estão a desenterrar declarações que Harris fez sobre imigração -- criticando a construção do muro na fronteira com o México, uma das bandeiras eleitorais de Trump -- ou sobre o acesso ao aborto -- condenando frontalmente a posição dos juízes do Supremo Tribunal, que recentemente reverteram a jurisprudência de maior abertura -, mas também foram buscar questões mais pessoais, como uma frase em que a então candidata ao Senado admitia ter fumado marijuana.

Contudo, nos últimos dias, Trump começou a ensaiar uma nova estratégia: misturar essas posições mais radicais do passado com declarações mais recentes e mais moderadas, para tentar provar que Kamala Harris é "um cata-vento político".

"Ela é tudo para todos. Ela finge ser uma pessoa diferente dependendo da audiência que tem na sua frente", disse Trump, numa entrevista à cadeia televisiva CNN, esta semana.

Os consultores de campanha de Kamala Harris já admitiram que este pode ser um ponto frágil da candidata: alguma indefinição sobre alguns temas fulcrais da política interna norte-americana.

E este é um problema que se pode arrastar nas próximas semanas, argumentou Bauman, explicando que Harris tem a dificuldade de não se querer demarcar demasiado de algumas posições de Biden, ao mesmo tempo que procura encontrar a sua própria voz.

"Com um adversário que é sempre muito assertivo nas suas posições, como Trump, pode ser uma dificuldade ser uma candidata que procura uma atitude moderada, que pode ser confundida com indecisa ou mesmo volátil", defende a investigadora do Hunter College.

Nos últimos dias, os `media` norte-americanos têm feito eco do debate interno que existe na equipa de campanha de Harris, dividida entre os que preferem que a candidata assuma as suas posições mais liberais, do seu tempo política na Califórnia, e aqueles que sugerem um reposicionamento para posições mais moderadas, que apelem ao eleitorado do centro, que hesita entre os dois partidos.

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