Sporting-FC Porto, 1-0 (crónica)

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O campeão aburguesou-se, mas não perdeu os princípios.

Vale a pena explicar: o Sporting venceu um clássico em que foi melhor. Muito melhor, aliás. Foi-o sobretudo porque tem mais talento na equipa e este jogo ainda é dos jogadores.

Por isso, porque tem mais talento e foi muito melhor, fartou-se de criar oportunidades claras de golo... e de as desperdiçar. Parecia uma equipa aburguesada perante tanta superioridade.

Mas, enfim, no meio disto tudo há algo que não perdeu. Os princípios, lá está. E foi num movimento clássico, um princípio básico do futebol leonino, que chegou ao golo que desbloqueou o resultado: Hjulmand lançou Gyokeres sobre o corredor, o sueco dominou a bola e esperou que Otávio batesse nele, ganhou vantagem, correu para a área e sofreu penálti.

É um princípio elementar desde a época passada e torna-se um pouco incompreensível perceber como Otávio caiu no erro de querer ganhar a bola. Está mais do que provado que é um passo cego para o abismo. Otávio, porém, parece não ter ainda percebido.

Inexplicável, de facto.

No entanto, houve mais clássico antes desse golo, e é por isso que é necessário sublinhar que Vítor Bruno é mesmo uma caixinha de surpresas.

Quem podia imaginar, por exemplo, que o treinador do FC Porto ia condenar aqueles que são provavelmente os dois jogadores mais talentosos da equipa a excessivas tarefas defensivas, para libertar outros menos óbvios?

Mas foi mesmo isso que aconteceu. O que por cerca de quinze minutos confundiu o Sporting.

Fala-se aqui, claro, de Galeno e Pepê. O primeiro entrou no jogo a perseguir Trincão por todo o lado, o que o obrigava a tornar-se uma espécie de central, cabendo a Pepê a tarefa de fechar o corredor lateral, no que muitas vezes se tornou uma linha de cinco na defesa.

O que é certo é que o Sporting não conseguia entrar na estrutura adversária. Enquanto isso, jogadores como Vasco Sousa ou Ivan Jaime tinham liberdade para se soltar e desequilibrar. O FC Porto teve, enfim, duas excelentes ocasiões de golo nessa fase, em remates de Vasco Sousa e numa finalização disparatada de Otávio.

Até que surgiu o talento de Gyökeres. O sueco foi lançado em profundidade, trabalhou até libertar Pedro Gonçalves na cara de Diogo Costa, o português assistiu Trincão e o esquerdino, com tudo para marcar, viu o golo ser evitado por Zé Pedro.

A jogada entusiasmou os adeptos, galvaniza a equipa e a partir daí o Sporting foi sempre a crescer, perante um FC Porto que não conseguia sair. Faltava à equipa portista, provavelmente, a experiência, a confiança e sobretudo o talento de Galeno e Pepê. Até porque há muita gente nova ali, muitos principiantes nestas andanças.

Sim, Ruben Amorim também foi muito melhor esta noite do que Vítor Bruno: o treinador do FC Porto cometeu erros e não teve arte para alterar o que estava mal.

Por isso o Sporting criou e desperdiçou uma mão cheia de enormes oportunidades. Só Trincão, por exemplo, teve três ocasiões. Gyökeres teve um outro golo certo que Varela tirou em cima da linha. E Pote ainda desviou de calcanhar a centímetros da baliza.

E o FC Porto? Bem, o FC Porto nada. Ou quase nada. Apenas um remate de Galeno, a obrigar Kovacevic a defender para canto. O que era muito pouco.

Depois do golo de Gyökeres, de resto, Vítor Bruno mudou logo quatro jogadores. Mas a equipa não melhorou com isso. Aliás, voltou a ser o Sporting a marcar, num golo fantástico de Geny Catamo já nos descontos.

Sejamos sinceros, o 2-0 assenta muito melhor ao que se passou em campo. Porque, para além dos números, a superioridade do Sporting foi cristalina. Como o talento de Gyokeres e a imaturidade de Otávio.

Ou até os equívocos de Vítor Bruno.

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