Só S. Pedro trava as chamas

2 horas atrás 28

A meteorologia foi decisiva para acabar com o inferno dos fogos que na última semana deixou um rasto de morte e destruição na região Norte e Centro do País. Valha-nos S. Pedro, já que mais ninguém vale às pessoas desse país real, longe da vista de quem decide em Lisboa. Já não é só o Interior tradicionalmente deixado ao abandono vítima do flagelo, mas como se viu perto de Aveiro, núcleos urbanos importantes também ficam em risco. O primeiro-ministro prometeu mão dura para os incendiários, mas os crimes de pirómanos não são os principais causadores de ignições. Culpar mão criminosa é sempre a maneira mais fácil de apelar à emoção e escapar impune ao escrutínio.

A desertificação humana de vilas e aldeias e a não existência de uma atividade económica rentável facilitam a propagação das chamas. Há 40 anos, qualquer localidade do Interior era bordejada por hortas cuidadas, que impediam que os fogos alastrassem. Mas as pessoas que tratavam desses espaços desapareceram e os terrenos ficaram abandonados. Por isso aconteceu a tragédia de 2017, que agora quase se repetiu. Quando acontecem as tragédias, os políticos prometem mudanças, acenam com milhões, até há pessoas que apontam soluções imaginativas como as cabras sapadoras, mas depois vem o inverno, volta o caos na saúde, a crise nas escolas e na habitação, e os fogos só voltam a ser tema no verão seguinte. E aí volta o discurso bem-intencionado e as lágrimas de crocodilo do costume.

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