"Seria um desastre". EUA recusam apoiar ofensiva israelita em Rafah

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Na manhã de quinta-feira, Israel bombardeou partes de Rafah. Ibraheem Abu Mustafa - Reuters

Os Estados Unidos avisaram Israel que uma ofensiva militar em Rafah, no sul de Gaza, sem o devido planeamento seria um "desastre", recusando-se a apoiar essa ação. A cidade fronteiriça tem neste momento mais de um milhão de palestinianos concentrados, a maioria deles deslocados e sem outro lugar para onde fugir.

"Ainda não temos qualquer prova de planeamento sério para tal operação, mas realizá-la agora, sem planeamento e sem pensar numa área onde um milhão de pessoas estão abrigadas, seria um desastre", advertiu quinta-feira o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, em declarações aos jornalistas.

Questionado sobre para onde devem ir os refugiados em Rafah na eventualidade de uma operação militar, Patel respondeu que esta era “uma dúvida legítima à qual os israelitas devem responder”.

John Kirby, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, afirmou por sua vez que o exército israelita tem “uma obrigação especial de assegurar que, quando conduz operações nesse local ou em qualquer outro, tem em conta a proteção de vidas civis inocentes”.

"As operações militares neste momento seriam um desastre para essas pessoas e não as apoiamos", reforçou.

As declarações surgem horas depois de o exército israelita ter bombardeado Rafah, levando o próprio presidente Joe Biden a lançar uma rara crítica a Israel. "Penso que a resposta na Faixa de Gaza tem sido excessiva", considerou o líder da Casa Branca.
Na manhã de quinta-feira, Israel bombardeou partes de Rafah. Segundo o Crescente Vermelho palestiniano, três crianças morreram. Há também relatos não confirmados de tanques israelitas a abrirem fogo na cidade.
Após as operações terrestres na cidade de Gaza e na cidade Khan Younes, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou a preparação de uma ofensiva em Rafah, onde se encontram 1,3 milhões de palestinianos, na sua maioria deslocados pelos confrontos dos últimos meses.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, que concluiu na quinta-feira um périplo regional destinado a encorajar os esforços para alcançar uma trégua, instou Israel a "proteger" os civis nas suas operações em Gaza, incluindo em Rafah.

Também o secretário-geral da ONU disse estar "alarmado" com a ideia de uma operação terrestre em Rafah. "Tal ação iria agravar exponencialmente o atual pesadelo humanitário, cujas consequências regionais são já incalculáveis", escreveu António Guterres na rede social X.
Refugiados ponderam fugir para centro da Faixa
Rafah, sob controlo do Hamas, é o único lugar no enclave onde Israel ainda não terá entrado por terra. A cidade já foi, no entanto, palco de conflitos e violência, com Telavive a matar nesse local o chefe da polícia de Gaza.

Com cerca de 275 mil habitantes antes da guerra, Rafah quintuplicou a sua população com massas de pessoas deslocadas internamente que tiveram de sair do norte da Faixa e da própria Cidade de Gaza.

"Se houver uma operação militar em Rafah, a situação vai piorar devido à densidade populacional e de civis, haverá massacres", alertou à agência de notícias Efe Ahmed Rafiq Shahin, um palestiniano que, por enquanto, permanece na cidade, mas que tentará ir "para lugares mais seguros" no caso de uma ofensiva israelita.

Outro refugiado, Mohamed Hafza, contou que devido ao desespero muitos dos que se abrigam em Rafah estão a considerar retirar-se para o centro da Faixa de Gaza, onde existe uma passagem aparentemente viável pela rota costeira, para se dirigirem ao Egito.

A ofensiva de Israel, iniciada após um ataque do Hamas a 7 de outubro, provocou até ao momento mais de 27.800 mortos e 61.317 feridos na Faixa de Gaza, de acordo com dados do Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.

c/ agências

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