Rússia "quer esgotar sistema de defesa antiaérea" da Ucrânia

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Explosão em Kiev, após ataque de míssil russo, a 2 de janeiro de 2024 Vladyslav Musiienko - Reuters

"O exército russo quer esgotar o sistema da defesa antiaérea" da Ucrânia. Quem o afirma é o general ucraniano Serguii Naev, para alertar que só com a ajuda ocidental é que as reservas de munições podem ser reabastecidas. Perante a intensidade dos ataques de Moscovo neste início de 2024, o militar avisa que, a médio prazo, a defesa móvel do país invadido só conseguirá repelir "alguns" ataques.

A Rússia marcou a época do fim do ano com aqueles que estão a ser descritos como os maiores ataques aéreos desde o início da invasão da Ucrânia, que está prestes a completar dois anos. De acordo com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, Moscovo lançou pelo menos 500 mísseis e drones contra alvos em toda a Ucrânia em apenas cinco dias, desde 29 de dezembro do ano passado.

A intensificação de ataques confirma um dos receios de Kiev: a Rússia estaria a armazenar mísseis para utilizar numa nova campanha de bombardeamentos de inverno.Kiev continua fortemente dependente dos aliados ocidentais para o reabastecimento de mísseis que intercetem o armamento inimigo, assim como de outras formas de defesa. “Na situação atual, no que diz respeito aos sistemas móveis de defesa aérea, as munições (...) são suficientes para resistir aos próximos ataques poderosos”, sublinha o general Serguii Naev, comandante das forças conjuntas ucranianas, entrevistado na quarta-feira pela agência France Presse, durante um encontro com outros militares perto de Kiev.

Mas a médio e longo prazo precisamos, claro, da ajuda dos países ocidentais para reabastecer o stock de mísseis”, vinca Naev, que é o responsável por estas unidades, em particular, pela defesa dos céus da capital.

O militar deixa claro que “a prioridade é, portanto, obter mais munições” face a um exército russo que “quer, efetivamente, esgotar o sistema de defesa antiaérea” da Ucrânia.

Naïev acrescenta que as unidades antiaéreas de defesa estão equipadas com sistemas móveis e não com os equipamentos mais avançados como os Patriots norte-americanos, capazes de abater os mísseis hipersónicos russos Kh-47M2 Kinzhal. “É claro que gostaríamos de mais mísseis como os Patriot, assim como os próprios sistemas”, observa.
Eficiência
Durante estes últimos ataques russos, a defesa ucraniana registou uma “taxa de eficiência de cerca de 90 por cento” na proteção dos céus, acentuou Naïev.

“Nenhum outro sistema de defesa aérea no mundo é capaz de apresentar tais resultados, especialmente quando se trata de combater a Rússia”, alega o comandante.

“Todos os cidadãos ucranianos devem estar convencidos de que as autoridades militares estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para garantir a sua paz”. E promete, por sua vez, que “melhorar a eficácia do sistema de defesa aérea é a nossa tarefa e estamos a trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana, para isso”, argumenta Naïev, perante algum descontentamento da população que perdeu as casas nos bombardeamentos.
“Mísseis com engodo”
O comandante descreve que na terça-feira um primeiro míssil russo foi intercetado com o sistema Stinger ucraniano - um lançador de mísseis portátil. Porém, “seis minutos depois, um segundo míssil passou acima de nós”. “O pessoal da nossa unidade, recorrendo a uma arma antiaérea, a ZU-23, apontou ao segundo míssil, que também neutralizou, com precisão”, garante o militar.

Um dos soldados das unidades de defesa, conhecido por Roman, explica que a Rússia está a inovar nas táticas de ataque aéreo: “Os russos estão agora a disparar mísseis que lançam foguetes chamariz em voo, como os de aviões ou helicópteros. Isso nunca aconteceu antes e é um problema para os Stingers” e o seu sistema de mira de infravermelhos.

Estes “iscos são muito mais quentes do que os gases de exaustão do míssil e podem, portanto, enganar esses sistemas de defesa”, argumenta.

Durante o ataque de terça-feira, “este engodo não funcionou, felizmente”, concluiu Roman.

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