Talvez Aguiar-Branco seja um Jedi

2 semanas atrás 45

José Pedro Aguiar-Branco fez mais como presidente da Assembleia da República em três semanas do que Augusto Santos Silva em três anos. Afirmo-o por três razões: pela respeitabilidade com que ocupou o lugar, sem soberba e a arrogância de se achar acima dos outros; pelo equilíbrio no modo como encontrou um caminho que, não ostracizando partidos, marcou linhas vermelhas; pelo respeito da memória nas comemorações do 25 de Abril, o que me surpreendeu pela diferença para com todos os que discursaram – com exceção do magnífico texto de Rui Tavares.

No primeiro ponto, Aguiar-Branco soube baixar a tensão num parlamento mais polarizado do que nunca. No dia da sua tomada de posse citou Miguel Veiga, que adorava dizer que a riqueza da democracia era precisamente a sua fragilidade. Definiu nessa frase luminosa e certeira a diferença entre os verdadeiros democratas e os extremistas que a tentam destruir.

No segundo ponto, propôs novas práticas no Parlamento – com destaque para a possibilidade de o presidente desligar o som do microfone quando se ultrapassa o tempo. Com exceção do Chega todos os grupos parlamentares aprovaram a proposta. Uma ideia tão ardilosa que obrigou André Ventura a desistir de argumentar por se arriscar ao ridículo. E, surpreendentemente, propôs a chamada da Procuradora-Geral da República ao Parlamento, o que marcou a agenda política.

No terceiro ponto, provou uma autonomia de pensamento que me tranquiliza em relação ao futuro. Recordou o papel decisivo de Mário Soares, tanto no 25 de Abril como no 25 de Novembro, e lembrou os quatro jovens portugueses que perderam a vida no dia da liberdade, quando tinham saído à rua para festejar o primeiro dia do resto das suas vidas.

Aguiar-Branco dificilmente fará dois anos como presidente da Assembleia da República, mas neste tempo de facas aguçadas, crispação, ressentimento e estupidez, ouvi-lo está longe de ser um pormenor. De repente, ouvir um tipo razoável, equilibrado e inteligente assemelha-se a um oásis na enorme secura em que nos estamos a transformar.

Se o povo na rua no dia 25 de Abril revelou uma vontade de não desistir de uma ideia de bem, o presidente da Assembleia da República mostra que devemos ter esperança de que o PSD não seja tomado de assalto pelas tropas do Imperador Palpatine e do seu fiel Darth Vader. Talvez Aguiar-Branco seja um Jedi.

Ler artigo completo