Sérvia. Novo governo sérvio quer aproximar-se da UE e manter boas relações com Rússia

2 semanas atrás 39

O executivo, chefiado pelo até agora ministro da Defesa e líder do Partido Progressista Sérvio (SNS), Milos Vucevic, teve o apoio de 152 deputados, enquanto 61 votaram contra, no final de um aceso debate de dois dias.

O SNS, partido do Presidente Aleksandar Vucic e no poder desde 2012, venceu as eleições de 17 de dezembro com uma maioria absoluta de 129 deputados, mas decidiu manter a coligação que tinha na anterior legislatura com o partido socialista, SPS.

O novo executivo tem 30 ministros com orientações políticas e ideológicas diversas, refletindo a política externa da Sérvia, candidata à adesão à UE mas com fortes e históricos laços com a Rússia.

Belgrado condenou a agressão russa contra a Ucrânia e defende a sua integridade territorial, mas não aplica sanções contra a Rússia.

Vucevic disse hoje aos deputados que "a adesão plena" à União Europeia (UE) continua a ser um "objetivo estratégico da Sérvia", acusando Bruxelas de impor critérios que, na sua opinião, são cada vez mais políticos.

Por outro lado, reiterou que Belgrado não tenciona impor sanções à Rússia e "não pode e não vai desistir" da amizade com a Rússia. A integração na UE continua a ser um "objetivo estratégico", afirmou Vucevic.

As "melhores relações possíveis" com os EUA também são do interesse da Sérvia, acrescentou Vucevic. "Acredito firmemente que as nossas relações podem voltar a ser de alto nível".

O analista de segurança e professor universitário de Belgrado Filip Ejdus descreveu a composição do novo governo como uma "reviravolta" destinada a enviar uma mensagem tanto ao Ocidente e à Rússia, como aos eleitores nacionais.

"Envia uma mensagem à UE de que não deve pressionar demasiado Belgrado em relação à democracia, ao Estado de Direito ou ao Kosovo, se quiser manter a Sérvia na sua órbita", disse Ejdus. "Simultaneamente, sinaliza a Moscovo a disponibilidade para reforçar a parceria estratégica com a Rússia".

Embora a maioria dos titulares seja pró-ocidental, dois ministros são muito próximos de Moscovo e estão sujeitos a sanções dos Estados Unidos da América: o vice-primeiro-ministro Aleksandar Vulin, antigo chefe dos serviços secretos, e o titular sem pasta Nenad Popovic.

Vulin demitiu-se do cargo de chefe dos serviços secretos em novembro, afirmando na ocasião que os EUA e a União Europeia exigiram a sua cabeça "para não imporem sanções à Sérvia". Os Estados Unidos impuseram sanções a Vulin em julho, acusando-o de envolvimento em carregamentos ilegais de armas, tráfico de droga e abuso de funções públicas.

Há muito que Vulin é um fervoroso defensor do chamado "mundo sérvio", ou seja, uma união de sérvios que vivem em diferentes países, o que, segundo os seus detractores, reflecte a ideia de um "mundo russo" defendida por Moscovo.

Já Popovic, um empresário e antigo ministro do governo, "utilizou as suas empresas sediadas na Rússia para enriquecer e obter ligações estreitas com os principais líderes do Kremlin", disse o Departamento do Tesouro norte-americano em novembro passado.

O novo ministro dos Negócios Estrangeiros será Marko Djuric, até agora embaixador da Sérvia nos EUA, que, segundo a imprensa sérvia, contribuiu para melhorar as relações da Sérvia com Washington.

Vucevic é presidente do SNS desde maio de 2023, sucedendo a Aleksandar Vucic, atual chefe de Estado e figura política dominante do país, que tem sido acusado pelos seus críticos de autoritarismo.

O primeiro-ministro, de 49 anos, foi presidente da Câmara de Novi Sad (norte do país), a segunda maior cidade da Sérvia, de 2012 a 2022, altura em que foi nomeado ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro.

As eleições de dezembro desencadearam um clima de tensão na Sérvia, com protestos populares e da oposição contra alegadas fraudes eleitorais, que o Governo nega.

Um dos principais desafios para o Governo sérvio é a normalização das relações com o Kosovo, uma antiga província sérvia que proclamou a independência em 2008, após a guerra do Kosovo (1998-99) e a repressão da população albanesa do Kosovo pelas autoridades jugoslavas (sérvias) nas décadas de 1980 e 1990.

A maioria dos países ocidentais, com algumas exceções, nomeadamente de cinco países da UE, reconhece a independência do Kosovo, que, por sua vez, é rejeitada pela Sérvia, com o apoio da Rússia e da China.

A normalização das relações entre Belgrado e Pristina, através de um diálogo apoiado por Bruxelas, é uma condição para que a Sérvia se aproxime da UE.

Vucevic anunciou que o seu governo fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir a entrada do Kosovo no Conselho da Europa e afirma que a minoria sérvia no país vizinho está a ser cada vez mais discriminada.

Ler artigo completo