A empresa faliu, mas o seu nome ficou para sempre na História graças a Brownie Wise, uma empresária americana que libertou as donas de casa.
A sua coragem e determinação salvaram muitas donas de casa, primeiro nos Estados Unidos e depois em todo o mundo, das garras do ostracismo. Numa altura em que a sua única tarefa, em muitos casos, era cuidar dos maridos quando chegavam a casa do trabalho, Brownie Wise ajudou-as a encontrar uma forma de se libertarem desse jogo permanente.
Transformou algumas delas em pequenas empresárias da noite para o dia, vendendo a Tupperware, a marca que esta visionária de Detroit levou para o nível seguinte e se tornou vice-presidente antes de o fundador a retirar de cena por se sentir ameaçado.
A sua figura é hoje mais relevante do que nunca, na sequência do anúncio da falência da Tupperware devido aos enormes problemas financeiros. Como o The New York Times salientou num artigo recente, a empresa pode desaparecer, mas o nome nunca o fará. E isso deve-se, em parte, a Brownie Wise.
«Ela deu poder a toda uma geração de mulheres trabalhadoras», explicou Laurie Kahn, realizadora do documentário de 2004 “Tupperware!”
Foi Wise quem lançou o conceito das reuniões Tupperware nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Encontrou nos recipientes de plástico, inventados por Earl Tupper, a plataforma ideal para dar largas ao seu talento.
Em poucos meses, revolucionou completamente a estratégia de marketing da empresa, organizando reuniões privadas em casas particulares com donas de casa que não só compravam os produtos como, em alguns casos, se tornavam vendedoras da marca.
Grande parte da sua motivação deriva da sua história pessoal, da sua luta para se impor numa sociedade marcadamente machista. A mãe criou-a sozinha depois do divórcio dos pais e deixou-a com a tia quando foi obrigada a viajar por causa do seu trabalho como organizadora de um sindicato de fabricantes de chapéus.
Mais tarde, teve de lidar com o seu primeiro e único marido, Robert W. Wise, um bêbedo violento que atirou uma garrafa de ácido à cara da sogra.
No seu anterior emprego na Tupperware, foi-lhe dito claramente que não havia lugar para uma mulher nos gabinetes executivos. O fundador da Stanley Home Products, Frank Beveridge, avisou-a “para não perder tempo”. Grande erro.
Em Outubro de 1949, Wise tinha recrutado 19 vendedores e vendedoras para trabalharem para ela em Detroit, oferecendo as revolucionárias caixas com tampa hermeticamente fechada, ultrapassando a marca dos 150.000 dólares num único ano, um valor que hoje seria equivalente a quase dois milhões de dólares.
O seu impacto na empresa foi tal que lhe foram oferecidos direitos de distribuição na Florida.
Nativa de Buford, Geórgia, mudou-se para Fort Lauderdale e criou a sua própria empresa, a Patio Parties, conseguindo com que os produtos Tupperware fossem vendidos exclusivamente através das suas festas.
O próprio inventor e proprietário da empresa ofereceu-lhe o cargo de vice-presidente dessa divisão de marketing, determinada como estava a contagiar mais mulheres com o seu espírito empreendedor.
Imagem pública
Tupper, um homem de negócios nascido na Alemanha e que cresceu em quintas de Nova Inglaterra, detestava a exposição e as luzes da ribalta, ao contrário de Wise, que era uma oradora e entrevistadora exímia.
Começou a aparecer em programas de televisão, foi a primeira mulher a ser apresentada na capa da revista Business Week e era constantemente referida em artigos de jornal sobre a marca. Tanto que grande parte do sucesso da empresa começou a ser atribuído a ela, e Tupper começou a ressentir-se disso.
Em 1958, agindo como um capataz comum, livrou-se dela e despediu-a sem cerimónias, com o salário de um ano – cerca de 30.000 dólares – como única compensação e sabendo que não tinha acções da empresa.
Wise passou o resto da sua vida a tentar repetir o mesmo sucesso, mas sem sucesso. Morreu em Kissimmee, Florida, em 1992.
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