Sei o que fizeste nos verões de Europeu

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«Palavras à Sorte» é a rubrica diária dos jornalistas do zerozero durante o Euro 2024. Todos os dias, na Alemanha ou na redação, escrevemos um apontamento pessoal sobre a competição e todas as sensações que ela nos suscita.

Não, caro leitor, prometo que não me vou aventurar no mundo da crítica cinematográfica e fazer uma análise ao filme 'Sei o que fizeste no verão passado', thriller de 1997 dirigido por Jim Gillespie.

Uso apenas este 'gancho' para introduzir uma situação que invade a minha mente com alguma frequência- ainda que de forma mais efetiva de dois em dois anos. Acredito que não é um fenómeno exclusivo de quem faz do jornalismo desportivo a sua atividade profissional, mas sim algo que se estende a todos aqueles que gostam de acompanhar esta área. Afinal de contas, não posso ser o único a organizar a minha memória tendo como base não o calendário tradicional, mas sim as competições desportivas a que fui assistindo, certo?

Confuso? A explicação é simples.

Se me perguntarem o ano em concreto em que terminei o secundário/ingressei na Universidade, confesso que terei alguma dificuldade em responder de forma perentória e rápida. No entanto, o caso muda de figura quando associo esta fase da minha vida ao facto de, nesse verão em concreto, ter visto jogos do Europeu 2016 com os meus amigos na casa para a qual fomos passar férias.

Sendo certo que a minha tenra idade em 2000 (um ano e meio) e 2004 (cinco anos) não me permite ter grandes memórias dos Europeus que se disputaram nos anos em questão, a verdade é que, daí para cá, tenho/vou ter vários destes 'gatilhos' no que a memórias diz respeito.

Ano em que a minha madrinha emigrou para os Países Baixos? Fácil, 2008. A ida dela para este país aconteceu poucas semanas depois de Arshavin ter vulgarizado a Laranja Mecânica no Euro, isto num jogo a que assisti, juntamente com o meu tio neerlandês, na cozinha de casa da minha avó.

Dia do jantar anual que a família do meu amigo Francisco tinha o hábito de organizar, no caso em específico do ano 2012? 27 de junho. Foi em casa dele que vi Portugal ser eliminado pela seleção espanhola naqueles fatídicos penáltis.

Ano em que vou de férias com os meus amigos para a casa que arrendámos em Cabeceiras de Basto? Tenho a certeza que daqui a 15/20 anos saberei que foi em 2024 porque será aqui que, no próximo domingo, iremos assistir à final do Campeonato da Europa.

Entendo que, para a maioria das pessoas, estes dados não passam de pormenores. No entanto, para mim, que enquadro o futebol no lote de coisas que mais gosto na vida, ter estes registo tão bem presentes dão-me um conforto que, ponto um, se calhar nem faz muito sentido, e, ponto dois, é difícil de explicar.

Para além de tudo isto, há outro dado que se destaca nesta narrativa: fazendo este exercício de memória, chego facilmente à conclusão que, no meu caso em específico, ver futebol anda de mãos dadas com o ato de juntar os meus à volta de uma mesa para um bom convívio. Seja com amigos e/ou família, este desporto ganha um brilho maior quando há um bom espírito e boa comida envolvidos.

Afinal de contas, o Euro 2016 será sempre sinónimo da minha amiga Sara Filipa a beijar a televisão quando Ricardo Quaresma cobrou o penálti decisivo contra a Polónia e do telemóvel do meu amigo Freitas a voar durante os festejos.

É certo que não há Portugal envolvido, mas venha de lá essa final deste Europeu!

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