Rivalidade à porta da redação: fomos (a pé) conhecer as histórias do Coimbrões-Candal

6 meses atrás 59

Sporting-Benfica; FC Porto-Boavista; SC Braga-Vitória SC; Coimbrões-Candal

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Certo, admitimos que «exagerámos» ao colocar a última rivalidade nesta lista, mas a verdade é que este duelo tem um significado especial para nós, zerozero. Não que exista qualquer tipo de parcialidade na nossa redação, mas a situação é relativamente simples de se explicar.

É no Candal Park, centro empresarial localizado na cidade de Vila Nova de Gaia, que, a partir das primeiras horas da manhã, uma equipa de jornalistas, informáticos e gestores de conteúdos trabalha de forma afincada para lhe fornecer a si, caro leitor, a melhor experiência possível no nosso site. Nesse sentido, quem nos acompanha percebe que, em termos de base de dados, o futebol profissional e o futebol distrital têm a mesma relevância para nós.

Perante este cenário, foi fácil chegar à questão de partida para esta reportagem: quais os dois clubes mais próximos da nossa redação? Que duelo pode ser intitulado de «rivalidade zerozero»

Aperte os atacadores das sapatilhas (até lhe dizíamos para apertar o cinto, mas tudo o que fizemos nesta reportagem foi a pé) e venha connosco conhecer a rivalidade entre o SC Coimbrões e o CD Candal, emblemas que têm encontro marcado para este domingo, numa partida a contar para a 25ª jornada da Divisão de Elite da AF Porto.

Mesma freguesia, diferentes cores

1,45 quilómetros. Eis a distância, em linha reta, que separa o centro do terreno do Parque de Jogos Silva Matos, casa do Coimbrões, e o ponto exato de meio-campo do Estádio Rei Ramiro, complexo no qual o Candal disputa os seus jogos em casa. Situada entre estes dois pontos, está a nossa redação, pelo que foi com naturalidade que chegámos aos dois clubes que queríamos conhecer nesta reportagem (menção honrosa ao SC Canidelo, também este um «vizinho» próximo do zerozero).

Assim, ao início da tarde da última quarta-feira, um dos raros dias em que a chuva deu tréguas nesta semana, recebemos uma figura emblemática de cada uma destas equipas: do lado do Coimbrões, Pedro Tavares, extremo que representou o clube entre 2007 e 2023; do lado do Candal, Serginho, avançado que vestiu de azul entre 1998 e 2009, sendo que, depois, ainda atuou no escalão de veteranos entre 2013 e 2020.  

Pedro Tavares (esq.) e Serginho (dir.) durante a entrevista

A rivalidade é intensa e esse aspeto ficou bem patente logo nos primeiros minutos da caminhada entre o Candal Park e o Parque de Jogos Silva Matos. Foi pedido a ambos os intervenientes que caracterizassem a rivalidade entre Coimbrões e Candal de uma forma geral, sendo que a resposta de Pedro Tavares surgiu já com uma pequena bicada ao rival...

«Há rivalidade nos últimos dois/três anos, as realidades de Coimbrões e Candal na última década e meia são completamente distintas. O Coimbrões esteve sempre em patamares superiores, mas teve a infelicidade de cair [para o futebol distrital] há três anos. Assim sendo, só voltou a haver dérbis há três anos, mas sabemos que é um jogo de emoções porque são dois clubes da mesma freguesia [União de Freguesias de Santa Marinha e São Pedro da Afurada]. Tenho a certeza que vai ser um bom jogo para ambas as equipas», vincou.

Frisando também a proximidade entre os dois clubes, Serginho deu ênfase ao espírito competitivo que reina nestes encontros: «Esta rivalidade é saudável, acima de tudo. Os duelos com o Coimbrões eram muito intensos, mas sempre corretos. Nunca houve falta de respeito de nenhuma das partes. Ultimamente não tenho acompanhado muito, mas sei que continua a ser um dérbi interessante, ainda para mais sendo dois clubes tão próximos, da mesma freguesia»

Amizade acima da rivalidade

A cumplicidade entre Pedro Tavares, atualmente com 38 anos, e Serginho, agora com 50 anos, foi notória desde o momento em que ambos estacionaram os respetivos carros e se cumprimentaram à porta da nossa redação. Afinal de contas, antes de serem rivais, os dois jogadores foram colegas de equipa, isto na medida em que Pedro jogou uma época e meia no Candal antes de ingressar no Coimbrões. A troca, recordou o extremo, custou um pouco. 

