Serviços secretos italianos alertam para campanhas híbridas da Rússia

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"Em 2024, 76 países do mundo, o equivalente a metade da população mundial, irão a votos, e há riscos de interferência e condicionamento dos processos eleitorais através da ameaça híbrida", alertou hoje a diretora do Departamento de Informações para a Segurança (DIS), Elisabetta Belloni, na apresentação do relatório anual dos serviços secretos italianos.

De acordo com o relatório, em 2023, "a Federação Russa e a República Popular da China confirmaram-se entre os principais atores de ameaças híbridas, capazes de conduzir campanhas contra os países ocidentais, explorando alguns dos elementos sistémicos que caracterizam as nossas sociedades, como os mercados abertos e as garantias de liberdade e independência dos meios de comunicação social", mas, segundo o mesmo documento, os principais alertas prendem-se com os ataques de Moscovo.

"Entre os dois atores (...), nesta fase histórica, a Rússia parece ser a mais ativa, entre outros fatores devido à continuação do conflito na Ucrânia, em apoio do qual alimenta campanhas multissetoriais, em detrimento de Itália e de todo o Ocidente", sustentaram os serviços secretos italianos, notando que, "no final de 2023, a eclosão do conflito entre Israel e o Hamas deu novo fôlego às iniciativas híbridas de Moscovo, com uma série de narrativas de desinformação a favor do povo palestiniano".

O relatório aponta que a Rússia faz uso de todo um "arsenal" para as suas campanhas híbridas, que incluem "espionagem, ciberataques, desinformação e exploração dos fluxos migratórios de forma desestabilizadora", acusando Moscovo de também ter tentado "impedir as iniciativas italianas e europeias de diversificação energética e a introdução de um preço máximo para o gás russo", com recurso a propaganda "destinada a poluir a informação do público em geral sobre a evolução dos preços da energia".

Segundo o DIS, os aparelhos de informações ligados ao Kremlin (presidência russa) continuaram a operar no domínio da desinformação para minar a coesão europeia e a confiança dos cidadãos nas instituições nacionais, da União Europeia (UE) e da Aliança Atlântica (NATO).

"As narrativas difundidas pelas campanhas de desinformação da Rússia dizem respeito à culpabilização da NATO e dos países ocidentais pela guerra na Ucrânia, à qual se junta, como novo elemento, o da guerra entre Israel e o Hamas", apontaram os serviços secretos de Roma.

Os serviços de informações italianos assumem que centram agora as suas atenções nos próximos acontecimentos que irão catalisar as campanhas de desinformação, designadamente as eleições europeias de junho, a presidência italiana do G7 (bloco das sete maiores economias mundiais) e a saída de Itália da Rota da Seda chinesa.

Relativamente à China, o relatório indica que Pequim utiliza alguns elementos da diáspora chinesa na UE para "recolher informações valiosas, implementar ações de pressão económica, penetrar e interferir no mundo académico e da investigação, conduzir operações cibernéticas hostis de forma mais eficaz, manipular informações para fins de propaganda e orientar a opinião pública europeia de forma favorável à China".

No entanto, o relatório do DIS assegura que "a Itália e, de um modo mais geral, os países ocidentais continuam a demonstrar um bom nível de resistência, tanto no que diz respeito ao condicionamento da opinião pública, como na frente económica e na proteção dos bens estratégicos".

Em relação às próximas eleições europeias, agendadas para os 27 Estados-membros da UE no período entre 06 e 09 de junho, Elisabetta Belloni sublinhou que o bloco comunitário está extremamente atento à questão da desinformação e garantiu que os serviços de informação italianos estão a trabalhar "em constante cooperação com os homólogos de outros países europeus".

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