Rui Silva sem medo do topo: «Sonhem connosco»

8 meses atrás 78

O EHF Euro 2024 está prestes a começar. Portugal volta a marcar presença entre as 24 seleções qualificadas para a prova que vai decorrer de 10 a 28 de janeiro. Nesse sentido, o zerozero vai apresentar, ao longo dos próximos dias, peças relacionadas com tudo o que envolve a competição.

Rui Silva é um dos mais internacionais no lote dos Heróis do Mar escolhidos para representar Portugal na competição. Aos 30 anos, o central do FC Porto vai voltar a participar numa fase final, um palco que tantas vezes pisou nos últimos anos.

Rui Silva é peça fundamental para Carlos Resende @FPA

Depois de ser pai no início do ano, o experienta atleta vai viajar para a Alemanha para continuar a espalhar magia com a camisola portuguesa, uma situação que já aconteceu por 128 ocasiões (231 remates certeiros), a primeira vez em 2013.

Em entrevista ao zerozero, o camisola 14 falou sobre os objetivos de Portugal, elogiou o grupo de trabalho com quem vai partilhar o balneário durante o mês de janeiro e fez uma análise aos três adversários da fase de grupos.

ZEROZERO (ZZ): Rui, antes de mais, obrigado por ter aceite este convite para estar aqui connosco. Gostava de começar esta conversa com uma pequena «provocação», pois acaba por marcar o golo decisivo diante do THW Kiel e frente a França, que garantiu o acesso aos Jogos Olímpicos. Nos próximos dias, vamos contar com um novo remate histórico ou preferem evitar esse «sofrimento»?

Rui Silva (RS): São momentos marcantes na carreira de um jogador e que fazem parte do andebol português. Espero que essas situações aconteçam mais vezes. O sofrimento faz parte do desporto que praticamos. Temos emoção e muitos golos. Se continuarmos a ter sofrimento, mas estiver a cair para o nosso lado, não me importo que seja sempre assim.

ZZ: Isso acaba por demonstrar o crescimento do andebol português, pois têm estado no palco das decisões. No caso do FC Porto, disputam com regularidade a EHF Champions League e na seleção alcançaram a qualificação para os Jogos Olímpicos, por exemplo.

RS: Sim, claramente. O que temos conseguido contra as grandes potências, seja em termos de clube ou de seleção, tem sido possível graças à evolução que fomos tendo ao longo dos anos. Antes não era possivel porque nunca conseguíamos atingir este patamar, mas agora é diferente.

ZZ: Qual é que acha que é o segredo para os clubes e a Seleção Nacional se estabelecerem nestas fases finais de competições?

RS: Partilho da opinião de que a origem está na base do processo. Têm aparecido várias gerações de qualidade, que conseguem bons resultados nas provas de formação. Depois, é óbvio que os clubes contribuem muito para esse cenário. O investimento é feito com o objetivo de trazer qualidade para o nosso país e campeonato, algo que nos ajuda a evoluir bastante. Consequentemente, as equipas atingiram um patamar que já não se verificava há algum tempo. O trabalho, agora, passa por manter o nível apresentado e, às vezes, essa é a maior dificuldade. Uma pessoa chega ao topo e tem de trabalhar para continuar a ser o mais profissional possível. 

ZZ: No final do jogo diante da Suécia, no Mundial 2023, disse que todas as seleções já respeitavam Portugal, mas faltava um pequeno pormenor. Depois de quase um ano, sentem que já corrigiram esse detalhe?

RS: Nós temos essa conversa várias vezes com o selecionador, onde ele nos alerta para a questão do detalhe e do pormenor. Nós estamos num nível alto e as diferenças acabam por ser mínimas. Temos vindo a trabalhar com intensidade nesse aspeto e vários atletas estão a crescer, pois é bastante importante termos essa experiência neste tipo de provas. Sentimo-nos mais preparados hoje comparativamente há um ou dois anos atrás. Acredito que estamos prontos para conseguir algo mais num futuro.

ZZ: No último EHF Euro 2022, não tiveram um desfecho favorável, pois somaram três derrotas na fase de grupos. Que lições é que tiraram dessa participação e que agora vão colocar em prática?

RS: Acho que o que aprendemos prende-se com o facto de termos de estar sempre no máximo e preparados para tudo. Nós tínhamos vindo de um Europeu em que tínhamos sido a sensação e estamos inseridos numa realidade em que as seleções são cada vez mais equilibradas num patamar elevado. Isso fez-nos ver que temos de estar com os pés bem assentes na terra e que não passamos a ser os melhores do mundo, pois antes também não éramos os piores. É necessário encarar os jogos com o máximo de seriedade possível.

ZZ: Vão agora para a Alemanha em janeiro, a meio da temporada. Que dificuldades é que encontra nestas viagens, tendo em conta que já têm algum cansaço acumulado de deslocações longas na EHF Champions League?

