O rei leão foi dominador numa época onde os rivais falharam por incompetência e mau feitio. O Sporting correu sozinho para o título
Era uma questão de tempo até o Sporting ser campeão nacional, tal a superioridade evidenciada ao longo da época. Uma equipa que lidera desde a 13.ª jornada está ‘obrigada’ a ir ao Marquês de Pombal festejar com os adeptos. A viagem foi curta, mas demorada. Jogadores, equipa técnica, administração e respetivas famílias assistiram, em Alvalade, à derrota do Benfica, em Famalicão, e foi aí que começou a festa do título, desta vez sem limitações. A máscara imposta em 2020/21 por questões sanitárias caiu em desuso e surgiu uma nova máscara que os sportinguistas replicam com todo o gosto: o gesto de Gyökeres quando marca um golo. O avanço já prometeu: «Explicarei o meu festejo no final da época, depois da Taça de Portugal».
Puxando o filme atrás, tinha tudo para correr bem, e correu! O diretor desportivo Hugo Viana e o treinador Rúben Amorim fizeram um bom trabalho de casa durante a pré-época. Longe do mediatismo dos rivais, a estrutura do Sporting preparou a época com critério e foi competente a construir o plantel para 2023/24 – não é muito diferente da época anterior, em que ficou em 4.º lugar. Acertaram em cheio nas contratações de Viktor Gyökeres, a mais cara de sempre do clube (20+4 milhões de euros) e de Morten Hjulmand, que fez esquecer Ugarte e rendeu 60 milhões de euros aos leões. Estes dois reforços foram fundamentais no futebol positivo delineado pelo treinador.
Um aspeto igualmente importante foi a recuperação de Paulinho, que durante muito tempo era proscrito em Alvalade, mas que acabou por ser importante em vários momentos da época. Ao invés, a dispensa de jogadores de segundo plano, como Bellerín, Arthur Gomes, Fatawu, Jovane Cabral e Rochinha teve o condão de abrir espaço para o lançamento de jovens da academia.
Além disso, contou com um treinador motivador, que criou um forte espírito de equipa no balneário.
Este foi o sexto título conquistado pelo presidente Frederico Varandas (dois campeonatos, uma Taça de Portugal, duas Taças da Liga e uma Supertaça) e, caso vença o FC Porto na final da Taça de Portugal, a 26 de maio, iguala o histórico presidente João Rocha. De salientar que há 11 jogadores do plantel atual que tinham sido campeões há três anos.
Os rivais fizeram tudo ao contrário do Sporting e os resultados estão à vista. No início da época pensava-se que depois do Benfica era o dilúvio. Com um investimento superior a 105 milhões de euros e dois campeões do mundo no plantel, os holofotes recaíam sobre os encarnados, foram semanas seguidas a falar de novos jogadores… para uma época falhada por falta de qualidade dos reforços e erros de avaliação do treinador Roger Schmidt.
Quanto ao FC Porto, cedo se percebeu que o plantel não tinha mentalidade, basta ver os casos de indisciplina e o número de cartões amarelos e vermelhos, nem qualidade para lutar pelo título. Também aqui as contratações não trouxeram qualquer mais-valia à equipa.
Posto isto, podemos dizer que houve Sporting a mais para águias e dragões demasiados frágeis.
A equipa de Rúben Amorim apresentou sempre um futebol de qualidade e uma ideia de jogo sólida, assente em boas dinâmicas defensivas e ofensivas. Tirando o jogo na Luz, onde perdeu (1-2) nos descontos, nunca se viu a equipa desorganizada ou perdida em campo. Os resultados não deixam dúvidas.
Futebol positivo
O Sporting lidera o campeonato desde a 13.ª jornada, tem 27 vitórias, duas derrotas e três empates. Tem, de longe, o melhor ataque, com 92 golos, e a terceira melhor defesa, com 29 golos sofridos. Marcou em todas as partidas e em 44% dos jogos não sofreu qualquer golo. Esteve 19 jogos sem perder, conseguiu uma série de oito vitórias consecutivas por duas vezes e ganhou os 16 jogos disputados em casa. Estes números mostram o quão é merecida a vitória no campeonato.
O Sporting foi superior aos rivais nos confrontos diretos (só perdeu na Luz e em Guimarães), e nos jogos contra equipas de menor dimensão foi quase sempre arrasador. A evolução foi de tal forma significativa que à 32.ª jornada tem mais 10 pontos do que no final da época passada à 34.ª jornada.
Há outros dados curiosos na época dos leões. Gyökeres é o leão com mais minutos em campo (2.986), é o melhor marcador da liga com 27 golos em 31 jogos e o segundo melhor em assistências para golo: 11 em 31 jogos. Estes valores mostram a importância do sueco no futebol ofensivo do Sporting.
Rúben Amorim estava eufórico quando falou aos adeptos: «Disseram que só ganhávamos campeonatos de 18 em 18 anos e que jamais seremos bicampeões outra vez, vamos ver!», disse em tom desafiador, concluindo a ideia: «Tenho contrato e sou treinador do Sporting». Caso consiga o bicampeonato em 2024/25, o Sporting quebra um jejum de 70 anos.
Amorim é muito hábil a comunicar, mas não domina tudo, e as notícias vinda de Inglaterra colocam-no no radar do Manchester Unitd. Na festa do título houve quem tivesse pedido para continuar, como foi o caso do capitão Coates.
Faltam duas jornadas para o fim do campeonanto e Amorim não desarma: «Vamos atrás de tudo». E o tudo é chegar aos 100 golos (faltam oito), atingir os 90 pontos (tem 84) e dar a Gyökeres a Bota de Ouro, prémio que distingue o melhor marcador da primeira liga.