Pedro foi capitão do Coimbrões durante vários anos @AF Porto

«Eu gosto de brincar, mas no futebol não tenho uma personalidade muito fácil [ouve-se um «Claramente» de Serginho acompanhado de risos por trás]. Mesmo com 18 anos eu cobrava, ia para cima de quem quer que fosse e não tinha problema nenhum. Na altura tinha muitos bons amigos no Candal, tínhamos um balneário excelente. Entretanto surgiu a proposta do Coimbrões e, numa altura em que até tínhamos salários em atraso, decidi vir para o 'vizinho'. Era mais perto para mim e conseguia conciliar o trabalho com o futebol. Vim sozinho- sei que na altura havia mais jogadores do Candal que estavam para vir para o Coimbrões- e custou-me pelos laços que fui criando no clube. No entanto, optei por vir e foi a melhor coisa que fiz», partilhou Pedro, acrescentando ainda que optou por terminar a carreira no Coimbrões como forma de agradecimento pelo apoio dado quando esteve «mais de meio ano» afastado dos relvados devido a um Linfoma de Hodgkin, isto quando tinha 26 anos: «Cumpriram com tudo o que tinham prometido antes do problema». 

Apesar da mudança de Pedro, Serginho fez notar que a boa relação existente não se deixou abalar pela mudança do até então colega de equipa: «O melhor que levamos do futebol são os amigos. Se ganharmos ficamos mais satisfeitos, ficamos com um palmarés mais rico- se bem que no nosso caso não nos diz nada. Obviamente que as ligações e as amizades que fazemos, seja do nosso clube ou de outros, ficam sempre. Tentei sempre criar esses bons laços e isso aconteceu com o Pedro, mesmo que ele tenha tomado outras opções.»

Um dérbi que causa burburinho durante semanas

Foi já depois de serem saudados pela buzina de um carro que se cruzou connosco enquanto fazíamos a entrevista, num sinal claro de que ambos são figuras conhecidas na zona, que Pedro Tavares e Serginho mergulharam no baú das memórias. Tanto o antigo extremo como o ex-avançado mostraram-se tranquilos com o facto de já estarem afastados dos relvados, mas, ainda assim, a saudade fez-se sentir em alguns momentos.

«Infelizmente os joelhos e a coluna já não me permitem, mas tomara eu ainda poder dar uns chutos ao sábado», começou por referir Serginho, num cenário reiterado por Pedro: «Jogos como este, contra o Candal ou o Canidelo, mexem comigo. Eu gostava de jogar estes jogos, eram daqueles que me davam prazer e 'pica' de jogar. A envolvência... Isso era minha praia.» 

A conversa com os dois ex-jogadores aconteceu poucos dias antes do dérbi no Parque de Jogos Silva Matos. Se recuássemos alguns anos, como seria esta semana para os plantéis de Coimbrões e Candal? Pedro explicou-nos que, devido ao facto de possuir um estabelecimento comercial, esta era sempre uma altura intensa. 

Serginho em ação no Candal, clube onde esteve de 1998 a 2009

«É sempre um sentimento especial, ainda mais para mim, que sou da Afurada e que tenho lá um café. É uma porta aberta, recebo pessoas do Coimbrões, do Candal e do Canidelo e há sempre aquelas picardias saudáveis que mexem com estes jogos. É malta conhecida, que nos ia ver jogar, e o jogo era falado a semana toda. Há jogos que jogámos e que morrem ali, independentemente do resultado. Estes não eram assim, são jogos falados durante uma ou duas semanas. É tema de conversa em qualquer esquina ou qualquer café», recordou o antigo extremo.

Por seu lado, Serginho enfatizou a forma como os jogadores eram cobrados na antecâmara dos duelos com o rival: «Fosse fora ou em casa, durante a semana só se ouvia 'Temos de ganhar aos vizinhos, eles não nos podem ganhar'. A rivalidade existe sempre e isso depois transporta-se para o jogador. Quando chegávamos ao treino estavam lá os pais dos miúdos da formação e ouvíamos sempre 'Temos de ganhar àqueles lá de cima!'. Isso mexe sempre connosco e dá aquele friozinho na barriga até ao momento do jogo. No entanto, depois chega a hora do jogo e não nos lembramos disso, queremos é desfrutar e fazer o melhor possível para o nosso lado.»

As picardias foram uma constante ao longo de toda a entrevista, mas tiveram o seu ponto 'mais alto' numa altura em que a caminhada se aproximava do fim. Viajando até 2007/08, Serginho destacou a forma como, «apesar de o Coimbrões ter sido campeão, foi perder ao Candal e não conseguiu ganhar em casa», considerando assim que a subida do rival foi «incompleta». A resposta de Pedro Tavares não se fez esperar: «Eu não me importo de perder com o Candal e subir de divisão. Isto é engraçado, é a mentalidade dos clubes. Nós fomos campeões- uma coisa é subir de divisão, outra é ser campeão- e não ganhámos ao Candal, é verdade. É um feito que enaltece o Candal...» [risos].

Os dados estão lançados: Pedro perspetivou um 2-0 para o Coimbrões (atualmente no 3º lugar da tabela classificativa) no domingo; Serginho, apesar de não apostar num resultado certo, referiu que «o Candal (9º classificado) não vai perder de certeza». Quem levará a melhor num dos mais emocionantes dérbis gaienses?

Dupla com a camisola dos respetivos clubes no relvado do Silva Matos @Gonçalo Pinto/zerozero


 

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