Seis homens suspeitos de ataques contra imigrantes ligados à extrema-direita

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Um homem de 26 anos detido pela PSP do Porto na madrugada da passada sexta-feira e outros cinco indivíduos identificados mais tarde pela mesma polícia, todos suspeitos de terem cometido ataques contra imigrantes nessa noite, são conotados pelas autoridades como pertencentes ao grupo 1143, conhecido pela sua ideologia nacionalista e neonazi.

A informação foi recolhida pelo PÚBLICO junto de duas fontes diferentes. O grupo 1143 tem como porta-voz o militante de extrema-direita Mário Machado e organizou no mês passado no Porto uma manifestação intitulada “Menos Imigração, Mais Habitação”.

Há indícios de que pelo menos uma parte destes seis elementos esteve envolvida em dois dos ataques contra imigrantes que ocorreram nessa noite. O primeiro foi registado às 0h40 no Campo 24 de Agosto e as vítimas foram dois argelinos que contaram que um grupo de quatro a cinco portugueses que seguiam num carro parou junto a eles e os agrediu com tacos de basebol. No rescaldo do episódio, ficou uma descrição dos gorros usados pelos agressores, apenas com uma abertura na zona dos olhos, e a matrícula da viatura.

Por volta da 1h ocorre o segundo ataque, na rua do Bonfim, a um quilómetro de distância, segundo informações oficiais do Comando Metropolitano do Porto da PSP. Um grupo, com 10 a 15 elementos, alguns encapuzados, forçou a entrada numa casa onde vive um grupo de imigrantes, a maior parte argelinos, tendo agredido alguns deles. Iam com bastões, facas e paus. Duas das vítimas tiveram de receber tratamento hospitalar. Um deles, um argelino de 28 anos, permanece hospitalizado por ter sofrido fracturas num braço e numa perna provocadas por uma queda de um telhado quando fugia dos agressores.

Um terceiro caso ocorreu pelas 3h15 da manhã, na zona da Batalha, onde um cidadão marroquino foi agredido por um grupo de oito homens que o ameaçaram com uma arma de fogo, como a PSP precisava este sábado num comunicado. Também lhe terão roubaram o telemóvel.

Agentes da investigação criminal da PSP que estavam no terreno abordam um pouco mais tarde um português de 26 anos, comercial e residente em Gondomar, a quem foi apreendido um bastão extensível. Como se trata de uma arma proibida, o suspeito, com antecedentes criminais por agressão e furto, foi detido, tendo sido presente na sexta-feira à tarde a um juiz de instrução, que lhe aplicou a medida de coacção mais gravosa: a prisão preventiva. Para tal terá contribuído o facto de estar a cumprir uma pena suspensa por crimes semelhantes.

Na madrugada de sexta-feira, o detido foi transportado para instalações da Divisão de Investigação Criminal da PSP, para onde se dirigiram, mais tarde, cinco indivíduos à sua procura. Os suspeitos encontravam-se nas imediações da esquadra, num carro que tinha a matrícula que tinha sido identificada como tendo sido utilizada no primeiro ataque. Daí que a PSP decidiu identificar os cinco homens e fazer uma busca ao carro, onde foi encontrado um gorro que correspondia aos relatos feitos no primeiro ataque.

Os casos, identificados como crimes de ódio fruto dos relatos feitos pelas vítimas, estiveram a ser investigados pela PSP até sábado, quando, depois de uma manchete do Jornal de Notícias que descrevia os ataques, ganhou dimensão nacional. A Directoria do Porto da Polícia Judiciária pediu a remessa dos processos àquela força, já que havia suspeitas de crimes de ódio, que segundo a lei da organização da investigação criminal são da competência exclusiva da judiciária.

Fonte da PJ contactada já este domingo pelo PÚBLICO sublinha que as investigações estão no início e que, nesta altura, nenhuma tese está excluída, nomeadamente a hipótese de a invasão da casa ter sido um ajuste de contas com algum dos residentes. No entanto, na PSP, segundo o PÚBLICO apurou, a convicção que existe é que estes crimes tiveram uma motivação racista e não têm qualquer ligação com o descontentamento que existe na zona do Campo 24 de Agosto/Bonfim com um aparente aumento de furtos e roubos atribuídos a cidadãos magrebinos.

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