A biodiversidade está na lista das 12 tendências para 2024 do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. Na conferência anual do BCSD Portugal, especialistas comungam da perspetiva que é preciso ir além do carbono e começar a integrar efetivamente a biodiversidade nas estratégias de negócio das empresas.
Será 2024 o ano da integração da biodiversidade na tomada de decisão? Em rigor, a pergunta só terá resposta no final do ano, mas Alice Khouri, advogada, fundadora da Women in ESG, torce para que aconteça. “Oxalá!” — declara ao intervir na tradicional conferência anual do BCSD Portugal – Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, organismo que agrega e representa empresas que se comprometem com a sustentabilidade e tem como presidente por António Pires de Lima.
Para Alice Khouri, o passo seguinte no caminho para a sustentabilidade é ir além do carbono e isso implica tirar a biodiversidade do papel e colocá-la ativamente na equação da ação.
”O salto que temos que dar é começar a ver a biodiversidade como uma infraestrutura. E como acontece com toda a infraestrutura, é necessário direcionar para esta esforços, recursos e fazer a operação de manutenção”, adianta.
Maria João Coelho, head of Sustainability Knowledge do BCSD Portugal, a anfitriã, diz, a propósito, que se assiste atualmente a uma cada vez maior “integração da biodiversidade nas estratégias de negócio e nas decisões de investimento” das empresas. Dá como exemplo as soluções baseadas na natureza, a bioeconomia, os modelos regenerativos nessa perspetiva de causar impacto positivo na natureza e travar a perda de biodiversidade. E aponta o exemplo do sector financeiro que introduz “a biodiversidade como um dos critérios ESG quando toma decisões de investimento”.
No grupo das tendências para este ano, Maria João Coelho salienta a descarbonização, a transição energética e a trajetória netzero, o cálculo da pegada de carbono, as competências verdes. Sobre este último tema, cita dados recentes de um estudo do Linkedin, segundo o qual o salário da contratação de trabalhadores que tenham pelo menos uma competência verde é 29% superior à média da força de trabalho.
“Cadeia de valor, procurement sustentável e dever de diligência”, é outra tendência para 2024 adianta a head of Sustainability Knowledge do BCSD Portugal, em linha com Filipa Newton, engenheira do Ambiente, CEO & CNEW da Infinite.ε consulting.
“Se nós não mudarmos com a nossa ação o impacto global das geografias dos nossos fornecedores na cadeia de valor, estaremos a fazer pouco”, afirma.
Na Agenda da sustentabilidade, a Europa vai à frente na decisão, nas políticas, nas conquistas, mas integra o todo que é o planeta. Na cadeia de valor, diz Filipa Newton, temos sobretudo de olhar para os mercados emergentes da Ásia, olhar para a Índia e para a China. “Uma grande parte dos nossos fornecedores e uma grande parte das nossas importações mesmo de matérias primas ou de materiais que depois integramos nos nossos produtos e serviços e na nossa cadeia de valor vem dessas geografias. Só há uma forma de atacar o problema. “Temos de escalar para um impacto global”, propõe.
Filipa NewtonOs critérios ESG, sigla de Environmental, Social, Corporate Governance ou, na tradução portuguesa, Ambiental, Social e Governança, começaram por ser uma resposta à necessidade de cumprir regulamentações e gestão de riscos. Em 2024, estes critérios deixam de ser opcionais e passam a ser elementos basilares da estratégia de gestão corporativa orientada para a criação de valor, promovendo uma mudança paradigmática e consistente na atividade empresarial, independentemente da sua dimensão ou setor.
A Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativa, a famosa Diretiva CSRD, que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2024, vai impactar praticamente todas as pequenas e médias empresas, quando todas as grandes empresas, cotadas e não cotadas, que são os seus clientes, tiverem de publicar anualmente o relatório único de gestão que inclui uma secção sobre sustentabilidade. Significa que vão ter critérios próprios de sustentabilidade para selecionar os seus fornecedores.
Tanto Alice Khouri, como Maria João Coelho e Filipa Newton partilham a perspetiva que a Directiva CSRD “trará certamente maior transparência” e contribuirá para implementar melhores sistemas de informação e comunicação.