Solução de IA para diagnóstico de doença coronária vence Bolsa Cuf de investigação

7 meses atrás 79

Há muito mais numa imagem médica do que aquilo que os olhos humanos são capazes de percecionar. Enquanto um radiologista deteta a diferença entre zonas brancas, pretas ou cinzentas, um algoritmo bem treinado pode extrair muitas informações adicionais, a partir de uma análise quantitativa das imagens. Esta área médica, denominada radiómica, tem pouco mais de dez anos e começou por ser usada em oncologia. Mas pode ser estendida a outras especialidades médicas, com enorme benefício para o diagnóstico.

A cardiologista Joana Mâncio fez uma especialização na área da IA no MIT

Com um currículo invulgar, a cardiologista portuguesa Jennifer Mâncio, 41 anos, doutorou-se em imagiologia cardíaca, tendo-se especializado também em Inteligência Artificial no MIT. Atualmente divide a sua atividade profissional entre as consultas, a execução e análise de exames radiológicos e a assistência em enfermaria no Royal Brompton and Harefield Hospitals, em Londres, e a investigação. Nesta vertente, Jennifer quer aplicar a radiómica às imagens já captadas na prática clínica e pela aplicação de um sistema de IA detetar as diferenças entre doentes e identificar os doentes que não têm doença coronária.

A doença coronária é a principal causa de morte no mundo, sendo a dor torácica um dos motivos mais comuns de admissão nos serviços de urgência. Em caso de suspeita, está recomendada a realização de uma angiografia coronária por tomografia computadorizada (angio TC), um exame diferenciado que requer profissionais treinados e acreditados, que implica a administração de contraste iodado e dose acrescida de radiação ionizante, que permite visualizar artérias e veias. Nem todos os hospitais estão equipados com este tipo de máquina e há casos em que existe o equipamento, mas não os profissionais capazes de o operar e interpretar os resultados.

 Além disso, a realização deste exame exige a utilização de contraste e obriga à exposição do paciente a elevados níveis de radiação. A solução proposta pela médica e investigadora, e que acabou de receber a Bolsa Cuf D. Manuel de Mello, no valor de cem mil euros, permite chegar a uma conclusão a partir de uma TAC normal, poupando ao doente as emissões cancerígenas da angio TC e muitos euros ao SNS. E ainda, sublinha, “permite o acesso a este diagnóstico mais preciso a pacientes que vivem longe das grandes unidades de saúde”, sublinha a investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Se identificarmos estas pessoas [sem doença coronária] reduzimos risco, reduzimos a carga sobre o sistema de saúde e oferecemos alternativa aos centros que não têm angio TC

Jennifer Mâncio

“Em 900 pacientes acompanhados na cardiologia do Hospital de Gaia, 35% tinha artérias coronárias normais. Não é eticamente aceitável que sejam expostos a um risco de cancro [a radiação ionizante do angio TC] sem que retirem qualquer benefício da técnica”, defende. “Se identificarmos estas pessoas [sem doença coronária] reduzimos risco, reduzimos a carga sobre o sistema de saúde e oferecemos alternativa aos centros que não têm angio TC”. Isto tudo em apenas alguns segundos.

O financiamento obtido agora irá permitir contratar um aluno de doutoramento, da área da engenharia, e um aluno de mestrado, além de suportar o pedido de patente. Até que a solução possa chegar à prática clínica devem tardar cerca de três anos. Até lá, é preciso afinar a solução e validar o procedimento, de forma a garantir que nenhum paciente escapa ao ‘olho’ do algoritmo.   

Em comunicado, esclarece-se que a Bolsa CUF D. Manuel de Mello é uma bolsa de investigação bienal instituída, em 2007, pela Fundação Amélia de Mello e pela CUF, destinada a premiar jovens médicos, doutorados e afiliados a unidades de investigação de Faculdades de Medicina portuguesas, através do financiamento para os seus projetos. Já foram distinguidos trabalhos na área do Lúpus, Alzheimer, Esquizofrenia e Tuberculose. A cerimónia de atribuição da Bolsa CUF D. Manuel de Mello, decorre hoje, 30 de janeiro, pelas 11 horas, no Auditório do Hospital CUF Porto. O evento será presidido pela Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato.

Ler artigo completo