RS: Claro que a fadiga influencia, mas acho que o maior entrave que temos de ultrapassar prende-se com o facto de sermos um grupo onde vários jogadores estão em clubes diferentes. É necessário encontrar as melhores rotinas, ligações e construirmos a química necessária para chegarmos ao Europeu preparados para todos os cenários. Sendo dos atletas mais velhos, já passei pela fase em que chegávamos a janeiro e continuávamos a disputar o campeonato, pois não tínhamos esta exigência ao longo da época. É algo com que temos aprendido a viver.

@FPA

ZZ: Ficaram inseridos no Grupo F juntamente com Dinamarca, Chéquia e Grécia. Que pontos fortes é que encontram nestas equipas?

RS: Os nórdicos acabam por dispensar apresentações porque têm um leque de convocados acima da média. Os resultados são uma prova da qualidade que possuem. Ainda assim, acredito que somos uma seleção com qualidade e potencial para conseguir fazer um bom resultado. Depois, temos a Grécia, num jogo onde assumimos o favoritismo. Sabemos que têm armas para nos incomodar, mas é necessário chegar à partida e demonstrar que somos profissionais para conquistar a vitória. Por último, a Chéquia vai ser a partida mais equilibrada nesta fase de grupos. Possuem jogadores a atuar num nível alto em boas ligas. Além disso, têm vários atletas que disputam a EHF Champions League, apesar de não terem equipas assim tão conhecidas. Acima de tudo, acredito que temos muitas probabilidades para ter sucesso.

ZZ: Pediu conselhos ao Sebastian Frandsen ou ao Nikolaj Laeso?

RS: [Risos] Eles acabam sempre por brincar. São dinamarqueses, mas possuem um certo carinho por nós. Se ganharmos, não vão ficar muito chateados. A seleção é tão forte que, todos os conselhos nos derem, ajudam. 

ZZ: Quais os objetivos de Portugal para a competição?

RS: Nós temos bastante claro que queremos passar à Main Round, que é a primeira meta. Vamos lutar com todas as forças para que isso aconteça. Obviamente temos a ambição de melhorar o que já fizemos no passado, mas o nosso foco passa por chegar à Main Round.

ZZ: Como olha para este grupo de trabalho? Acaba por ser um misto entre juventude e experiência.

RS: Essa experiência tem sido adquirida ao longo dos anos ao participar neste tipo de competições. Todos eles acrescentam qualidade e valor à equipa. Hoje em dia, os mais jovens estão a competir com os melhores jogadores, o que nos ajuda muito. Temos um excelente grupo com uma ligação exímia. Existe uma amizade próxima entre todos e isso acaba por ser benéfico.

ZZ: Ir fazendo essa renovação é importante...

RS: É parte do desporto, seja na nossa seleção ou em outra qualquer. Acredito que o mais importante, sendo mais novo ou mais velho, passe por ter qualidade e acho que isso tem vindo a acontecer. Merecem estar aqui, pois têm argumentos para tal. 

ZZ: Passando agora para o plano individual. O Rui chega a esta competição vindo de uma época em que o FC Porto ocupa o segundo lugar no campeonato, não conquistou a Supertaça, mas está com esperanças de chegar à próxima fase da EHF Champions League. Como é que avalia este trajeto até agora?

RS: Sinto-me bem, apesar de ter noção de que podíamos estar a fazer mais, é uma realidade. O desporto é mesmo assim, temos altos e baixos. Nós vimos de uma sequência de anos em que ganhamos vários títulos e acredito que temos muito por conquistar. Estou tranquilo e vou trabalhar para chegar ao EHF Euro 2024 na melhor forma possível.

ZZ: É dos mais internacionais deste grupo. Que responsabilidade é que isso traz?

RS: É sempre bom porque demonstra que cheguei aqui muito novo. Consegui manter-me e continuo a fazer parte desta bonita história que temos construído. Tento passar essa mensagem aos mais novos porque o caminho é duro, mas aproveitem para serem presença assídua nesta luta. Os que aparecem por aqui têm de ter a responsabilidade de elevar o nível. Devem mostrar que representar Portugal é um dos maiores sonhos e orgulho que possuem enquanto atletas.

ZZ: Que mensagem é que gostava de deixar aos adeptos portugueses que vão acompanhar a vossa trajetória, seja na Alemanha ou em casa?

RS: Acreditem muito em nós. Somos um grupo de lutadores e de gente que não baixa os braços. Sonhem connosco porque acredito que podemos continuar a fazer coisas muito boas pelo andebol português.

Portugal

Rui Silva

NomeRui Sousa Martins Silva

Nascimento/Idade1993-04-28(30 anos)

Nacionalidade

Portugal

Portugal

PosiçãoCentral

Supertaça 23/24| Sporting x FC Porto (Meias-finais)

EHF Champions League 23/24| FC Porto x SC Magdeburg

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